Pequeno almoço empresarial serviu para apresentar programa que quer dar melhores condições a estas empresas para aumentarem a resiliência
A AIRO – Associação Empresarial da Região Oeste, realizou no passado dia 22 de janeiro a segunda edição do pequeno almoço empresarial, no Museu do Vinho, em Alcobaça. Na sessão, Jorge Barosa, presidente da associação, apresentou uma nova área de ação da AIRO no apoio às empresas familiares, que têm atualmente uma taxa de mortalidade de 70%.
Jorge Barosa indicou que as empresas familiares têm hoje uma representatividade de 75% do tecido empresarial nacional, contribuem para 50% do emprego e 65% PIB, “mas têm uma mortalidade de 70%, o que é muito grave e é um alerta que quero deixar, porque é um número muito grande para não olharmos para ele”.
Ainda segundo o dirigente, as empresas familiares encerram, em média, ao fim de 10,7 anos. “30% das empresas familiares sobrevivem à segunda geração, só 12% chegam à terceira e 3% atingem a quarta”, continuou.
As principais razões para a mortalidade das empresas familiares são a falta de planeamento sucessório, conflitos familiares, a adaptação insuficiente às mudanças do mercado, assim como a dependência de um número reduzido de clientes ou mercados.
São estes números que a AIRO pretende inverter com a nova área de ação que irá iniciar ainda este ano, através de um conjunto de serviços.
“Pretendemos ter o primeiro workshop já no mês de março, com o objetivo de trazer ferramentas para preparar sucesso das empresas familiares, com envolvimento de consultores e mediadores externos, porque muitas vezes é mais fácil alguém externo dizer à família o que está a fazer mal”, adiantou Jorge Barosa.
Entre essas ferramentas estão a gestão de conflitos familiares, com técnicas de mediação de conflitos, reuniões regulares para partilhar ambições e objetivos, assim como formações e profissionalização da gestão, para a introdução de práticas de gestão modernas nas empresas.
“Temos que trabalhar para reduzir estes números, porque não queremos empresas de sucesso hoje para fecharem amanhã”, disse o presidente da AIRO, salientando a importância de combinar a tradição e a inovação “para garantir a sustentabilidade e reforçar o papel das empresas familiares no tecido económico”.
Tal como na primeira edição, que teve lugar há cerca de um ano em Óbidos, a AIRO convidou o economista Luís Correia Duque para apresentar as suas expectativas macroeconómicas para 2025, tanto a nível nacional, como internacional.
Luís Correia Duque começou por referir que, desde que começou a haver disciplina orçamental em Portugal tem sido possível cumprir os limites de défice e contas públicas impostos pela União Europeia. Nos últimos anos, sobretudo após a pandemia, o crescimento nacional tem sido inferior à média europeia, 1,6% em Portugal para 1,9% da UE, mas alargando a um prazo a 10 anos a economia nacional tem convergido para essa média.
Luís Correia Duque realçou que o investimento é uma das áreas fundamentais para aumentar a agilidade das economias e sublinhou a importância dos jovens neste contexto. “Os mais velhos são mais conservadores e arriscam menos que os mais novos, na área empresarial é preciso dar espaço aos mais novos para arriscar e errar, isso é muito importante”, afirmou.
Em 2024, as estimativas para o crescimento do PIB nacional são de 1,8%. Luís Correia Duque explicou que isso se deveu a um crescimento do consumo provado mais acelerado que o esperado, o que se conjugou com o aumento das importações e das exportações. Por outro lado, o investimento foi bastante abaixo do esperado, muito por conta dos atrasos na concretização do PRR, “por um lado porque muitos desses investimentos são públicos e estavam à espera de financiamento, por outro devido à instabilidade política”, justificou.
O economista disse que, para Portugal atingir o nível médio da economia europeia, precisava de crescer cerca de 3% ao ano durante 10 anos, mas para isso seria necessário “mais investimento na produção”.
Para este ano, Luís Correia Duque acredita que o PIB irá crescer entre 1,9 e 2,4%. Depois de um 2024 que deverá ter excedente orçamental, apesar do aumento da despesa do Estado, o economista disse que a dívida pública, que há uns anos era impensável que pudesse recuar, pode baixar da casa dos 90% do PIB. “Isto é muito importante, porque custo da dívida do Estado acompanha o custo do dinheiro para as empresas”.
As previsões para este ano ainda indicam que a inflação estará estabilizada na casa dos 2%, mas o cenário da redução das taxas de juro será mais comedido, podendo acontecer apenas a partir da segunda metade do ano.
Outro dado que pode ter influência na economia é a desvalorização do euro face ao dólar. No final do ano a moeda norte-americana poderá mesmo valer mais do que a europeia. Já a taxa de desemprego deverá manter-se, segundo o professor catedrático do ISEG, na casa dos 6%.
Numa sessão que decorreu no Museu do Vinho de Alcobaça, o anfitrião Hermínio Rodrigues, presidente da Câmara de Alcobaça, destacou a dinâmica das empresas do concelho, que se destacam no panorama da região entre as maiores empresas, as PME Excelência e cujo potencial produtivo faz do concelho um dos poucos com saldo positivo na balança comercial.
O autarca alcobacense, que destacou a recente aprovação do alargamento da Zona Industrial de Pataias e a abertura da venda de lotes na Área de Localização Empresarial da Benedita, salientou também a criação de condições no concelho ao nível da formação e investigação, com a criação do Alcobaça HUB. Esta valência, que junta ao município a Universidade de Coimbra, o Politécnico de Santarém, a EPADRC e o INIAV.
“Queremos construir um campus de investigação e experimentação na área agrícola, gastronómica e tecnológica”, disse, acrescentando que este campus pode significar “a continuidade do sucesso económico e financeiro do concelho de Alcobaça”. ■