“Vamos mudar, mas no tempo. Não existe uma rotura, é evolutivo”

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Vítor Marques afirma que o seu projeto para a Câmara das Caldas é a oito anos, mas aponta para setembro a decisão quanto à recandidatura

O presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, afirma que não há falta de estratégia no executivo que dirige, embora reconheça atrasos na concretização. Queixa-se da burocracia e elenca uma série de investimentos que têm conhecido desenvolvimento. Com um projeto a 8 anos assume a recandidatura

Gazeta das Caldas inicia, com o presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, uma série de entrevistas aos líderes e oposição nos executivos. Com praticamente três anos do mandato autárquico, vamos fazer um balanço do trabalho e perspetivar o futuro.

É comummente acusado de falta de estratégia. Qual é a estratégia deste executivo?
Estratégia é coisa que não nos falta. Há um conjunto de ações que tiveram de ser feitas, desde estudos a projetos, arranjar as verbas necessárias para os desenvolver e depois concretizá-los. Numa primeira fase foi integrar e absorver toda a informação que existia na Câmara, depois começar a integrar aquilo que era a nossa estratégia no desenvolvimento socioeconómico do município e agora a concretizá-la. Houve um voto, não em maioria, sabemos disso, mas consagrou a estratégia que desenvolvemos para o município.
Que balanço faz destes três anos de mandato?
Para nós é um balanço positivo, sendo que até nós esperávamos estar um passo mais à frente nos objetivos de concretização, mas estamos em linha com as coisas que tínhamos projetado. As questões ligadas, sobretudo, à burocracia, criaram dificuldades e atrasos. Desde o primeiro ano que demos continuidade, num princípio muito básico de que a Câmara é uma pessoa de bem e há que honrar os compromissos. Projetos que estavam a ser desenvolvidos e que não faziam parte da nossa estratégia, foram avaliados e alguns cancelados, avançando para outros.

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Há muitos casos desses?
Não há muitos, mas estou a lembrar-me do World Press Cartoon, um projeto fantástico, de muita qualidade e notoriedade, mas que tinha um investimento muito grande para aquilo que era a ambição de dar respostas a muito mais ações. Inibia-nos de podermos fazer algumas coisas. Nas últimas eleições, as coisas que foram ditas por todas as forças políticas – e ainda são algumas – eram quase as mesmas. Difere, essencialmente, na prioridade das coisas.

Mas qual é a prioridade deste executivo?
T emos uma preocupação muito grande em relação à manutenção. Tivemos ao longo de todos estes anos, e bem, a oportunidade de fazer construção e de fazer um conjunto de equipamentos significativos e que hoje nos colocam numa posição bastante interessante a vários níveis, da cultura, do desporto, até da educação, mas que hoje carecem de manutenção. Como não existem apoios esse é um trabalho árduo que tem que se fazer. Depois é criar e ter as oportunidades para podermos desenvolver obra. O PRR trouxe-nos novas oportunidades, que não conhecíamos em campanha, e esperamos que muitas possam vir a ser concretizadas. Temos alguns projetos em mãos, na área da Educação para três escolas, a escola Raul Proença, a D. João II e a de Santa Catarina, que tem sido adiados consecutivamente, porque as verbas ainda não chegaram. Agora o PRR começa a esgotar-se no tempo e ainda não se concretizaram os procedimentos de contratualização, estamos um bocado preocupados. Temos projetos para obras de cerca de 28 milhões de euros com base do PRR e que estão consignados como prioritários e exigentes. A Câmara fez um empréstimo de 3 milhões de euros para um conjunto de obras significativas, também na área de educação, para intervenções nas escolas do Bairro da Ponte, Coto e Salir do Porto. Tivemos também a oportunidade de concorrer, e esperamos que haja resposta nos próximos dias, para a implementação de uma loja de cidadão nas Caldas, que será junto à CIMOeste.
Estamos também a reabilitar o Centro da Juventude, que está em obras, a biblioteca, que tem o concurso a decorrer, e o Centro de Saúde, para o qual analisámos entre o custo de um contentor e o do aluguer e obra de adaptação do Externato Ramalho Ortigão e optámos pela última solução. No futuro é nossa vontade que possa vir a ser um equipamento do município.

Qual seria a utilidade do antigo externato?
A nossa ideia é que possa estar sempre ligado à área da Educação. Temos tido reuniões com a Escola Nacional de Saúde Pública, com o IPL, com as universidades de Aveiro e da Beira Interior, para ver que oportunidades existem. Esperamos ter, no ano escolar de 2025/26, um CTESP na área da Saúde Termal através do IPL. Há muita coisa encadeada que está em condições de acontecer.

Os resultados é que demoram a aparecer…
Costumo dizer que não tenho e nunca tive, nesta vida autárquica e já lá vão 11 anos, a preocupação de inaugurar coisas. Gostamos é de fazer, muitos acusam-nos, e bem, também o reconhecemos, que nem sempre temos a melhor capacidade de comunicar o que fazemos. Mas se estivermos atentos, vemos que há muita coisa a aparecer.

As expetativas foram muito altas na sua eleição, mas surgem agora críticas à falta de resultados visíveis, inclusivamente dentro do movimento. Concorda com elas?
Não concordo. Disse logo de início que, por ventura, a ansiedade e a vontade das pessoas que deram um sinal, e fomos um bocadinho disruptivos e arrojados no nome Vamos Mudar. Claro que vamos mudar, mas no tempo. Não existe uma rotura, não é a partir do zero. É evolutivo. Quem me conhece, sabe que não sou pessoa de grandes roturas, sou pessoa de continuidade e depois fazer o caminho.

Na sua tomada de posse destacou o diálogo e a procura de consensos como solução governativa, no entanto, tem sido acusado de falta de diálogo, principalmente na Assembleia. O que é que mudou?
Tenho mesmo muita dificuldade em perceber essa acusação. Por exemplo, a nossa Ordem do Dia nas reuniões de Câmara é quase tão grande quanto o resto da Ordem de Trabalhos. Há sempre um diálogo muito grande, para tentar perceber a sensibilidade quer do PSD, quer neste caso agora do Luís Patacho. Promovemos reuniões com todos os partidos, agora com menos regularidade porque também foi sempre da nossa iniciativa, mas estamos disponíveis para que peçam reuniões para falarmos e pedir opiniões. Fizemos sempre com o orçamento e com outras atividades. Com os partidos temos feito isso, temos tido iniciativa e o contrário não é verdade.
Temos as nossas convicções e fazemos o caminho, mas não será por falta de diálogo. Quando se fala em falta de diálogo estamos a falar do saneamento, por exemplo, em que tivemos um diálogo na Câmara e ficou falado que se pedíssemos pareceres técnicos, passariam o orçamento e isso não aconteceu.

Foram pedidos os pareceres?
Estão-se a desenvolver. Na altura não havia nada a fazer. O nosso entendimento, e é o entendimento legal com o envolvimento da ERSAR, é que fizemos o caminho que é a legalidade do processo. Mas temos que ter consciência de que, em termos de saneamento, quem gasta mais dinheiro são os que não gastavam antes porque não faziam o trabalho devido. Ou os que gastavam de forma irregular, a usar recursos que não estão autorizados pelos SMAS. É um “fait divers”, é a política a funcionar, na sua pior forma, que é levantar estas questões. Nós tínhamos 4000 casas sem saneamento e ainda só temos 1500 a fazer limpezas. Note-se o investimento que o município fez de 1,2 milhões de euros na zona das Antas e Zambujal para ligar 140 casas e, passado um ano e meio, só temos quase 50 ligadas. Tem que haver aqui uma atitude diferente das pessoas na defesa dos seus interesses e dos interesses da comunidade. Se cumprirem com a legalidade, não têm mais custos.

É um assunto fraturante entre o VM e o PSD. Teme que o orçamento para os SMAS volte a ser chumbado?
Não quero acreditar nisso, porque aquilo que fizeram foi um sinal político e mostrar a sua força, mas ao mostrar a sua força também estão a penalizar os resultados do trabalho dos SMAS.

Com um novo chumbo tem condições de funcionamento?
Não tem condições. Tem sido um sufoco muito grande dos serviços para fazer todo o trabalho a usar ainda o orçamento de 2023. O primeiro semestre correu mais ou menos, mas atualmente está sufocante e daqui para a frente vai ser o caos, porque estamos inibidos de investir e os custos aumentaram imenso. Temos 1,44 milhões de euros disponíveis e não se está a investir. É um desperdício e acho que nenhuma força política quer continuar com esta situação.Temos que ter o tal diálogo que é necessário, esperamos conseguir vir a tê-lo, porque é preciso fazer grandes investimentos, nomeadamente na questão da ETAR, onde estamos à espera da classificação de Relevante Interesse Público pelo Ministério do Ambiente. Quando estiver consagrado poderemos candidatar-nos a um aviso que já abriu para a ampliação da ETAR, que é fundamental. Mas, não foi por isso que deixámos de ir, na medida do possível, fazendo investimentos. Temos mais viaturas, em termos de pessoal temos mais 10 pessoas e um concurso aberto. Temos feito um conjunto de trabalhos, mas também uma obra superior a 400 mil euros, que vai solucionar o problema das cheias na avenida do Mercadona, Continente e Cidade Nova, e fizemos uma vala hidráulica, na área dos Texugos. A par disto, foi feito um estudo, e projeto, para a zona da Rua Diário de Notícias para tentar mitigar os problemas que existem na Praça e que se estendem até à Rainha. É uma obra que provavelmente ascenderá a mais de meio milhão de euros.
Tem-se batido pela construção do novo hospital na localização Caldas-Óbidos. A Assembleia da República recomendou ao Governo que avance no Bombarral. É uma batalha perdida? Falta peso político ao movimento para influenciar a decisão?
Não é uma batalha perdida, vejam o exemplo do aeroporto. Em relação a ser um movimento e não um partido, são coisas diferentes, admitamos, não nos movemos nos corredores do poder, como os partidos. Mas, depois, se olharmos para trás, os partidos já lá estiveram e os resultados quais foram? Foram diferentes? Não! Eu continuo a acreditar que podemos alterar essa situação e ficámos até bastante agradados, quando foi a apresentação das moções, o antigo bastonário da Ordem dos Médicos [Miguel Guimarães] deu nota que as coisas têm que ser feitas na legalidade, obedecendo às regras de ordenamento do território. No dia 27 de setembro seremos recebidos pela Comissão de Saúde da Assembleia da República. Da parte da ministra da Saúde ainda não obtivemos resposta aos já três pedidos, e já houve mais um em nome das Caldas, Óbidos e Rio Maior. Acho que temos que continuar todos juntos nisto. Estes fait divers que se fazem à volta deste assunto, não deixam de ser isso e temos que ser muito superiores a essa situação.
Mas hoje a maior preocupação são as ofertas de saúde que não temos e o mês de agosto está a ser preocupante. Tem que haver um equilíbrio entre público e privado, algo tem que mudar porque não é a falta de médicos, é uma má gestão dos recursos que temos entre público e privado.

Caldas é cidade criativa da Unesco. Para que serve a distinção? Está a ser bem explorada?
Hoje estamos a desenvolver muitas ações, temos feito ligação e pontes com as cidades criativas.

E é bem explorada para fora?
Lá fora há mais reconhecimento do que as Caldas tem. Por cá não se valoriza o que temos.

Disse que a sua estratégia não era a quatro anos, mas mais prolongada no tempo. Vai recandidatar-se?
Os projetos são a 8, 10 anos, não mais do que isso. Estou disponível para um projeto a 8 anos e não mais. Um segundo mandato é uma avaliação que farei e da qual darei nota a partir de setembro. Se fosse para responder agora diria que sim, mas é algo que quero ainda maturar, discutir entre pares.

Como é que vê as Caldas daqui a uma década?
Muito melhor do que está hoje. Vejamos a cidade, o que estamos a desenvolver, como a alteração ao PDM na zona da PSP, que são decisões estratégicas. Temos tudo aprovado na CCDR, já tinha ido à assembleia e agora volta outra vez… Naquele terreno toda a gente quer que se abra uma avenida, desde a rotunda da CIMoeste à do hotel. Já comprámos um terreno e falta comprar outro. Demos continuidade a um projeto antigo. No estudo de mobilidade de 2019 está previsto um parque de estacionamento subterrâneo, pago, para aquele espaço. Também queremos uma praça e alguns prédios pois a cidade está a crescer e precisa de ter habitação. O espaço está classificado como urbano e há mais de 12 anos, não é do nosso mandato nem do mandato de Tinta Ferreira, é ainda do mandato de Fernando Costa.
Ao nível da habitação, apesar de ser muito difícil, temos dois loteamentos para habitação jovem, um em Alvorninha e outro no Carvalhal Benfeito, que tardam em arrancar, porque os jovens não têm hoje fundo de maneio para avançar com uma obra, não têm apoios. Estamos também a fazer um projeto para reabilitar um armazém antigo em A-dos-Francos para habitação jovem, e mais oito lotes de habitação jovem nos Casais de Santa Helena.
Estamos a trabalhar na reabilitação do lar das enfermeiras mas é um projeto com a DGPC e tem sido muito complexo de desenvolver.

O Hotel que está previsto para os Pavilhões do parque e que tarda muito em começar a obra. Há novidades?
Estivémos com o CEO da Visabeira há cerca de um mês e continuam a manifestar interesse em fazer o investimento. Há uma licença de obra que vai caducar em setembro e terão de tomar uma medida nesta altura. Iremos conversar com eles nos próximos dias, há vontade de parte a parte. ■

Ouça aqui a entrevista na íntegra

 

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