Um século depois da fundação, o PCP continua a acreditar que “é o grande partido do futuro”. Nas Caldas da Rainha a data foi assinalada, no passado sábado, com poesia, música e intervenção política
O sino da Igreja anunciou a hora certa – 15h00 – e na Rua Dr. Miguel Bombarda começou a ecoar a Internacional, o hino adotado pelo PCP e que, a esta mesma hora de sábado, se ouviu em mais de 100 lugares do país, assinalando o centenário do partido. De pé, junto às marcas amarelas previamente colocadas no chão (a garantir o distanciamento físico), cerca de meia centena de militantes e simpatizantes comunistas das Caldas e Óbidos, hasteavam a bandeira vermelha e, alguns de punho cerrado, entoavam a melodia, originalmente escrita em francês e cuja versão portuguesa da letra é atribuída o anarcossindicalista Neno Vasco.
Ao cimo da rua, num palco improvisado, de um lado estavam as bandeiras portuguesa e do PCP e, do outro, o merchandising do partido, entre eles um livro comemorativo da efeméride. Ao centro, uma faixa que assinala o aniversário e reclama por “Liberdade, Democracia, Socialismo – Pelos direitos, a melhoria das condições de vida e o progresso social. Contra a exploração e o empobrecimento”.
Foi junto a essas palavras de ordem que o dirigente da Concelhia das Caldas, José Carlos Faria, declamou poesia. Começou com “Uma Chama Não se Prende”, de Manuel Gusmão, e terminou com o poema do também comunista, Pablo Neruda, dedicado ao partido.
As bandeiras voltaram a ondular quando Nelson Rodrigues deu voz às palavras de Zeca Afonso e também de Ary dos Santos, que pouco depois da revolução dos cravos escreveu que “agora, o povo unido nunca mais será vencido”.
Na cerimónia foram lembrados os “intrépidos combatentes” que deram tudo de si para a causa do PCP
Ângelo Alves, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP e responsável pela Organização Regional de Leiria, falou aos camaradas sobre a luta centenária do partido “verdadeiramente do povo”, que atravessou “viragens e tempestades na situação nacional e internacional” e enfrentou uma ditadura fascista de quase cinco décadas. “Um partido que todos os dias destes 100 anos de luta agiu e age sempre contra a exploração, as injustiças e as desigualdades”, disse, destacando que estiveram sempre do lado certo da História.
O comunista falou da dedicação e trabalho de gerações de “intrépidos combatentes”, referindo-se às dezenas de milhares de quadros, que ao longo de um século, e também nas Caldas, “deram tudo de si, e muitos a própria vida”, para a causa do partido, destacando entre eles o líder carismático, Álvaro Cunhal.
Ângelo Alves destacou que os comunistas têm sido agentes ativos das transformações e que estiveram na primeira linha de combate pela implantação da democracia em Portugal. Falou sobre os problemas do país e de como a pandemia ainda veio agravar as desigualdades.
“A grave situação que o país enfrenta não se ultrapassa com o governo do PS amarrado às opções nucleares da política de direita, inviabilizando as respostas necessárias à solução dos problemas nacionais”, afirmou, garantindo que os comunistas não são “força de apoio ao PS, nem instrumento de favorecimento dos projetos reacionários do PSD e CDS e seus sucedâneos”. O PCP quer afirmar-se como a “força da alternativa patriótica e de esquerda”, que sabe que a solução dos problemas nacionais não surgirá do exterior, disse o dirigente, reafirmando que o partido tem uma alternativa, que reclama a “intensificação e alargamento da luta, de todas as grandes e pequenas lutas da classe operária, dos trabalhadores”. Uma política que passa pela aposta na produção nacional e uma menor dependência da União Europeia.
Em dia de festa comunista, houve críticas ao capitalismo e exaltação do socialismo e das suas causas: igualdade de direitos, generosidade, fraternidade, justiça social e solidariedade humana. Um século depois, o partido quer ser “mais forte”, precisa de mais membros e quer melhorar a sua organização e intervenção junto da população. Ângelo Alves garantiu que a luta continuará e que o PCP é o “grande partido do futuro”.
As comemorações irão continuar durante o ano e estão previstas diversas iniciativas a decorrer por toda a região. ■