Marcadas para 5 de Setembro, as eleições dos socialistas do distrito de Leiria para escolher o seu líder, serão disputadas por José Miguel Medeiros e António Sales. O primeiro é apoiante de António Costa e o segundo de José Seguro.
No entanto, não é líquido que as duas candidaturas espelhem as duas tendências que existem hoje no PS em relação ao futuro secretário-geral. A candidatura de António Sales reúne destacados militantes que simpatizam com Seguro e outros com Costa. Já a candidatura de José Miguel Medeiros é maioritariamente apoiada por simpatizantes de António Costa.
Para uma visão mais caldense a estas eleições distritais (os partidos continuam agarrados à lógica dos distritos, apesar de haver alguns que têm delegações em que a unidade territorial é o Oeste), Gazeta das Caldas apresenta nesta edição um texto de Lacerda Fonseca e outro de Jorge Sobral, de apoio, respectivamente a António Sales e José Miguel Medeiros.
C.C.
A desilusão da política e o que está para vir
Nunca a política teve tão pouca credibilidade no mundo moderno. A minha opinião pessoal é que essa falta de credibilidade se deve, fundamentalmente, a dois fatores. Primeiro que tudo temos de considerar a degradação da ética. As sociedades apresentam ciclos de crescimento e esperança, entrecortados por períodos de decadência. Tudo indica que nos encontramos num período negativo. As ideologias enfraqueceram a força mobilizadora das religiões. Por sua vez, as ideologias adulteraram-se em contacto com o exercício do poder e acabaram por desvanecer-se. Com estas fontes éticas enfraquecidas e numa sociedade de grande mudança, os valores morais perderam o seu imperativo. Em quantas decisões, estratégicas e quotidianas, ainda o nosso pensamento se debate com os valores éticos, de forma a definir as nossas opções? A ética vai sendo substituída pelo cálculo egoísta, pelas preocupações estéticas e pela moda, pela “ideologia” do sucesso e da vitória (como tão bem expressou a publicação da Unesco – O Futuro dos Valores). Ora, sem ética não haveria sociedade, pela simples razão que não podemos colocar um polícia e um filósofo moral a vigiar cada cidadão. Sem confiança, mútua e nas instituições, a sociedade tornar-se-ia um campo de guerra e de feroz egoísmo, sendo que nenhuma norma, acordo, contrato, honra ou palavra valeria nas consciências. Infelizmente, em momentos como este que vivemos, as sociedades ficam mais próximas desse extremo negativo, de destruição da economia e da sociedade em geral. Contudo, creio que as filosofias e culturas morais do próximo ciclo de renascimento já existem, não sendo, ainda, do conhecimento público. Se os novos rumos já estão à vista, de alguns estudiosos e líderes éticos, o facto é que nos encontramos, ainda, em fase de decadência acentuada. Por tudo isto, o desinteresse do cidadão pelos bens comuns, a corrupção e a promiscuidade entre política e negócios, assumem dimensões graves. Falar de ética e trazer estas preocupações para os programas políticos é, portanto, imprescindível. Tal constitui, aliás, tarefa sem a qual Portugal não conseguirá ultrapassar a presente crise orçamental, já que esta exige soluções de total honestidade, mobilização cívica e prioridade do interesse social.
A outra razão que me parece descredibilizar a política prende-se com a desadequação entre o centralismo das democracias e a complexidade e velocidade das sociedades modernas. Será que o eleitor sabe avaliar a qualidade das políticas e os seus efeitos a longo prazo, no caso de políticas complexas como as da investigação, educação, saúde, ambiente, energia e várias outras? Será que sabe discernir entre o que é da responsabilidade dos governos ou, pelo contrário, se deve a movimentos e instâncias internacionais? Será que quando votamos estamos a votar sobre tudo, sem saber quase nada da maioria dos assuntos? Desde os anos sessenta do século passado, este tipo de inquietações dão corpo às investigações, estudos e novas formas de democracia a que se convencionou chamar democracia deliberativa. O atual Secretário Geral do Partido Socialista, António José Seguro, lançou, logo no início do seu mandato, o projeto LIPP (Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal). Este projeto é uma, exemplar, iniciativa de democracia deliberativa e participativa, permitindo a todos os militantes e simpatizantes intervirem, em grupos de trabalho, especializados por cada tema, de forma a decidirem com conhecimento de causa. Em termos mais globais, este tipo de caminho que é o da decisão e votação verdadeiramente informadas, constitui a via crucial para a reforma do sistema político. Pela sua inovação e abrangência, o projeto LIPP exige tempo para vir a funcionar em pleno, no partido e na sociedade. Importa persistir. A falta de continuidade, o imediatismo que dispensa a cultura e o verdadeiro estudo, bem como o, consequente, culto da personalidade, são alguns dos erros que têm penalizado as sociedades.
Porque sei que o António Lacerda Sales compreende estas prioridades de renovação e as inscreveu na sua moção, apoio a sua candidatura à Federação Distrital de Leiria, do Partido Socialista. Acredito, também, que a grande maioria dos socialistas e dos portugueses, incluindo os seus atuais adversários, irão compreender que estas temáticas são prioritárias e que o país e o partido se unirão para renovar o mundo da política. Quando o pessimismo é grande, cada dia exige ativa fé.
José Nuno Lacerda Fonseca
Dar força ao PS, dar voz à região!
Este é um momento de grande exigência para o Partido Socialista. Cada atitude que possamos tomar, revela-se de importância primordial.
O PS apresenta-se, actualmente aos portugueses, com traços do que de pior há na vida partidária.
As notícias veiculadas pela imprensa preocupam os socialistas e os portugueses em geral.
Acusações de manipulação de dados, inscrições fraudulentas, ressuscitação de votantes, atropelos constantes a normas organizacionais, enfim, um descrédito que se vai acentuando, numa espiral que advogo perigosa.
O caminho escolhido pela actual direcção nacional, de abdicar do debate democrático interno, numa fuga aos valores e princípios, caminha no sentido do acréscimo dessa espiral.
Este trajecto ajuda a engrossar as opiniões negativas que os portugueses têm da vida dos partidos e do seu papel na sociedade.
O que deve fazer um militante na minha opinião para que cheguem aos órgãos dirigentes, socialistas com provas dadas na defesa do socialismo democrático..
Militantes que tragam consigo os princípios programáticos inscritos com anos de trabalho na defesa dos mais fracos, dos mais desprotegidos, na criação de condições para que a igualdade de direitos seja uma realidade.
Mais que uma vez chamei a atenção para a monotonia instalada, a incapacidade de sentir e defender o sofrimento dos portugueses.
Fomos permitindo que o governo mais violento que tivemos nos pós 25 de Abril, anulasse muitas das mais importantes conquistas dos portugueses.
Face a esta passividade, patente nas as abstenções violentas, o PS desperdiçou a vontade do Povo demonstrada na rua.
O resultado foi não merecermos que esse descontentamento viesse no nosso caminho, tendo obtido um resultado eleitoral de Pirro.
No distrito vamos eleger um novo Presidente para a Federação do Partido Socialista.
Por tudo o que disse, continuo à procura da esquerda dentro do PS, pois acredito num PS diferente dos partidos de direita, num partido que não se deixe enredar no sonho capitalista, e que lute na derrota do princípio de que o mercado é o único factor que comanda a economia.
Vou apoiar o candidato José Miguel Medeiros, por se tratar de um militante que representa hoje, o PS que olha para o distrito como um todo, e que está disponível para entender e respeitar a diversidade dos concelhos, assim como as suas ligações sociais e económicas.
Alguém que entende que o distrito é mais que área Leiria/M.Grande.
Reconheço no passado politico do camarada José Miguel Medeiros, a defesa desses interesses.
A sua passagem pela Federação, Assembleia da República, Governo Civil e Secretaria de Estado, demonstraram bem esse seu apego ao distrito.
O Mandatário Concelhio
Jorge Sobral