“Para o Painho, estar integrado nas Caldas era uma va ntagem”

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Gazeta das Caldas

IMG_0800A União de Freguesias de Painho e Figueiros, no concelho do Cadaval, faz fronteira com o concelho das Caldas. O seu presidente, Vítor Caeiro – um caldense que reside no Painho há 31 anos – acredita que se esta união estivesse integrada nas Caldas “teria mais apoio e capacidade”, uma vez que a arrecadação de fundos camarários é maior na autarquia caldense. É que o habitantes do Painho só se deslocam à sede de concelho por necessidade, porque quando precisam de fazer compras ou tratar de algum assunto, “o caminho é sempre para as Caldas”, diz o autarca.
Com uma área de 13,87 km2 e 2010 habitantes (segundo os Censos de 2011), trata-se da união de duas freguesias pacatas, maioritariamente viradas para a agricultura e onde, em termos de “acessos e esgotos ainda há muito a fazer”.

VÍTOR MANUEL CAEIRO SANTOS
53 ANOS
ELEITO PELO PS
PRIMEIRO MANDATO
PROFISSÃO: MILITAR (NA RESERVA)
ESTADO CIVIL: CASADO, DOIS FILHOS

GAZETA DAS CALDAS: Quais foram as promessas eleitorais para este mandato que já conseguiu cumprir?
VÍTOR CAEIRO –  Não há promessas. É fazer o melhor possível. O compromisso foi tentar fazer melhor do que tinha sido feito até então.

GC: Há projectos que queira fazer e que faltem cumprir?
VC- Uma coisa que estou a tentar é fazer um caminho pedonal entre as duas terras, o Painho e Figueiros. Há muitos anos que se fala nisso. Estou empenhado nisso, conjuntamente com a Câmara. A ver se se consegue que isso vá avante. É útil para as pessoas, que não têm um espaço adequado para caminhar. O caminho é praticamente plano e uma parte já está iluminada. Não é muito complexo de se fazer, é preciso é vontade e alguma disponibilidade financeira. É o projecto mais emblemático para a Junta neste mandato. Se for concretizado, vai marcar a ligação entre as duas terras, que eram duas freguesias e agora são uma união.
Depois, existe um polidesportivo no Painho que foi feito pela Câmara do Cadaval há 10 ou 11 anos, que estava completamente abandonado. Temos tentado dar alguma dinâmica àquilo porque foi um investimento avultado. Criámos um grupo de caminheiros que, mensalmente, faz uma caminhada em que o ponto de encontro é lá e faz-se depois um almoço nas instalações. Algumas pessoas vão lá jogar ténis e futsal e adquirimos alguns equipamentos para fazer um ginásio numa das salas, que tem tido alguma actividade.
Não é a que devia ter, mas já é alguma actividade.
A nossa disponibilidade não é total, cada um tem a sua vida. E depois o dinheiro também é pouco para ter um funcionário dedicado àquilo, por isso vamos tentando ver se aquilo ganha algum caminho.
GC: Quais são os principais problemas da freguesia?
VC- Principalmente no Painho ainda há muita carência a nível de infra-estruturas, ainda há muito acesso em mau estado, a inexistência de passeios… Há casas em que o acesso é feito por caminhos de terra, há zonas que ainda não têm esgotos… As infra-estrutras ainda estão um bocado por fazer.
Por diversos motivos, mas penso que, principalmente, por falta de empenho.
Anteriormente a Câmara não tinha uma boa relação com a freguesia. Por quezílias políticas… Mas acho que as freguesias não devem ter nada a ver com politiquices.

GC: Tendo em conta que são eleitos por cores políticas diferentes, como é a relação entre a Junta e a Câmara?
VC- É boa. Não se sente diferença.

GC: Quais são as principais reivindicações dos fregueses? Continua a ser o alcatrão?
VC- É. A maior parte é nesse sentido, os acessos, o mau estado da estrada, falta de passeios.

GC: Qual é o orçamento da União? Têm receitas extra para além da dotação orçamental a que têm direito?
VC- À volta de 125 mil euros. Temos o FEF, protocolos com a Câmara, o posto médico em Figueiros alugado à Direcção Regional de Saúde do Tejo – que garante uma renda mensal de 565 euros – e temos outras pequenas coisas como licenças e venda de campas que complementam o orçamento.

GC: Quais são os principais gastos?
VC- São os ordenados dos funcionários. Temos duas funcionárias administrativas, temos duas pessoas a fazer serviço de limpeza que não são efectivas. A necessidade maior é pessoas para andar aí fora a fazer limpeza e manutenção, mas não é fácil a nível económico ao fim do mês, para tentar que sobre algum dinheiro para fazer alguma obra ou reparação.
E gasta-se também muito dinheiro em “tout venant” para os caminhos agrícolas.

GC: O financiamento também é um dos principais problemas deste executivo?
VC- O dinheiro é manifestamente pouco para fazermos alguma coisa. Temos um encargo porque fizemos a aquisição de um tractor. A área já é muito grande e para correr os locais todos da freguesia, havia necessidade de ter um transporte.
Temos tentado fazer as coisas com algum equilíbrio, tendo em conta que o Painho é maior, tem mais população e que está mais carenciada, mas temos tentado distribuir equitativamente os poucos dinheiros que há e não discriminar nenhum dos lados.

“A população idosa ronda os 30 ou 40%, pelo menos”

GC: Tem uma faixa grande de população carenciada?
VC- Alguma e principalmente idosa que, em termos percentuais não tenho um número, mas é grande. Rondará os 30 ou 40%, pelo menos.

GC: Quais as colectividades e grupos cívicos que se destacam na freguesia?
VC- Neste momento no Painho há a associação desportiva e cultural que está fechada por falta de direcção. Em Figueiros há uma associação que está a laborar parcialmente – só aos fins-de-semana e eventos -, na Palhoça há uma associação a funcionar bem e na Boiça do Louro há uma a funcionar parcialmente.
Com a crise, grande parte da população mais nova e dinâmica emigrou. O Painho sofreu muito com isso porque era muito dependente da construção, talvez 20 ou 30% da população. Com a queda da construção, emigraram, com filhos em idade escolar, e isso retirou dinamismo à vida da terra. E em Figueiros também emigrou muita gente.

GC: A delegação de competências da Câmara para as Juntas foi um presente envenenado?
VC- Possivelmente é um presente envenenado. É empurrar para os outros a responsabilidade de fazer ou não. Não será bem um presente envenenado, mas o dinheiro é pouco para fazer alguma coisa. Possivelmente a Junta consegue fazer mais com menos dinheiro, mas é manifestamente pouco para suprir as necessidades da terra. Principalmente a antiga freguesia do Painho que é muito dispersa, tem aqui a localidade e depois tem muitos casais e lugares. Não é fácil chegar a todo o lado e suprir as necessidades básicas como acessos, esgotos, iluminação. Ainda que a iluminação esteja razoável, a nível de acessos e esgotos ainda há muito a fazer.

“Agora já temos acesso ao Hospital das Caldas”

GC: Como freguesia limítrofe das Caldas, a União de Freguesias do Painho e Figueiros tem vantagens, desvantagens?
VC- Vantagens não sei se traz, acho que traz é dissabores… Agora já nem tanto, mas antigamente, quando havia necessidade de deslocações ao hospital, estamos tão próximos das Caldas e somos sempre empurrados para Torres Vedras. Agora com a junção dos hospitais já temos acesso ao Hospital das Caldas, mas até aqui era sempre Torres Vedras. E nós aqui a 13 quilómetros das Caldas íamos para longe, um sítio que pouca gente conhece, porque normalmente não vai para lá.
Tudo por causa das delimitações administrativas. É um risco [exemplifica], daqui para lá vocês não têm nada a ver com isso. Deveria ser pela proximidade geográfica e não por delimitações admnistrativas.

GC: Está satisfeito com os transportes para a sede do concelho?
VC- Para a sede do concelho funcionam mais ou menos, porque com os transportes escolares temos alguma regularidade. No Verão continuam a haver a alguns. Mas as pessoas do Painho e de Figueiros não se deslocam muito ao Cadaval. Só por obrigação. Porque o caminho é sempre para as Caldas.

GC: Essa era outras das questões, como é a relação entre o Painho e as Caldas? É mais próxima do que com o Cadaval?
VC- Fisicamente, em termos de distância é mais ou menos o mesmo. Mas em termos de dinâmica económica, é tudo para as Caldas. Ninguém vai de propósito ao Cadaval para comprar alguma coisa porque aquilo tem pouca oferta. É uma vila pequena com pouca dinâmica e historicamente foi sempre para as Caldas que as pessoas se dirigiram. Como é maior, tem outra oferta.
Penso que, para o Painho, estar integrado nas Caldas era uma vantagem. Basta olhar para os vizinhos do lado de A-dos-Francos e ver o investimento que é feito em termos de infra-estruturas.
As Caldas tem outra capacidade financeira que não tem o Cadaval. Tem muito mais comércio e até indústria – que já teve mais -, tem uma arrecadação de receita muito maior que o Cadaval.
Se calhar a maneira de repartir os fundos também é feita de forma diferente, não tenho conhecimento, não sei, mas penso que em termos de apoio da Câmara que seja muito maior.
Mas também quem não tem, não pode dar… Ainda assim penso que se estivessemos ligados às Caldas teriamos muito mais capacidade de fazer alguma coisa, ou já estaria feita anteriormente.

GC: Têm escolas do primeiro ciclo?
VC- Sim, duas. Uma aqui por cima [da sede da União de Freguesias]: o jardim escola que agora funciona aqui, provisoriamente, há 30 anos. Está no ar a possibilidade de haver obras de recuperação e ampliação da escola do 1º ciclo e de o jardim passar para lá, mas ainda está na fase de projecto.
Estamos à espera que abra a possibilidade de fazer a candidatura a financiamento.
E em Figueiros há uma escola que foi recuperada há três ou quatro anos. É uma escola nova.

GC: Existe extensão do centro de saúde? Funciona bem?
VC- Sim, em Figueiros. Está a funcionar bem. Melhor do que há uns tempos atrás em que havia falta de médicos. Passou algum tempo com dificuldade de médicos, agora está a funcionar bem. Vão lá três médicos fazer algumas horas, mas oscila muito. São médicos contratados pela empresa que não estão alocados só àquele sítio. Mas facilmente se arranja consulta. Há uns meses atrás era uma dificuldade enorme.
No Painho havia um centro de saúde, mas deixou de ter médico há alguns anos.

GC: E têm correios?
VC- Não. Temos de ir ao Cadaval ou ao posto dos correios do Landal que é mais próximo.

GC: Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
VC- Positivo, até agora não tem havido conflitos. Temos feito os possíveis para ser uma relação pacífica.

GC: Para além da agricultura, quais as principais fontes de rendimento?
VC- Há muita gente que trabalha na fábrica da Chipita no Carregado e outras pessoas que trabalham nas Caldas, mas a maior parte é mesmo na agricultura.

“Quase todas as pessoas acabam por ter ligação à Pêra Rocha”

GC: Qual o peso da Pêra Rocha para esta freguesia?
VC- A nível da economia, directa e indirectamente, é superior a 50%. Quase todas as pessoas acabam por ter ligação à Pêra Rocha.

GC: Nasceu nesta freguesia?
VC- Não, sou das Caldas. Casei-me e vim viver para aqui.

GC: Como é que se envolveu na política?
VC- Acho que não me meti na política, aceitei este desafio, mas não tenho, nem quero ter, nada a ver com a política.

GC: Como é o dia a dia de um presidente de Junta?
VC- Eu saí da tropa, achava que ia ter tempo para tudo… Tenho um hobby que é o ciclismo que tenho feito pouco. Por herança do meu sogro também tenho alguns pomares de Pêra Rocha que ocupam algum tempo e tenho de dedicar algum tempo à família e à Junta.
Não tenho uma rotina. É conforme a disponibilidade e as solicitações.

GC: Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
VC- Frontalmente. Falando com elas cara a cara. Algumas consegue-se chegar ao consenso, outras não. Mas sou uma pessoa pacífica, não tenho tido assim conflitos. Quando as pessoas são sinceras e francas, consegue-se ultrapassar as situações.
Inicialmente houve algum descontentamento de uma minoria de fregueses, principalmente em Figueiros. Custa-lhes a aceitar esta união porque perderam a freguesia, mas o Painho também perdeu. Perderam as duas, mas não temos culpa nisso. Foi-nos imposto.

GC: Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
VC- Tentar fazer alguma obra e melhorar a situação existente. Penso que é o melhor que se pode tirar de estar numa Junta. É no fim olhar para trás e ver que está muito melhor do que quando vim para cá.

GC: Tenciona recandidatar-se?
VC- Não. Ocupa-me muito tempo e perturba muito a minha vida familiar. A minha mulher quer que eu esteja mais presente e não consigo chegar a todo o lado.