Teresa Magalhães, Maria Viegas e Daniel Soares refletem sobre uma problemática que afeta muitos jovens
Numa altura em que as tecnologias fazem parte do nosso dia-a-dia, as crianças usam-nas não apenas para entretenimento e diversão, mas também como fonte de educação, informação e comunicação. Apesar das inúmeras vantagens das tecnologias, sabe-se que o seu uso excessivo pode levar a situações de dependência.
O distúrbio de dependência de ecrãs e tecnologias é frequente? A prevalência real não é conhecida, mas sabe-se que cerca de 15% da população mundial de adolescentes faz uso excessivo do telemóvel e videojogos, embora a tendência seja progressivamente crescente.
Quando suspeitar deste distúrbio? São vários os sinais que nos devem deixar alerta, tais como a utilização contínua e incapacidade de reduzir ou parar atividades relacionadas com ecrãs, perda de interesse por outras atividades, mentir acerca da extensão do tempo de uso de ecrãs, entre outros.
Quais são os riscos do uso abusivo de ecrãs? Sabe-se que o número de horas diárias de exposição a ecrãs se associa a alterações cerebrais ao longo dos anos, particularmente do sistema dopaminérgico, associado à recompensa, tendo um efeito cerebral semelhante a outras drogas, podendo levar a dependência. Além disso, vários estudos colocam a exposição a ecrãs, como fator de risco para comportamentos aditivos e disfunções no controlo de impulsos em adolescentes, devido a estas alterações cerebrais.
Existe uma relação direta entre o uso abusivo de tecnologias e o aumento da obesidade na população pediátrica, pois promove o sedentarismo e reduz o tempo de lazer ao ar livre e de prática de atividade física. Outro risco que pode existir é o acesso a conteúdos indesejáveis para a idade, bem como o cyberbullying, que pode colocar a criança ou adolescente em situações de risco físico e mental.
Como prevenir o uso abusivo de ecrãs? Torna-se importante reconhecer o papel dos cuidados parentais nos hábitos da criança, devendo existir monitorização parental e estabelecimento de limite de horas de ecrã diário (para qualquer tipo de ecrã). A família e a escola deverão promover a atividade física e estilo de vida saudável.
Qual o tempo diário recomendado de ecrãs? As recomendações da Organização Mundial de Saúde e da Direção Geral de Saúde indicam que até aos 18 meses, o tempo de ecrã deve ser limitado a videochamadas com familiares ausentes. Dos 18 aos 24 meses, pode assistir-se a programas exclusivamente educacionais, acompanhados dos pais ou cuidadores. Dos 2 aos 5 anos, o tempo de ecrã não-educativo deve ser até 1 hora nos dias da semana e até 3 horas ao fim-de-semana. A partir dos 6 anos, deve continuar a encorajar-se hábitos saudáveis e limitar atividades que incluam ecrãs.
Deve desligar-se todos os ecrãs às horas das refeições, aplicar opções de “Controlo parental”, evitar uso de ecrãs como baby-sitter ou para resolver birras e desligar ecrãs e removê-los do quarto cerca de 1 hora antes do sono. ■