Resiliência, força política, irreverência e distanciamento partidário, são as características que Rui Gonçalves considera essenciais num presidente da Câmara. Principalmente quando os assuntos que estão em cima da mesa não dependem apenas da autarquia, mas de outras entidades. “É preciso chatear”, defendeu o candidato do CDS-PP à Câmara das Caldas, dando como exemplo os casos da Lagoa de Óbidos, da Barragem de Alvorninha e do Hospital Termal, sobre os quais o actual executivo tem optado muitas vezes pelo caminho mais fácil: pôr a culpa nos outros.
Rui Gonçalves expôs estas e outras ideias numa apresentação pública que decorreu no Hotel Sana, dia 10 de Março, na presença de mais de uma centena de pessoas.

“Candidato-me a presidente não só porque tenho essa vontade ou porque a comissão política me convidou. Faço-o porque tenho ideias e um projecto que quero implementar nas Caldas da Rainha”. Foi assim que o vereador Rui Gonçalves começou por apresentar a sua candidatura, frisando que embora só há pouco mais de três anos tenha iniciado uma vida política, desde 2005 que se encontram textos de opinião seus em jornais locais, como a Gazeta das Caldas.
Também em projectos académicos que desenvolveu no âmbito da sua licenciatura e mestrado em Arquitectura, concluídos em 2007 e 2009, Rui Gonçalves escolheu debruçar-se sobre o território caldense. “Caldas da Rainha – Um Modelo de Desenvolvimento – Fundamentos para um Programa” foi outro documento que elaborou, há 10 anos, no qual definiu um plano de acção para o concelho. “Isto tudo para dizer que já há muito tempo venho a estudar e a interessar-me pelo território das Caldas”, realçou o candidato.
Para Rui Gonçalves, a estratégia autárquica deve assentar em potencializar os recursos endógenos das Caldas, identificando desde logo a água como aquele de maior valor no concelho. “Temos o mar da Foz do Arelho, a Lagoa de Óbidos, um rio, uma barragem e as termas, valiosos recursos que não estão a ser bem utilizados”, afirmou, acrescentando que existem até diversos chafarizes e fontanários espalhados pela cidade, mas que nem esses funcionam.
E embora o centrista reconheça que algumas destas questões não sejam responsabilidade directa da autarquia, também é um facto que a primeira função do presidente da Câmara é incomodar as entidades competentes, como a APA, o Ministério da Agricultura ou da Saúde, para que se apressem na resolução das mesmas.
Rui Gonçalves lembrou que o CDS tem praticado nas Caldas uma “política pela positiva”, procurando apresentar propostas, mas que estas esbarram constantemente num “executivo que pode e manda e não se mostra disponível a ouvir ninguém”. O candidato deu como exemplo o projecto de uma rota, sugerida na altura pelo vereador Manuel Isaac, que aproveitasse o melhor da agricultura da região – pomares, adegas, turismo rural, gastronomia, vinhas e moinhos – ligada por uma ciclovia. “Este projecto de agro-turismo não custava milhões, mas como dava trabalho foi rejeitado”, recordou.
Outra das propostas centristas que não viu a aprovação da Câmara foi a de regeneração urbana, nomeadamente na Praça da Fruta, cujo plano sugeria que o trânsito circulasse por um túnel e três pisos de estacionamento, um deles para os vendedores. “Devolveríamos a superfície à circulação dos peões e resolvia-se o problema da concorrência entre os hipermercados e a Praça pois garantia-se estacionamento de proximidade”, explicou Rui Gonçalves, frisando que as intervenções realizadas pela autarquia não cumpriram os objetivos para a modernização da cidade e adaptação aos conceitos de mobilidade e sustentabilidade, embora tenham sido gastos mais de 10 milhões de euros.
“Ainda que o nosso projecto não tenha avançado, não está esquecido! Por ser estruturante um dia vai ser aplicado”, fez notar.
APOIO AOS CERAMISTAS E À JUVENTUDE
Quando um turista chega à cidade, a que propósito percebe que está numa cidade de cerâmica? Esta foi outra questão levantada por Rui Gonçalves, que considera que é preciso fazer mais no que diz respeito à divulgação da cerâmica caldense. “Temos ceramistas qualificados que, cada um por si, vão fazendo o seu trabalho sem que alguém saiba por onde andam”, criticou, salientando que após a crise que se abateu sobre a indústria cerâmica das Caldas, nada foi feito para recuperar a tradição desses tempos. O arquitecto sugere o incentivo à fixação de “start ups” e incubadoras ligadas às indústrias criativas na cidade, assim como a criação de estruturas de apoio aos artistas que promovam o seu trabalho.
Rui Gonçalves defendeu ainda a captação de investimento, como forma de criar emprego e riqueza no concelho, mas também alertou para a urgência em encontrar incentivos que permitam aos jovens trabalhar na capital, mas continuarem a viver na cidade onde nasceram. “Queremos uma efectiva e séria política de juventude, que neste momento não existe, pois esse é o único meio de garantir o futuro”, disse.
“SÓ SE INVESTE NUM LADO DA CIDADE”
De um lado está a freguesia Nª Sra. do Pópulo, para onde os recursos têm sido sistematicamente canalizados; do outro temos Sto. Onofre, onde o espaço público está cada vez mais desqualificado. Rui Gonçalves afirma “que uma simples observação faz perceber que todas as intervenções têm sido feitas num lado da cidade, o que não é justo e provoca desequilíbrios sociais”. Isto sem mencionar as freguesias rurais, cada vez mais desertificadas, alertou o candidato, que quer alterar esta realidade.
Entre as várias críticas feitas ao actual executivo camarário, Rui Gonçalves debruçou-se sobre o recente pedido de empréstimo de um milhão de euros para alcatroar ruas. “Somos contra a banalização do endividamento, pois quem pede dinheiro para a mais elementar manutenção, dá sinais de um claro estado das finanças que não é possível ignorar”, afirmou, acrescentando que estas despesas “extra” esmagam as verbas destinadas ao investimento.
Sobre o actual candidato do CDS, o ex-vereador Manuel Isaac disse que Rui Gonçalves é um profundo conhecedor dos problemas do concelho caldense. Embora reconheça que a corrida não será fácil – pois a Câmara das Caldas é laranja há mais de 30 anos – o presidente da Distrital de Leiria acredita que é possível vencer, principalmente porque há pessoas que não são militantes do CDS mas conhecem e identificam-se com o trabalho e as ideias de Rui Gonçalves.
Já Margarida Varela, presidente da concelhia do CDS, disse que a aposta em Rui Gonçalves recai na sua seriedade, estrutural inteligência e assombrosa capacidade de trabalho. Mas também “na determinação com que abraça causas, no seu amor pela cidade e na coragem com que dá o peito às balas quando, por muitas vezes, é a única voz que sem medo se faz ouvir na defesa daquilo que consideramos importante denunciar”.