Todas as forças políticas caldenses se manifestam surpreendidas com o que se está a passar na Foz do Arelho e condenam a actuação do presidente da Junta, Fernando Sousa, exigindo que o caso tenha sequência no Ministério Público e que se apure a verdade também nas contas de 2017 e da associação que tem sede naquela autarquia de base.
O próprio MVC manifesta ”repúdio, moral e político pelos actos alegadamente praticados por aqueles que não foram capazes de estar à altura da confiança que os eleitores neles depositaram” e diz que não deixará de concorrer às próximas eleições autárquicas estando a trabalhar nesse sentido.
Teresa Serrenho, até agora o principal rosto do MVC, não quis comentar à Gazeta das Caldas o resultado da auditoria às contas da Foz alegando que não era eleita nem porta voz do movimento, remetendo eventuais declarações para Edgar Ximenes por este ser deputado na Assembleia Municipal.
Este dirigente do MVC começou por dizer que não vai ter “nada a ver com as próximas eleições”, nem no movimento nem por outro partido, mas admitiu que esta força política independente está neste momento a trabalhar para se preparar para as próximas autárquicas.
Questionado sobre se acha que o MVC fica manchado com este escândalo, responde que sim, “na mesma medida dos outros partidos onde há gente corrupta”. O actual deputado municipal refere ainda que vê esta situação com “uma grande desilusão e mágoa”, tanto mais que o combate à corrupção era uma bandeira do movimento.
“Isto só vem provar que os movimentos também são feitos por pessoas”, concluiu.
SITUAÇÃO PREOCUPANTE
O dirigente da concelhia caldense da CDU, Vítor Fernandes, considera que a situação “é preocupante” para a população e para a própria Junta de Freguesia. Lembra que chamou a atenção na Assembleia Municipal para esta questão e perguntou ao presidente da Câmara se estava a acompanhar a situação, que lhe respondeu que sim.
“É um problema grave e acho que tanto a Câmara como o MVC devem intervir e tomar uma posição”, disse.
Vítor Fernandes diz que o MVC “é que sabe” se tem condições para continuar a ser uma força política nas Caldas, mas recorda que uma das batalhas do movimento era o combate à corrupção. “Eles estão, com certeza, muito preocupados com a situação da Foz, que está ao arrepio do que eles têm defendido”, acrescentou o militante comunista.
IRRESPONSABILIDADE TOTAL
“Sabíamos pelos militantes do Bloco na freguesia que havia situações graves na Junta, mas ficámos surpreendidos com a escala que as coisas atingiram”, disse Lino Romão, do BE. O candidato deste partido à Câmara das Caldas considera que é um “descontrole e uma irresponsabilidade total” o que aconteceu, ainda para mais vindo de um representante de “um movimento que se afirma anti-corrupção e assume uma postura moralista, como se os partidos estivessem cheios de pessoas pouco sérias. O resultado está à vista”.
Para Lino Romão o mais surpreendente do resultado da auditoria é a dimensão do desfalque e por isso entende que o Ministério Público deve ser chamado a intervir.
Quanto ao MVC, diz que só os cidadãos poderão dizer se este movimento tem condições para continuar a ser uma força política nas Caldas. Mas sugere que os responsáveis vão para a rua recolher assinaturas para “verem o resultado de um discurso que depois não se aplica na prática”.
O candidato bloquista considera ainda que as responsabilidades no caso da Junta da Foz do Arelho não se cingem ao MVC, apontando também o dedo ao PSD, nomeadamente ao executivo anterior na Junta, que foi quem “criou as condições para que isto acontecesse, ao criar a associação”.
O MVC tem o seu espaço
Rui Gonçalves, do CDS-PP, remeteu a sua posição para o comunicado deste partido (ver Divulgação Institucional) o qual expressa “estupefação face aos fortes indícios de crimes praticados”.
O CDS/PP defende igualmente que o documento seja enviado para o Ministério Público e que também deve ser feita uma auditoria à Associação para a Promoção e Desenvolvimento Turístico da Foz do Arelho, que funciona em paralelo com a Junta de Freguesia, é presidida pela mesma pessoa e “cujo funcionamento se apresenta com contornos pouco claros”.
Já quanto à continuidade do MVC nas Caldas, o candidato do CDS-PP à Câmara considera que não se deve generalizar e que o facto de haver um ou outro caso de independentes que não se portaram adequadamente nas suas funções, não deve inviabilizar o trabalho dos movimentos.
“Não é por esta razão que o MVC deixa de ter o seu espaço e julgo que tem condições para apresentar outras candidaturas”, disse.
EXECUTIVO NÃO DEVE CONTINUAR
A presidente da concelhia caldense do PS, Sara Velez, realça a existência de “indícios de práticas ilícitas e até criminais por parte dos membros do executivo da Junta, nomeadamente do seu presidente, da secretária do executivo e de restantes membros do executivo”.
Por considerar esta situação “insustentável” Sara Velez diz que o executivo da Junta de Freguesia, em especial o seu presidente, “não tem condições políticas para continuar à frente dos destinos daquela freguesia”. É que, diz a socialista, “a ética republicana é um princípio fundamental, não sendo o clima de suspeição que recai neste momento sobre os membros do executivo compatível com o exercício de funções públicas”.
TELHADOS DE VIDRO
“Pelo que consta no relatório são casos graves e que de alguma forma põe em causa a imagem dos autarcas”, diz o presidente da concelhia caldense do PSD, Hugo Oliveira. O também vice-presidente da Câmara refere que nos mandatos anteriores, do PSD, a “junta foi liderada de forma diferente, transparente e, acima de tudo, honesta”.
Para além das questões criminais, que Hugo Oliveira considera “preocupantes” e que espera que sejam tratadas pela Justiça, diz que se verifica uma falta de organização e de capacidade de gestão na Foz do Arelho.
Acrescenta ainda que seja qual for a decisão da justiça, este processo já deixou marcas na visão que as pessoas têm dos autarcas, “que não é a melhor” e que também prejudica a Foz do Arelho.
Hugo Oliveira recorda que o MVC apresentou-se como um movimento que vinha combater os vícios e a corrupção que havia nos partidos, “mas o que se verifica é que o mal está nas pessoas e não nos partidos”, disse, acrescentando que ficou provado que “quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras aos vizinhos”.