Decisão de encerrar o Hospital Termal foi “puramente técnica” diz delegado de Saúde

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Notícias das Caldas O Delegado de Saúde das Caldas da Rainha, Jorge Nunes, garantiu à Gazeta das Caldas que a decisão de encerrar o Hospital Termal foi “puramente técnica” e por isso considera “infeliz” que se fale em chantagem por parte do Ministério da Saúde.
“As Autoridades de Saúde não são órgãos dependentes da Administração Regional de Saúde. São órgãos autónomos”, explicou. O Delegado de Saúde depende hierarquicamente da Direcção-Geral de Saúde e não da ARS-LVT. Uma explicação que acaba por pôr em causa também os termos da petição apresentada pelo PSD na reunião da Assembleia Municipal de 23 de Abril, a qual foi aprovada por todos os partidos e circula agora na Internet, onde se exige a demissão do presidente da ARS-LVT.
Segundo o Delegado de Saúde das Caldas, nos últimos dois anos a situação do Hospital Termal e das contaminações microbiológicas têm vindo a agravar-se por não terem sido feitas as intervenções que se exigiriam.

Nas outras situações em que surgiam contaminações bacteriológicas, nas vistorias que a Autoridade de Saúde realizava, detectavam-se as prováveis causas da infecção e esses problemas eram resolvidos.
Na vistoria que resultou do último encerramento, realizada em 28 de Março, não foi possível apurar as possíveis causas dos resultados positivos nas análises. “Nem o engenheiro sanitarista que participou da vistoria, uma pessoa habilitada e com muita experiência nesta matéria, conseguiu detectar a causa da contaminação”.
Uma causa possível poderá ter sido o material em politieno que foi utilizado na ligação do furo à canalização e que, segundo alguns especialistas, é passível de permitir contaminações. Jorge Nunes não o nega, mas ressalva que até que seja feito o diagnóstico, “tudo isto são especulações”.
Segundo Jorge Nunes, também não é normal que três meses depois de serem feitas intervenções para reabrir o Hospital Termal, surjam novas contaminações.
“Nos últimos dois anos, o Hospital Termal não teve mais do que alguns meses abertos sem precisar de encerrar. Ninguém quer isso”, comentou.
O Delegado de Saúde recordou que houve uma administração anterior, presidida por Vasco Trancoso, que fez intervenções profundas na canalização e conseguiu resultados, evitando novos encerramentos por contaminação. “Na altura fez-se uma intervenção a partir de um diagnóstico e é isso que nós queremos agora também”, revelou.
Este responsável informou ainda que desde que o Hospital Termal foi encerrado, a 6 de Março, todas as análises realizadas “deram problemas bacteriológicos”. Algo que considera muito anormal tendo em conta todos os tratamentos feitos à água com cloro e altas temperaturas (na canalização em inox).
Ao contrário do que foi afirmado pelo presidente do CHO, Carlos Sá numa conferência de imprensa, as obras necessárias para resolver os problemas bacteriológicos do Hospital Termal, não implicam necessariamente um investimento de 500 mil euros. Pode ser um montante inferior.
O CHO terá é que demonstrar que foram implementadas as medidas correctivas necessárias e todas as análises realizadas demonstrem que a água está própria. “Das outras vezes também demorou quatro ou cinco meses para resolver o problema”, lembrou o Delegado de Saúde.
“Nós temos um Departamento de Engenharia Sanitária e poderemos dar algum aconselhamento, mas o diagnóstico tem de ser feito pelo gestor do estabelecimento com técnicos credenciados para o efeito”, referiu Jorge Nunes.
Doença dos Legionários tem 15% de mortalidade
Jorge Nunes salienta que as bactérias em causa podem provocar doenças do foro respiratório, principalmente tendo em conta que os utentes das termas caldenses fazem inalações e duches de Vichy (em que inspiram o vapor da água).
“A Doença dos Legionários tem 15% de mortalidade, ou seja, 15% das pessoas que sejam infectadas com a Legionella acabam por falecer”, sublinhou. Uma média que pode aumentar entre idosos e outras pessoas com factor de risco, como é o caso de quem sofre de doenças respiratórias e procura as termas.
É por causa disto tudo que o Delegado de Saúde Regional, numa decisão partilhada por Jorge Nunes, enviou ao CHO uma notificação para que seja feito um diagnóstico de todo o sistema de água do Hospital Termal a fim de serem implementadas medidas correctivas. “Detectou-se um risco elevado de ordem ambiental, de natureza microbiológico, que nos levou a concluir que os utilizadores do Hospital Termal e os próprios trabalhadores tinham um risco elevado de contrair doenças”, explicou Jorge Nunes.
Como caldense, este técnico também tem a sua opinião pessoal sobre o Hospital Termal, mas garante que o único objectivo da Autoridade de Saúde “é proteger a saúde das pessoas”.
Jorge Nunes esclarece que, ao contrário de alguns autarcas afirmam, os procedimentos para o Hospital Termal são iguais para qualquer estabelecimento termal. “Existe um programa de controlo de qualidade da água que é feito anualmente pelo Director-Geral da Saúde, aplicado a todos os estabelecimentos termais do país” onde estão definidos todos os procedimentos necessários. Os critérios, como por exemplo a realização de três análises de 15 em 15 dias, são definidos “e nós temos que os seguir”.
Há casos conhecidos de outras termas encerradas por causa de problemas com bactérias. As Termas da Piedade, em Alcobaça, encerraram por causa da Legionella e só reabriraram enquanto Spa. As termas do Complexo do Estoril também têm um problema com bactérias, mesmo depois de um avultado investimento, e estão encerradas.
O Delegado de Saúde das Caldas adiantou ainda que ao nível do Agrupamento de Centros de Saúde do Oeste Norte existe um sistema de vigilância de todas as piscinas de utilização pública. “Não só as piscinas públicas, mas também as que são utilizados pelo público em geral, como as dos hotéis”, explicou. “Tem havido casos em que é suspensa a actividade de piscinas, como acontece no Hospital Termal”. Mas isso não tem vindo ao conhecimento público. P.A.