António Monteiro, de 51 anos, está a cumprir o primeiro mandato como presidente da Junta de Freguesia de A-dos-Francos, depois de já ter sido presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia. Nestes dois anos tem conseguido cumprir boa parte do programa eleitoral, com destaque para os melhoramentos na escola primária e a reformulação do edifício da própria Junta, cuja obra está prestes a iniciar e vai permitir a criação de um Posto de Apoio ao Cidadão. O autarca refere a importância das colectividades numa freguesia em que a população é maioritariamente idosa. Do ponto de vista económico, a agricultura é a grande alavanca, mas o edil refere que era importante rever o Plano Director Municipal (PDM) para permitir investimentos. A freguesia tem uma área de 18,73 km2 e 1.701 habitantes, segundo o Censos 2011.
GAZETA DAS CALDAS: Estamos sensivelmente a meio da legislatura. Quais as promessas eleitorais que já cumpriu neste mandato?
ANTÓNIO MONTEIRO: Tinha um programa eleitoral bastante vasto. Uma parte já fiz. Com certeza não conseguirei fazer tudo o que me propus, até porque os valores do orçamento da Junta não o vão permitir. Mas estou atento a todas as necessidades da freguesia e algumas das situações que estão no programa vão aguardando porque surgem outras inesperadamente e que, por serem mais urgentes, temos que lhes dar prioridade.
GC: Pode citar algumas das coisas que já fez?
AM: Uma das coisas que me deparo todos os anos é a recuperação de estradas agrícolas. A freguesia vive essencialmente da agricultura e há uma necessidade muito grande de ter os acessos em bom estado. As intempéries nos últimos anos, com chuvas muito fortes, levaram a um degradar mais acentuado dessas estradas.
Fizemos melhoramentos em salas de aulas, na escola primária de A-dos-Francos. Calcetámos com paver [pequenos blocos de cimento] o pátio da escola, que no Inverno estava constantemente alagado. Vamos avançar com pinturas na piscina. Acabámos e reaproveitámos uma sala na piscina que estava inacabada para aulas de yoga. Podámos os plátanos, para lhes reduzir a copa (que era uma coisa que os locais reclamavam).
Reabrimos caminhos, alguns deles estavam um tanto degradados. Estamos a recuperar uma parte das bases de contentores do lixo e a colocar novas.
Temos apoiado bastante as associações e fazemos apoio à terceira idade.
Estamos à espera para fazer as obras na Junta, que vão passar para o rés-do-chão [funciona actualmente num primeiro andar] e vamos ter nesse espaço um posto de apoio ao cidadão.
Temos que ter alguma contenção porque há despesas acrescidas. Quando pensámos fazer esta obra não pressupúnhamos que desse tanta despesa. As instalações da Junta foram feitas numa altura em que as exigências eram menores em termos de projecto. Tivemos que fazer um levantamento do projecto e estamos a fazer um plano de alterações para cumprir com as leis, uma vez que todos os espaços públicos têm que ter uma licença de utilização para atendimento ao público.
GC: Do que falta do programa, o que gostava de realizar?
AM: Depende muito dos orçamentos. Eu gostava de fazer tudo. Mas há coisas que vamos fazer e nem estavam no programa. Vamos avançar com casas de banho no cemitério, que era uma necessidade porque é longe da localidade. O próprio cemitério era uma situação que tínhamos para legalizar porque uma parte era da Junta, outra era da Câmara, que adquiriu o terreno. Neste momento o terreno já nos foi doado e estamos só à espera que se faça a escritura para sermos proprietários e procedermos a uma licença para a obra.
GC: Quais os principais problemas da sua freguesia?
AM: A principal carência da Junta é que temos só um funcionário que se vai reformar no próximo ano e teremos que meter outra pessoa. Era nossa intenção abrir já concurso para um novo funcionário porque o nosso, apesar de dedicado, tem alguma idade e não dá para termos equipamento mais avançado. Não foi possível porque a lei que saiu em Dezembro do ano passado não permite abrir concurso. Assim abriremos no próximo ano, vamos colocar uma pessoa polivalente.
GC: Qual o orçamento da sua Junta de Freguesia?
AM: Ronda os 150 mil euros.
GC: Quais são os principais gastos?
AM: A recuperação das estradas brancas. Foi uma responsabilidade que passou para nós e queremos que estejam em boas condições.
“Obrigam-nos a fazer mais com o dinheiro que já tínhamos”
GC: Essa foi uma das delegações de competências. É uma boa medida ou cria dificuldades?
AM: É uma boa medida porque as juntas de freguesia estão mais próximas da realidade e podem, com menos custos, dar melhor acompanhamento a esses assuntos. Mas por outro lado é um presente envenenado porque deveriam vir acompanhadas de verbas e isso não aconteceu. Foi obrigar-nos a fazer mais com o dinheiro que já tínhamos e isso nem sempre é possível.
GC: Como é que consegue ultrapassar essas dificuldades?
AM: Deixando ficar para trás coisas que podíamos fazer, mas que não são tão importantes.
GC: Tem algumas receitas para além das dotações orçamentais?
AM: Infelizmente não. Temos só uma casa alugada à PT para as ligações à freguesia, mas é um rendimento muito reduzido. É por aí que gostaria de actuar, ter algo na freguesia que pudesse dar algum encaixe financeiro, para não sermos tão dependentes do município. Mas não é fácil.
GC: Quais os principais pedidos dos seus fregueses?
AM: Principalmente as estradas, porque somos uma zona rural e toda a gente gostaria de ter estradas asfaltadas. Mas já lá vai o tempo em que isso era possível. É um custo que nem sempre se justifica pela quantidade de pessoas que passam nos caminhos. Fazemos o asfaltamento dentro dos dois quilómetros que temos por ano.
Existe um pouco o hábito que a entidade pública é que tem obrigação de fazer tudo e se todos colaborassem as coisas podiam estar mais cuidadas. Por exemplo, não haveria necessidade de haver varredores se toda a gente colocasse o lixo no sítio correcto.
GC: A freguesia tem várias colectividades, que papel tem cada uma delas?
AM: Somos uma freguesia grande e as colectividades são importantes porque a população está envelhecida e estas são um local de convívio. Temos o clube de futebol que leva o nome da freguesia a todo o país, estão na I Divisão feminina e são um motivo de orgulho. Temos uma escola de música centenária, que tem um peso muito grande – cerca de meia centena de músicos da nossa freguesia e de vizinhas.
GC: A principal actividade económica é a agricultura?
AM: Sim, temos produção de pêra e de vinho. Tivemos suinicultura, mas está quase tudo extinto.
GC: Tem bons índices de empregabilidade na freguesia ou as pessoas têm que procurar emprego fora?
AM: Esse é um dos problemas. Na agricultura há sazonalidade, não há hipótese de ser um emprego a tempo inteiro. Era importante termos outras infra-estruturas na nossa freguesia, mas não é fácil. Temos duas carpintarias, mas são coisas pequenas, não geram muitos postos de trabalho.
Em tempos houve uma oportunidade de criar uma fruteira, através de uma pessoa da freguesia, mas os locais onde era possível construir a estrutura são reserva ecológica. Esperamos que o PDM possa ser no futuro mais flexível, para este tipo de investimento ser possível.
GC: Na agricultura, tem sido captado investimento?
AM: Sim, há novos projectos. Os jovens estão mais dedicados à agricultura porque nesta altura de crise a disponibilidade é maior para rentabilizar os terrenos.
GC: Ao nível dos serviços, a freguesia está bem servida?
AM: Sim. Queremos sempre mais, mas estamos bem servidos. Quando abrir, o posto de apoio ao cidadão vai permitir que as pessoas que têm que se deslocar à sede de concelho para tratar de determinados documentos possam fazê-lo aqui.
GC: A freguesia tem ensino básico. Quantos alunos tem?
AM: Tem mais de 400 alunos. Há menos crianças, mas a escola tem a sua dinâmica, não está baseada só na freguesia, vai buscar alunos a freguesias e até concelhos vizinhos para funcionar em pleno.
GC: Como são os transportes para a sede do concelho?
AM: Os transportes são suficientes, até porque melhoraram com a fusão da Rodoviária do Tejo com a Rocaldas.
GC: Como estão os cuidados de saúde na freguesia?
AM: Foi uma situação desgastante ao longo de um ano, mas actualmente as coisas estão sanadas. Há uma médica que está no Centro de Saúde de A-dos-Francos e que depois vai também à extensão dos Rostos. Temos falado com ela e tudo o que for necessário estamos aqui para dar apoio.
GC: Existe estação dos CTT?
AM: O que existe é um particular que faz a gestão.
GC: E é suficiente?
AM: Quando os CTT eram públicos fazia sentido que uma instituição como a Junta de Freguesia tivesse um posto e fizesse a sua gestão. Com a privatização dos CTT, para ter esse serviço a Junta tem um trabalho acrescido que tem que ser negociado. Não temos intenção de puxar o posto para a Junta de Freguesia, até porque para isso precisávamos de outros meios que envolviam custos adicionais.
GC: Nasceu nesta freguesia?
AM: Sou natural do Landal, mas resido na freguesia.
“Abdiquei do vencimento a favor do orçamento da Junta”
GC: Como entrou na política?
AM: Já tinha sido presidente da Assembleia. Sou filiado no PSD há mais de 20 anos. Nunca pensei chegar a este cargo, não tinha essa ambição, para mais nesta altura em que, sendo empresário, ser presidente de Junta me rouba muito tempo na empresa. Muitas vezes tenho que estruturar a empresa de forma a que ela não precise tanto de mim para que eu possa dar resposta aos problemas da freguesia. Faz algum transtorno, mas estou cá para dar o meu melhor.
Aceitei este cargo para servir a minha terra e abdiquei do meu vencimento porque se o orçamento é tão reduzido não fazia sentido estar retirar a esse orçamento um ordenado, por pouco que fosse.
GC: Quando se candidatou, esperava que a tarefa fosse mais fácil ou mais difícil?
AM: Quando nos candidatamos as pessoas dizem que é tudo fácil. Talvez fosse antes, mas o turbilhão de leis que saem constantemente obriga-nos a uma atenção redobrada. É um trabalho acrescido que não estava à espera.
GC: Como é o dia a dia de um presidente de Junta?
AM: É complicado. Não estou cá o dia todo, nem poderia, mas venho todos os dias para reuniões com os meus colegas e para assinar documentos. A secretária e o tesoureiro da Junta dão um apoio muito grande, cada um faz a sua função de acordo com o que estabelecemos, o que rentabiliza melhor o nosso tempo.
GC: Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
AM: A relação é boa. Não se pode comparar com a Assembleia da República, onde muitas vezes o que se defende é a cor do partido. Aqui estamos todos a defender os interesses da nossa população. Os assuntos são mais alertas, coisas que nos podem passar despercebidas, do que propriamente conflitos.
GC: Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
AM: Desde que esteja a fazer bem à população estou satisfeito. Quando há algumas situações que desrespeitam a ordem ou a própria Junta, aí sim é mais difícil de lidar, é a pior parte. Como alguém cortar água para as estradas. Coisas que podem ser evitadas, feitas por desleixo ou falta de atenção, mas que acabam por estragar o que nós recuperámos. Mas de uma forma geral gosto de tudo o que faço.
GC: Tenciona recandidatar-se?
AM: Estamos muito longe ainda, não posso dizer que sim nem que não.