“Eu questiono seriamente a utilidade de institutos como o IEFP”

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Gabriel Mithá Ribeiro acredita que o Chega irá eleger dois deputados pelo distrito
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A saúde e o ensino são questões que preocupam o candidato do Chega por Leiria, Gabriel Mithá Ribeiro, às quais soma o papel de “órgãos parasitários” como o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP)

 

Quais são as prioridades do partido para o distrito de Leiria?
O distrito tem questões que atravessam o debate nacional, como a economia, a saúde, que aqui é absolutamente decisiva, ou como o ensino. Aquelas que são as grandes questões nacionais também são aqui discutidas.

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Quer especificar alguma?
Na saúde nós sabemos que há um envelhecimento estrutural da população que agrava a sensibilidade da resposta. Sabemos que há carências nos hospitais às quais é preciso dar resposta e sabemos que foi muito discutida a localização do novo hospital do Oeste, que acabou por ficar no Bombarral. A nossa posição, por uma questão de uma melhor aposta na coesão territorial, é que a localização preferencial seria entre Óbidos e Caldas da Rainha. Agora o importante é não enrolar mais e a obra avançar o mais depressa possível, porque é um dos problemas de fundo do distrito. Para a área da saúde, defendemos que o enfoque é o doente, a resposta pode vir do público, do privado ou de outras opções.

E em relação ao ensino?
Há um aumento da população imigrante que gera pressão em tudo, na habitação, na saúde, mas também no ensino. É preciso repensar o tipo de escola que queremos. É claro que os problemas são transversais, mas um dos reparos que eu recebi de Leiria foi a excessiva pressão dos poderes autárquicos com carga política dentro das escolas e isso afeta o trabalho dos professores. A escola é o lugar da razão e do conhecimento, não é o lugar de jogos políticos.

De que forma é que isso se sente?
Se os professores que estão dentro das escolas têm identidade semelhante a quem está no poder municipal, beneficiam em termos de liderança, atribuição de horários e outras questões. Depois há problemas graves na avaliação dos professores, no fundo ela tornou-se excessivamente burocrática, subjetiva, permeável a muitas pressões. Nos últimos 20 a 30 anos, os horários e os currículos subiram muito e para compensar diminuiu a qualidade do ensino, surgiram mais problemas de gestão curricular, de horários e de indisciplina.

Que outras questões destaca?
A tradição identitária portuguesa está muito forte nesta região, tem a ver com a estrutura familiar, com tradições religiosas e hábitos de vida. O grande impacto da imigração nesta zona ocorreu sobretudo depois da pandemia. O crescimento das grandes cidades ocorreu muito à custa de subsídio-dependência e parasitismo social. Nesta zona, felizmente, ainda há uma dinâmica de autorresponsabilidade, de cada família, cada pessoa e cada empresa querer responder aos desafios da vida. É um sítio onde uma certa tradição de ‘faz por ti mesmo’ está presente. Isso quer dizer que é preciso apoiar a sério os empresários aqui.

Como é que isso pode ser feito?
Ligando o distrito à Europa, através da ferrovia. É necessário integrar Leiria, economicamente, no circuito europeu e isso, em termos de circulação, implica olhar de forma diferente, por exemplo, para o porto da Figueira da Foz. Mesmo em termos fiscais, quando eu digo que há desequilíbrios entre Lisboa e Porto, há um outro aspeto que é entre o litoral e o interior: garantir que quem vá habitar no Pinhal Interior tenha benefícios fiscais. Se o distrito for um bom exemplo do que é a compensação entre o litoral e o interior, estamos a fazer um trabalho em nome de Portugal.

Anteriormente, referiu a formação profissional…
O distrito é economicamente dinâmico, tem um tecido empresarial forte, então é preciso mão de obra qualificada e que responda não àquilo que o Ministério da Educação e uma coisa chamada Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) querem dar, mas àquilo que as empresas precisam. Temos de pensar como associar a escola às necessidades de formação que as empresas, de facto, têm. Eu questiono seriamente a utilidade de institutos como o IEFP.

Porquê?
Porque responde mais a interesses dos formadores do que dos empresários. A indústria aqui no distrito é capaz de ter maior capacidade de autonomia do que estar a depender de um organismo centralizado, que dá uma formação que é para os formadores e não para as empresas.

Então o IEFP não seria necessário nessa equação?
É um sorvedouro de dinheiros públicos, é o exemplo do que é um órgão parasitário. Isto é a ideia de reforma do Estado que o Chega defende e que anda aqui enrolada há 30 ou 40 anos. Quando nós falamos de democracia, é um contrato social entre governantes e governados. Os órgãos intermédios entre governantes e governados existem para facilitar esta relação. Quando os governados sentem que esses órgãos intermédios existem em função dos seus próprios interesses, eles não se justificam.

Quantos deputados é que o partido pode eleger por Leiria?
Seguramente dois, mas no mundo ideal mais.

Qual seria a primeira medida a adotar para o distrito?
A questão da saúde. Temos de pôr na agenda governativa a questão do novo hospital do Oeste.

Se a AD vencer as eleições, mas sem maioria, entende que o Chega pode ser a solução governativa para o país, em coligação?
A posição clara do Chega sempre foi de só apoiar soluções governativas desde que fizesse parte do Governo. Agora, não fecho a porta às mais variadas soluções, porque a política pré-fabricada pode ser um desastre. Há princípios morais intransponíveis entre o campo político da direita e da esquerda. A nossa linha vermelha começa onde começa o PS.

Qual é a solução do partido para os polícias?
Equiparar os subsídios ao suplemento que a Polícia Judiciária recebeu, dar um apoio sério às forças de segurança, melhorar as condições laborais e criar uma defesa social simbólica dos polícias.

Foi vice-presidente do Chega, função da qual se demitiu. Considera que tem condições para garantir quatro anos de estabilidade como deputado eleito?
Toda a gente sabe que tive um problema com o presidente André Ventura, mas nós resolvemos o problema para a vida. O que era o início do grupo parlamentar ou do partido Chega em 2022, hoje é completamente diferente. Hoje somos, em termos de grupo parlamentar e até de relações pessoais, absolutamente estáveis. A resposta é sim.

Carolina Santos e Joana Magalhães – Entrevista conjunta REGIÃO DE LEIRIA/GAZETA DAS CALDAS

Perfil

Nasceu em Moçambique, em 1965, e tem ascendência africana, indiana e árabe. Gabriel Mithá Ribeiro vive em Portugal desde 1980, é casado com uma portuguesa com ascendência e ligações familiares ao concelho de Pombal, no distrito de Leiria. É licenciado em História e mestre e doutorado em Estudos Africanos pelo Iscte – Instituto Universitário de Lisboa. É professor, investigador, ensaísta e cronista na imprensa. Em setembro de 2020 assumiu as funções de vice-presidente do partido Chega, cargo do qual se demitiu em agosto de 2022. Foi eleito pelo círculo de Leiria nas últimas eleições legislativas.

 

Candidatos do Chega pelo círculo eleitoral de Leiria

1. Gabriel Mithá Ribeiro, 58 anos, professor, Almada

2. Luís Paulo Fernandes, 47 anos, empresário, Pedrógão Grande

3. Carina Francisco, 40 anos, empresária, Leiria

4. Rui Fernandes, 31 anos, técnico de climatização, Leiria

5. Edmundo Carvalho, 68 anos, gestor, Caldas da Rainha

6. Maria Isabel Nogueira, 60 anos, engenheira química, Alcobaça

7. Edgar Ramalho, 30 anos, gestor, Ansião

8. Eduardo Veiga, 46 anos, operário fabril, Batalha

9. Maria Manuel Teixeira, 51 anos, psicóloga clínica, Aveiro

10. Pedro Sampaio, 55 anos, professor, Peniche

 

 

 

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