1. Já há muito tempo que ando a burilar a ideia de organizar um jantar-conferência Km0. O Km Zero é um conceito que corresponde à defesa de um consumo sustentável, valorizando os produtos locais. Conheci a iniciativa em Évora, através de um colega. Talvez esse evento se possa concretizar lá para finais de janeiro, patrocinado pelo Conselho da Cidade. Defender os produtos locais com esta iniciativa, não corresponde a um protecionismo chauvinista determinado por meras razões comerciais à moda de Trump, mas a uma atitude civicamente responsável pensando na nossa pegada ecológica e no tema das alterações climáticas. Não se justifica suportar elevados consumos energéticos de transporte de milhares de quilómetros de maçãs Fiji da China ou de pêssegos do Paraguai, quando temos localmente excelentes frutas equivalentes ou, de certeza, melhores. Não será difícil organizar um jantar só com produtos locais: robalo pescado à linha na Foz do Arelho, enguias ou bivalves da Lagoa, ou talvez um galo “pica na areia”, um caldo verde com couves da horta e chouriço de Salir de Matos, batatas dos pequenos produtores vendidas na Praça da Fruta, maçãs de Alvorninha, e, para rematar, talvez cavacas e trouxas de ovos das Caldas. E água do Arieiro ou da nascente da Matoeira. Ou vinho das Gaeiras…
Defesa de valores. Km-zero! (E não polícias-zero, em tristes manifestações com laivos racistas que só desvalorizam a real necessidade de rever as condições de trabalho de uma classe efetivamente mal paga.)
2. O Teatro da Rainha levou à cena uma peça de Michel Vinaver, “O pedido de emprego”. O texto é poderoso e a interpretação e a encenação valorizam-no. Aborda o tema do emprego através duma pesada entrevista que esmaga o entrevistado, a personalidade, o indivíduo. E também o quotidiano de uma família de classe média, a insegurança, o mercado de trabalho triturador, a força das grandes empresas, a trama familiar, os arcaísmos relacionais, o machismo, a adolescência incompreendida, o racismo, os vícios de consumo, o aborto, os sonhos da juventude, a luta por um mundo melhor. Está lá tudo! Cada um que faça a sua reflexão e defenda os seus valores…
3. O 21 às 21 acabou. Nesta última sessão Rui Moreira falou de” Os deveres da ética” e da democracia, liberdade e intervenção cívica. Belo tema, ainda que tenha faltado alguma substância. Tenho pena que tenha acabado esta bela iniciativa realizada durante 10 anos em Caldas da Rainha. Quereria rebobinar o tempo, voltar para trás, assistir a muitos debates interessantes a que não assisti. E foram tantos, com excelentes conferencistas. Mais de cem! Todos organizados pela equipa liderada por Teresa Serrenho, que está de parabéns por todo o trabalho cívico realizado. Mas como disse a sua filha Teresa, dirigindo-se particularmente aos jovens presentes, ficaram sementes. Tenhamos fé na força de uma juventude inquieta e desejosa de um futuro melhor para todos. Mais sustentável, mais justo e com valores!
António Curado
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