A defesa de um único hospital para toda a região Oeste é uma das principais novidades da entrevista realizada ao presidente do conselho de administração (CA) do Centro Hospitalar do Oeste (CHO). A construção de um único hospital, que substitua os que actualmente existem nas Caldas e em Torres, é um cenário ainda improvável. Por isso Carlos Sá salienta a necessidade premente de obras no serviço de urgências caldense.
Com esta entrevista a Gazeta das Caldas pretendeu fazer um balanço do seu mandato à frente do CHO, responder às mais recentes polémicas e também olhar para o futuro, agora que se adivinham transformações no Serviço Nacional de Saúde.
GAZETA DAS CALDAS – O documento da ARSLVT que definiu as linhas mestras da reorganização e fusão do CHO, que nunca foi oficialmente divulgado, apontava para a divisão de competências entre Caldas da Rainha e Torres Vedras. Posteriormente foi publicada a portaria nº 82, relativa à reorganização hospitalar em Portugal. Que consequências isto terá para o CHO?
CARLOS SÁ – Relativamente à questão da portaria não esperamos vir a ter grandes alterações sobre o que é o perfil assistencial proposto e aprovado há cerca de um ano, aquando da constituição do CHO, por parte do Ministério da Saúde.
Portanto, esta portaria, como aliás já foi dito pelos principais responsáveis do Ministério e inclusive pelo senhor ministro, é um documento indicativo daquilo que virá a ser feito.
No caso específico do CHO, nós acompanhamos com atenção este assunto, mas sinceramente não estamos preocupados porque as valências que temos, e que aliás têm vindo a ser alargadas, vão de encontro aquilo que foi definido e aprovado para este centro hospitalar.
GC – Tem alguma garantia que não está em causa a maternidade no Hospital das Caldas?
CS – Aquele documento tem como objectivo normalizar uma série de instituições e no caso específico do CHO as valências que tem são aquelas que são para manter.
GC – Como explica o comunicado da Federação Nacional dos Médicos que refere que nos hospitais do grupo I (onde está o CHO) deixe de existir a especialidade de Obstetrícia, com o encerramento das maternidades?
CS – Não me leve a mal, mas eu não vou fazer comentários sobre comunicados de sindicatos. Porque senão não fazia outra coisa e, como temos visto, nem sempre são correctos.
GC – Mas muitas vezes são correctos.
CS – Olhe, mas não é a experiência que eu tenho e certamente que falaremos disso nesta entrevista. De qualquer forma, não tenho conhecimento específico, no que diz respeito ao CHO, desse comunicado, e portanto não sei exactamente o que lá é dito.
“Seria desejável
ter apenas uma urgência”
GC – Em 2013 falava-se que, no âmbito da reorganização hospitalar, poderia haver novas alterações em 2014. Neste momento está prevista alguma alteração ao nível das valências nos hospitais do Oeste?
CS – Em 2013 o principal objectivo foi a reorganização dos serviços do CHO. Foi o ano passado que as grandes alterações foram feitas. O que ficou pendente para 2014 era analisar a situação da urgência. Se se mantinham ou não as duas urgências médico-cirúrgicas. Foi apenas isso que ficou pendente.
GC – E já está foi decidido alguma coisa?
CS – Não. Temos este ano para avaliar.
GC – Neste momento qual é a sua apreciação?
CS – Eu acho que seria desejável ter apenas uma urgência médico-cirúrgica se tivéssemos um centro hospitalar constituído apenas por uma única unidade hospitalar. Como essa não é a realidade, não vejo que haja neste momento condições para alterar aquilo que existe relativamente às urgências. Embora fosse razoável ter apenas uma unidade hospitalar e apenas uma urgência. Mas isso será num futuro ainda longínquo.
GC – Em relação à questão de manter valências num hospital e não noutro, considera que a Câmara de Torres Vedras tem sabido defender melhor o seu hospital, ou não vê grandes diferenças na forma como o poder político local intervém?
CS – Vejo diferenças na forma, mas não vejo grandes diferenças nos resultados. A autarquia de Torres tem uma forma muito mais colaboradora e pacifista relativamente ao CHO, do que aquilo que temos assistido nas Caldas.
O nosso principal objectivo é o de servir as populações da região Oeste. Isso será feito através de dois grandes objectivos: melhorar e incrementar o acesso dos doentes aos cuidados de saúde, via a redução da lista de espera para consulta e da lista de inscritos para cirurgia, e via alargamento das valências disponíveis.
No caso específico das Caldas, no ano passado passámos a ter Pneumologia, Imunoalergologia, Oftalmologia e Neurologia (neste último passámos a ter a tempo inteiro).
Em 2013 conseguimos reduzir as listas de espera, com bastante impacto para as pessoas, e temos vindo a criar novas valências que não existiam antes neste hospital.
GC – E essas valências não serão perdidas, uma vez que no âmbito dessa reorganização apresentada na portaria n.º 82 não fazem parte do grupo do qual faz parte o CHO?
CS – Sim, mas houve um esclarecimento feito pelo secretário de Estado da Saúde que diz claramente que as valências que estão no grupo I são aquelas que estes hospitais têm que ter obrigatoriamente. O que não significa que não tenham outras valências para além dessas.
O que acontece é que alguns desses hospitais incluídos no grupo I não têm algumas das valências que são consideradas como básicas. Esse despacho tem como objectivo que passem a tê-las obrigatoriamente e podem ter adicionalmente uma série de outras, muitas delas que estão obrigatoriamente no grupo II. É exactamente esse o caso do CHO.
Naturalmente que isto vale o que vale. Digo-lhe hoje o que sei à data de hoje. Por isso, repito: não estamos preocupados, mas estamos atentos à situação.
“Doentes oncológicos devem ser seguidos localmente”
GC – No entanto, há decisões nacionais que têm impacto a nível local. Por exemplo, falou-se há uns tempos que ia ser reequacionada a rede de cuidados da Oncologia. Está em causa deixar de existir este serviço no hospital das Caldas?
CS – É um assunto ao qual não sei responder porque na verdade não temos um serviço de Oncologia. Nós temos um médico com a especialidade de Oncologia. Não é um serviço. Portanto, eu não sei.
Estamos a fazer tudo para garantir que os doentes que são seguidos nessa especialidade continuem a ser seguidos. Agora, se vamos manter ou não essa especialidade, não lhe posso garantir.
GC – Mas não existe um segundo médico dessa especialidade?
CS – O segundo está em Torres e é uma pessoa contratada por uma empresa.
GC – Mas esteve aqui no hospital das Caldas…
CS – Esteve durante algum tempo precisamente para se inteirar da realidade do serviço.
Achámos que não fazia sentido ter dois médicos nas Caldas e nenhum em Torres. Portanto, a médica que estava cá, e que tinha vindo durante algum tempo para conhecer melhor a realidade, já veio no pressuposto de que, se necessário, passaria a assumir as suas funções em Torres Vedras.
No entanto, é importante dizer que aumentámos o número global de horas de apoio à população, em Oncologia, porque a médica que estava antes fazia 12 horas por semana e agora está uma a tempo inteiro.
GC – Mas qual é a posição do conselho de administração relativamente à Oncologia? É uma questão muito sensível para a população.
CS – A minha posição é simples: o seguimento dos doentes deve ser feito ao nível local, em Caldas e em Torres. O diagnóstico e a prescrição, porque envolve equipas multidisciplinares que nós cá não conseguimos ter, porventura ganharia com uma maior concentração.
A aplicação desses tratamentos aos doentes, para mim claramente tem que ser ao nível local.
“Não há assimetria de nomeações entre Caldas e Torres”
GC – Desde o início foi confrontado com o facto de haver uma assimetria de nomeações de direcções intermédias, com um maior pendor para Torres Vedras. Isso agora parece ser inegável.
CS – Se puder apresentar factos que comprovem o que diz, teria todo gosto em comentar o que diz. Como aquilo que está a dizer, não é verdade, não vou comentar. Eu tenho dados concretos que me dizem exactamente o contrário.
GC – Mas os próprios médicos que estão nas Caldas se queixam desse facto.
CS – É um assunto que nem vale a pena ser discutido. Basta ver quem está à frente de cada serviço e contabilizar, caso seja isso que pretendam fazer, de onde é que eles são.
Pela enésima vez, eu só queria dizer que o CA nomeia as pessoas em conformidade com aquilo que a legislação define e, em caso de igualdade, escolhe as pessoas em função daquilo que entende que é a pessoa que melhor perfil terá para o desempenho da sua função. Nunca esteve no nosso critério de escolha a localização geográfica.
GC – Há quem também se queixe que a directora clínica do CHO não tenha nenhum adjunto.
CS – Isso não é verdade. A directora clínica tem dois adjuntos, um nas Caldas e outro em Torres.
GC – Nas Caldas quem é?
CS – O Dr. Urbano. É que são criados muitos mitos de rua que não são verdade.
GC – Pode ser que isso não esteja muito claro. Há algum organograma onde isso está explícito?
CS – Isso não há, porque eles também desempenham outras funções, mas há nomeações e outros documentos.
GC – Outra queixa que normalmente se ouve é que o CHO faz várias reuniões com grupos cívicos, políticos e outras entidades, mas não parece haver disponibilidade da direcção clínica em reunir com os médicos.
CS – Isso não é verdade. Reunimos mensalmente, o conselho de administração onde está a direcção clínica, com cada um dos serviços. Sempre com o director de cada serviço e os enfermeiros-chefes.
Mas também já houve reuniões da directora clínica com diversos directores para discutir assuntos específicos de cada serviço.
A directora clínica entende por norma, mas é uma decisão dela, que é preferível reunir individualmente do que fazer reuniões globais com todos os directores. É aí que está a questão que lhe colocaram. As pessoas gostavam era de ter reuniões globais.
GC – O que se comenta é que as reuniões só são feitas com o CA.
CS – Sim, na segunda metade de cada mês reunimos com todos os serviços, mas no CA está a directora clínica. Por isso é que achamos alguma piada quando nos acusam de não reunir e de não discutir as coisas com as pessoas, quando todos os meses o fazemos. O que não acontecia antes deste CA.
Isto para além das reuniões semestrais globais que fazemos com todos os colaboradores, com os grupos de acompanhamento do processo de fusão (normalmente uma por trimestre) e semanalmente com os gestores das áreas.
Eu diria que o meu problema no dia-a-dia é arranjar tempo entre as reuniões para poder fazer outras coisas.
GC – Mas se fizesse reuniões conjuntas poderia optimizar isso.
CS – Não. Como sabe, por vezes não são eficientes reuniões globais. Há assuntos que são muito específicos e que só envolvem um ou dois serviços.
Ainda ontem, na reunião com a Imagiologia tivemos também a área da Informática e dos Serviços de Instalações e Equipamentos, porque eram assuntos que tinham a ver com todos. Não fazia sentido reunir com a Imagiologia e ter toda a gente a discutir o assunto deste serviço.
GC – Mas nas organizações fazem-se reuniões estratégicas com todos os serviços em simultâneo.
CS – Fazemos isso duas vezes por ano, como já disse.
“À espera de nomeações da ACES e do Conselho Consultivo”
GC – E com o Agrupamento de Centros de Saúde Oeste?
CS – Agora com a saída da directora executiva do agrupamento não, mas normalmente reunimos mensalmente ou, no máximo, de dois em dois meses. Pode perguntar-me tudo o que quiser sobre reuniões.
GC – Uma das medidas que saiu desses encontros com o ACES foi a realização de um inquérito nas urgências. Já existem resultados para avaliar?
CS – Com a saída da directora executiva as coisas ficaram um pouco em ‘stand-by’, mas na última reunião que fizemos, no final de Fevereiro, ficou decidido que o ACES, em função de toda a informação que já tínhamos, iria fazer um levantamento junto de algumas extensões para perceber as razões pelas quais os utentes continuavam a deslocar-se às urgências do hospital das Caldas. Eles é que ficaram de nos apresentar os resultados e algumas propostas.
GC – E em relação à nomeação do conselho consultivo do CHO?
CS – Três membros do conselho consultivo são propostos pelo conselho de administração e outros são eleitos pelos colaboradores do centro hospitalar. Só que aqueles que são propostos pelo conselho de administração têm que ser nomeados pelo ministro da Saúde.
Nós fizemos as eleições para os colaboradores, de cada categoria profissional, que farão parte do conselho consultivo e indicámos ao Ministério, há mais de um ano, as três pessoas que, por lei, tínhamos que indicar. Desde essa altura que aguardamos a nomeação dessas pessoas.
Com muita pena nossa, porque já gostaríamos de ter reunido, pelo menos uma vez, com os membros do conselho consultivo.
GC – Então é só uma questão burocrática do Ministério da Saúde?
CS – Exactamente, mas aguardamos nós e, ao que sei, praticamente todos os centros hospitalares.
GC – Em Leiria já foram nomeados e já reuniram em Janeiro.
CS – Sim e nós aguardamos que os nossos membros sejam nomeados também.
As polémicas
do hospital caldense
GC – Várias situações em que o CHO tem estado envolvido, com várias entidades a contestar o que está a ser feito no hospital das Caldas, como o Sindicato dos Enfermeiros, têm tido um grande impacto na opinião pública. Há também relatos de falta de equipamentos, de meios de diagnóstico e de consumíveis nas urgências, de que os próprios médicos se queixam. Nós próprios, enquanto utentes, fomos confrontados no hospital das Caldas com essas queixas.
CS – Peço que me indique quem para poder responder.
GC – Quem é, não vamos dizer.
CS – Vamos lá ver. Em primeiro lugar, a área da urgência nas Caldas é um dos nossos principais motivos de preocupação. O ano passado já dizia à comunicação social que esse era um dos principais problemas ao qual teríamos que dar resposta em 2014. Portanto, é algo que está nas nossas preocupações há bastante tempo. Mas vamos analisar o que tem sido dito e o que efectivamente acontece.
Nós temos um perfil de doentes a aceder à urgência ligeiramente diferente do que tínhamos há uns anos. Hoje em dia são maioritariamente pessoas idosas, descompensadas ,que vêm para as urgências não apenas por causa de uma situação, como antigamente acontecia, mas também por deixaram de tomar a medicação ou ir ao médico por razões económicas. Isso faz com que, quando vêm às urgências, acabem por ficar mais tempo do que seria normal.
Adicionalmente, há também incapacidade de resposta no que diz respeito à saída dos doentes das urgências, quer para a rede de cuidados continuados, quer também, nalguns casos, por parte das famílias ou dos lares de idosos.
GC – Mas também de alguns serviços do hospital que não têm capacidade de resposta.
CS – Para o caso dos doentes que têm que ficar internados em algum serviço – mas não são a maioria – também temos que aumentar a capacidade de internamento. Isso acontece principalmente no serviço de Medicina. Ou seja, há três componentes, mas a do internamento não é mais relevante do que as outras duas.
Como falou dos sindicatos, também convém dar algumas informações importantes. Os sindicatos, principalmente os de enfermagem, têm focado o problema da urgência em dois pontos: falta de profissionais e o tempo de estadia muito elevado.
Os dados que nós temos são os seguintes: em 2013 o tempo de permanência médio dos doentes na urgência das Caldas foi de 4,61 dias. O ano passado foi de 4,27. Em 2011 era de 4,63.
Como vê, o tempo de estadia na urgência não é superior ao que foi em 2011 e é ligeiramente superior ao ano passado.
GC – E não houve um maior número de pessoas?
CS – Vamos ao número de atendimentos realizados na urgência. Em 2011 foram atendidos 52.457 pessoas, em 2012 foram 46.648 e em 2013 foram 46.363.
Portanto, não é verdade que haja um tempo de permanência média superior ao que aconteceu no ano passado. Estão aqui os factos.
GC – Mas podem haver picos que ultrapassem os números habituais das pessoas internadas nas urgências.
CS – Todos os anos há picos, mas podemos ver por mês. Posso dizer que em Janeiro deste ano, a média foi de 4,3 e em 2011 foi de 3,6, e que em Fevereiro deste ano foi de 3,92 e em 2011 foi de 5,25.
O segundo ponto que tem sido colocado em cima da mesa por parte do Sindicato dos Enfermeiros é que há falta de recursos humanos, de enfermagem, nas urgências das Caldas.
Em 2011 havia 39 enfermeiros para 52 mil atendimentos e para uma “demora média” de 4,6 dias. Em 2012 subiram para 44 enfermeiros para 46 mil atendimentos. Em 2013, à data de 31 de Dezembro, o número de enfermeiros a trabalhar nas urgências era de 50 para 46 mil atendimentos.
GC – Mas o Sindicato dos Enfermeiros nunca disse que havia falta de enfermeiros nas urgências.
CS – Espere, já lá vou. Estou a dar-lhe dados que são importantes para contextualizar a coisa. O que estou a tentar explicar é se é verdade ou não que o tempo de permanência médio nas urgências é maior do que nos outros anos. Eu estou a dizer que não é verdade.
É verdade ou não que há necessidade de mais enfermeiros na urgência? Eu acho que não.
GC – O Sindicato dos Enfermeiros nunca disse que há falta de enfermeiros nas urgências. Está a explicar algo que ninguém pôs em causa.
CS – Portanto, isto demonstra que até houve um aumento do número de profissionais nas urgências. Isto consolidado com a visita que a Ordem dos Enfermeiros veio fazer a 28 de Março, tendo feito um levantamento da realidade do CHO. As conclusões da própria Ordem dizem que há mais enfermeiros do que aquelas que são as necessidades.
O relatório refere que o serviço de urgência tem uma dotação adequada de enfermeiros e também que a resposta que tem que ser dada ao problema das urgências está fora do alcance do CA do CHO, porque se devem a factores complexos e relacionados com falta de respostas adequadas na comunidade.
O que a Ordem dos Enfermeiros vem dizer, tal como nós temos dito, é que o problema das urgências não se limita às urgências em si. É o resultado de uma série de situações, das quais algumas delas não controlamos, que fazem com que alguns doentes tenham um período de estadia longo. Só que o problema é equivalente ao que acontecia nos anos anteriores. O que há agora é, porventura, uma maior atenção à realidade das urgências das Caldas.
GC – E porquê?
CS – Não sei. Os dados que temos demonstram que a realidade é equivalente aos outros anos. Isso não significa que não estejamos preocupados com a situação e que não estejamos a trabalhar para arranjar soluções.
Precisamente por causa disso, constituímos um grupo de trabalho em Janeiro deste ano, onde também estão elementos da própria urgência para serem apresentadas soluções. Esse grupo apresentou cinco soluções, que até depois foram referidas pelo Sindicato dos Enfermeiros como sendo uma ideia deles. Isso é uma falsidade porque elas foram primeiro apresentadas pelo grupo de trabalho e depois pelo CA.
As soluções passam por mais 10 camas alocadas ao serviço de Medicina e trabalhar junto do Ministério da Saúde para que haja mais respostas nos cuidados continuados e mesmo ao nível das famílias dos idosos que tenham alta. Pontualmente, criar também uma nova área com cinco camas ou macas para poder, como tampão, dar resposta de imediato às necessidades da urgência.
Estamos também a reorganizar a metodologia utilizada para a gestão das altas dos doentes. Nas Caldas, e em muitos outros locais, as altas são dadas depois da visita aos doentes com situações mais graves, e a ideia é fazer o oposto. A primeira coisa a fazer será dar alta aos doentes que a tenham nesse dia e depois ver os que estão em situação mais grave.
Adicionalmente, e é onde está um dos principais problemas da urgência das Caldas, terá de ser alterada estruturalmente o seu espaço físico, de modo a melhorar o circuito do doente dentro da própria urgência. Devem ser criadas áreas onde os doentes que tenham que estar mais tempo fiquem melhor acomodados e retirando as macas dos corredores.
À espera de decisão das obras na urgência
GC – E como é que isso pode ser feito?
CS – Nós apresentámos uma proposta ao ministério para aprovação de verba necessária a essa obra no final do ano passado. Neste momento há, para além de nós, uma equipa da ARS a trabalhar no projecto de alteração estrutural de funcionamento da urgência. Esperamos ter esse projecto aprovado até ao final de Maio. Até porque o próprio secretário de Estado da Saúde tem estado envolvido.
Mas atenção, porque este foi um processo que se iniciou no final de 2013, não foi agora por causa destes problemas. Só que não poderíamos fazer obras num período de pico nas urgências.
GC – Mas também podiam ter feito antes as obras.
CS – Obviamente, por isso é que começámos a trabalhar antes para que agora, com uma menor procura das urgências, possamos avançar com as alterações que são necessárias.
GC – Só que, tal como afirmou, o ano passado já tinha salientado que eram necessárias obras, e em Novembro também referiu que seriam tomadas medidas, altura em que se falou na possibilidade de utilização do Hospital Termal para internamento de doentes das urgências. O próprio director do serviço de urgências, que até é do hospital de Torres, apresentou uma carta de demissão onde escreve que “sucessivas reuniões de ‘emergência’, em que nada fica resolvido, vão tornando este problema cada vez pior”. Porque é que não foram tomadas medidas antecipadamente para evitar aquilo que aconteceu nos últimos meses em vez de ser agora?
CS – Não foi só agora. Logo em Janeiro foram tomadas medidas. Na sequência dessas reuniões aumentámos em cinco a capacidade de resposta da urgência.
GC – Mas o director do serviço de urgências apresentou a sua demissão a 21 de Março, o que quer dizer que ainda havia bastantes problemas.
CS – O que referiu é que não foi feito nada, mas foi. Criámos um espaço, perto da urgência, para pontualmente dar resposta a aumentos na procura. Como o ano passado tínhamos previsto isso, foram alocados mais enfermeiros à urgência. O que não conseguimos é inventar espaço e isso obriga a obras e a verbas. Esse “timing” não controlamos.
GC – O que estava em causa era a capacidade de internamento e até foi colocada a hipótese de ser utilizado o Hospital Termal. Porque é que isso não foi feito?
CS – Não, não foi colocada essa hipótese. Foi colocada por quem?
GC – Foi colocada por si, quando se falou do problemas das urgências, em Novembro.
CS – Não, não. O que foi dito é que um dos assuntos que tinha sido abordado, porque muita gente fora falava sobre isso, era a possibilidade de usar o Hospital Termal. Mas eu sempre disse que não era para nós uma hipótese. Tanto não era, que não o fizemos.
GC – O Hospital Termal também já foi utilizado para o internamento de outros serviços.
CS – Claro, e porventura, se for necessário, nalgum momento próximo se calhar ainda voltará a ser. Mas isso é outro momento.
GC – No entanto, ao longo destes meses houve muitas pessoas a sofrer com a falta de condições das urgências…
CS – Como sofreram há um ano e há dois anos.
GC – Mas como 40 doentes internados nas urgências na mesma altura?
CS – É equivalente. Havia. O que há este ano é uma maior atenção às urgências das Caldas por várias razões. Primeiro porque a nível nacional houve uma maior atenção dada às urgências. E em segundo lugar, porque também há algum interesse em algumas entidades ou pessoas em focarem-se mais nas urgências das Caldas.
Por exemplo, convém que se perceba porque é que há seis meses atrás havia uma enfermeira sindicalizada que trabalhava no hospital das Caldas e que neste momento é quadro do sindicato. E foi nestes últimos seis meses que isso aconteceu. Se calhar há alguns interesses que não têm nada a ver com a realidade que levam a que haja um interesse muito pontual em que o hospital das Caldas e particularmente a urgência, esteja sob tanta atenção. Convém analisar isso.
GC – Actualmente é normal que quando as pessoas se sentem menos bem tratadas nas urgências telefonam para os jornais e televisões.
CS – Claro que sim. Mas eu recordo que o problema das urgências nas Caldas só foi falado basicamente este ano.
GC – Isso não é verdade. Já aconteceu antes.
CS – Mas com grande enfâse agora neste primeiro trimestre. Vejam a coincidência depois da transferência das pessoas de um lado para o outro. O ano passado falava-se do problema de todas as urgências, não só do CHO. Eu percebo que para as Caldas o problema é o hospital das Caldas, mas esta é uma situação generalizada a nível nacional.
GC – E há pessoal de apoio, sem ser enfermeiros e médicos, suficiente para as urgências?
CS – Sim, ao nível dos assistentes operacionais é que acho que podemos aumentar o número. Ao nível dos médicos temos, nas urgências, mais dois do que o ano passado e mais seis enfermeiros. O número de assistentes operacionais manteve-se e aceito que faça sentido reavaliar se não temos que aumentar esse número.
GC – O deputado Manuel Isaac, do CDS/PP, apresentou um requerimento ao Ministério da Saúde em que fala também de situações de falta de material nas urgências.
CS – Eu já falei com o deputado e pedi-lhe que me apresentasse factos. Desde 2011 que não há falta de consumíveis e material clínico. Não quer dizer que pontualmente não exista alguma falha.
Nós chegámos cá no final de 2010 [no então CHON] e havia problemas sérios em termos orçamentais. Foram equilibrados em 2011 e desde essa altura que não há ruptura de consumíveis, medicamentos, etc.
Eu pedi ao deputado que me diga em que dia é que houve essa ruptura para eu procurar saber o que se passa.
“No CHO não houve nunca uma ruptura de medicamentos”
GC – Nós também temos relatos de doentes internados a quem terão dito que precisavam de comprar os seus medicamentos fora do hospital.
CS – Agradeço que comuniquem ao CA, por escrito, quais foram os medicamentos, em que dia e quem foi o médico. Garanto que no CHO não houve nunca uma ruptura de medicamentos, o que não quer dizer que não possa acontecer uma falha por causa do atraso na entrega por parte dos fornecedores.
Nós fazemos reuniões com a Farmácia e dizem-nos exactamente o contrário. Por isso, há aqui qualquer coisa que não bate certo.
GC – Não considera que o CA deve um pedido de desculpas aos utentes pelo que passaram nas urgências?
CS – O que eu posso dizer é que este CA tudo tem feito e continuará a fazer para servir da melhor forma possível todos os utentes. Isso é visível através daquilo que já demonstrei nesta entrevista.
GC – Mas isso é falar de números, mas estão em causa pessoas.
CS – Não estou a falar de números, estou a falar de dados concretos. Nós não podemos é querer que num espaço que já existe há 30 anos se consiga resolver de um dia para o outro questões que têm a ver com alterações estruturais nas urgências. Em termos de atendimentos diários, nós somos a quinta, e às vezes quarta, maior urgência da região de Lisboa e Vale do Tejo.
Outro dado importante: a ARS de Lisboa e Vale do Tejo tem vindo a monitorizar várias coisas, entre elas a rapidez no atendimento. Ou seja, o tempo que demora desde a triagem ao primeiro atendimento médico e depois os tempos máximos de espera. Entre os 13 centros hospitalares, somos o quarto mais rápido a atender. Nos tempos média de espera, também somos a quinta urgência mais rápida.
Quando falam sobre as urgências das Caldas serem uma desgraça, eu respondo com estes dados.
GC – Porque é que o bloco operatório interrompe o início da realização de operações à hora de almoço e deixou de haver o horário contínuo?
CS – Antes da alteração que introduzimos em Outubro, o bloco operatório funcionava basicamente durante a manhã. Realmente não interrompia às 12h00 ou às 13h30, mas a actividade só se prolongava no máximo até às 15h00.
O que entendemos fazer a partir de Outubro (porque o principal objectivo para este ano é aumentar o acesso dos doentes aos cuidados de saúde e portanto aumentar a nossa actividade), foi reorganizar o funcionamento do bloco de modo a optimizar a utilização daquele espaço, passando a funcionar até às 19h00.
Para que o bloco possa funcionar de manhã e de tarde, há um período em que tem de haver uma interrupção, para que seja feita a limpeza, etc.
Agora vamos ver os dados. Desde 2009 que vinha a haver uma redução sistemática na actividade cirúrgica do antigo CHON. O ano passado conseguimos aumentar, com estas alterações, em 8,4% o número de cirurgias. Fizemos mais 431 cirurgias em 2013 do que em 2012.
GC – E qual é o termo de comparação, uma vez que em 2012 havia o CHON e o Centro Hospitalar de Torres Vedras?
CS – Estamos aqui a comparar a mesma zona de referência, sem Alcobaça. Embora essas alterações possam levar a que alguma cirurgia prevista seja feita de manhã possa ser suspensa, por causa de um atraso, a verdade é que aumentámos significativamente o período de actividade do bloco operatório.
GC – E não se pode flexibilizar?
CS – Não há nada escrito por nós que indique que a actividade do bloco tenha que ser interrompida a uma determinada hora. Os profissionais têm que gerir essa interrupção com base no bom senso. O que tem de ser melhorado é a hora de início efectivo da primeira cirurgia e também a redução de intervenção entre a saída de um doente e a entrada de outro.
Nós tínhamos que ter o primeiro doente com “bisturi à pele”, ou seja, efectivamente a iniciar a cirurgia, às 8h30 e isso raramente acontece.
“Não haverá Unidade de Cuidados Intensivos”
GC – Está prevista a criação de uma unidade de cuidados intensivos no Oeste? Recentemente houve também uma polémica por causa disso.
CS – O que está no projecto para o CHO é a constituição de uma unidade de cuidados intermédios, onde não está considerada a parte da ventilação.
No caso concreto que refere não foi isso que esteve na origem do problema. Em 30 minutos foi encontrada uma cama numa unidade de cuidados intensivos. Em lado nenhum do mundo se pode ter camas de cuidados intensivos à porta de casa de cada um. São serviços altamente diferenciados.
Infelizmente aquele paciente [João Brochado] veio a falecer por razões que nada tiveram a ver com o tempo que demorou na procura de uma solução ou do transporte para os cuidados intensivos.
GC – Que papel foi atribuído ao hospital de Peniche?
CS – O que nos temos defendido é que este seja requalificado para a área dos cuidados continuados. Muitos dos problemas que há nas urgências poderiam ser assim resolvidos. Seria bom que algumas camas que venham a ser criadas naquela unidade possam ser alocadas para isso, de modo a termos uma resposta mais rápida e integrada para os doentes do CHO.
GC – O que se passa com o serviço de Psiquiatria? Foi anunciado há uns anos que seria criado e foram feitas obras para o acolher.
CS – Antes de chegarmos a esse ponto temos que criar um serviço efectivo. Actualmente esse serviço tem no quadro apenas um médico. A solução tem sido contratar pessoas através de empresas, que não é claramente o que pretendemos.
O que estamos a tentar fazer é conseguir atrair para cá médicos da especialidade da Psiquiatria para ficarem no quadro de pessoal e trabalhem aqui diariamente.
GC – Então há vagas?
CS – Há vagas, não há é médicos a quererem vir para cá.
O CHO tem um objectivo claro: até 2015 não haver nenhum serviço que tenha menos do que quatro médicos e idealmente seis.
Temos vindo a conseguir isso. Pela primeira vez, em 2013 conseguimos que o número de médicos que vieram trabalhar para o CHO fosse superior aos que saíram. Conseguimos atrair nove médicos para o CHO e saíram sete.
“Constituição do CHO reduziu listas de espera”
GC – Qual é o balanço que faz da constituição do CHO?
CS – Em termos de objectivos que tínhamos quando o CHO foi constituído, estou convencido que houve ganhos efectivos para a população que o centro serve. Nós conseguimos reduzir as listas de espera em algumas das principais especialidades, por exemplo em Ortopedia. Reduzimos significativamente o número de doentes em lista de espera e operados.
No global conseguimos tratar mais pessoas, mais rapidamente e, pelo menos, tão bem quanto antes. Conseguimos simultaneamente aumentar as valências existentes, como já referi há pouco. Isso foi feito também reduzindo significativamente os custos operacionais em 2013, relativamente a 2012.
Isto demonstra que, por um lado, tratámos melhor e mais, e que conseguimos fazê-lo com menos dinheiro, aproveitando as economias de escala resultantes da constituição do CHO. Apesar da conjuntura muito complicada, a criação do CHO permitiu-nos continuar a fazer obras. Desde há três anos que anualmente há obras de melhorias neste hospital.
GC – Também há um projecto para aumentar o número de pisos no hospital de Torres Vedras?
CS – O projecto ainda não foi aprovado pela tutela, mas há uma maior probabilidade de serem aprovadas as obras nas urgências do hospital das Caldas. Mas é preciso salientar que nesta altura temos feito sempre obras.
GC – Porque é que essa imagem não passa para as pessoas?
CS – Essa é a pergunta que lhe faço a si. Eu dou-lhe dados. O senhor saberá muito melhor do que eu porque é que isso não passa, mas isso é outra conversa.
GC – Não é por falta de notícias das obras que se realizam.
CS – Sim, mas se calhar saem muito mais notícias de coisas que, às vezes, nem sequer são exactas. Mas como estava a dizer, em termos de recursos humanos, com a constituição do CHO conseguimos atrair mais médicos e assim renovar o quadro de profissionais que temos. O que em certos serviços, como a Ortopedia, é uma situação preocupante, porque há muitas pessoas com uma idade avançada. Isso não seria suficiente se os dois centros hospitalares continuassem isolados porque não tinham uma escala suficiente para serem atractivos.
Há naturalmente coisas que têm de ser melhoradas, avaliadas e repensadas, mas também só passou pouco mais de um ano da constituição do CHO.
GC – Acha que o Oeste, daqui a 15 ou 20 anos, vai ter um único hospital?
CS – Eu espero bem que sim e o mais rapidamente possível, mas tendo em conta as condições do país. Os espaços físicos onde funcionam os hospitais das Caldas e de Torres não têm condições, nem foram dimensionados, para a actual dimensão do centro hospitalar e para o número de utentes que diariamente a ele recorrem.
A partir deste momento será a única forma de reduzir os custos de funcionamento do centro hospitalar.
GC – Qual será a localização adequada desse único hospital para o Oeste?
CS – Terá que ser feito um estudo de localização.