Tenho 22 anos e, pela primeira vez, participei numa JMJ. Sentir a presença do Papa, absorver as suas palavras de Fé e Esperança e viver um espírito de comunhão com outros jovens de todo o mundo foram pontos altos
Tenho 22 anos e, pela primeira vez, participei numa Jornada Mundial da Juventude, enquanto peregrina. Estive presente apenas na Vigília, tendo passado a noite ao relento, mas partido mal o sol raiou. O cansaço decorrente de uma noite sem dormir, o suor e a sujidade advindos do calor e de ter tentado descansar sobre a terra, e ainda a perspetiva da dificuldade de regressar, devido ao facto de, no final da Missa de Envio, haver estações de metro encerradas e uma turba de quase dois milhões de pessoas que tornaria a marcha extremamente lenta, levaram-me a tomar a decisão de adiar o visionamento da Missa de Envio e de o realizar já em casa.
Porém, emoções não faltaram, nem experiências novas e diversificadas. É impressionante como, por estes dias, a cidade de Lisboa (e não só) se encheu de t-shirts vermelhas, verdes e amarelas, com os panamás e as mochilas da Jornada a condizer. Por onde quer que andasse, sempre um peregrino havia de encontrar. Em Algés (onde, por uma confusão, acabei por me deslocar), foi um grupo de franceses, com as pernas salpicadas de areia, entoando cânticos cristãos entremeados de paródias próprias da juventude. No metro que partiu do Cais do Sodré no sentido do Aeroporto, com paragem em Moscavide, onde havia de sair, fui sentada ao lado de uma peregrina da Croácia, cujo lugar foi depois ocupado por outra de Espanha, e, à minha frente, iam duas freiras vitorianas da Índia, mas atualmente a viver numa comunidade em Portugal. O silêncio e a indiferença que habitualmente imperam nestas situações foram trocados por um enorme entusiasmo e vontade de interagir com todo aquele que transportasse uma credencial associada à JMJ ao peito.
“É a isto que somos chamados: à unidade, à comunhão, à fraternidade que nasce de nos sentirmos abraçados pelo único amor de Deus”, afirmou o Papa Francisco, na abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade, em outubro de 2021.
Como descrever a minha reação ao ter o primeiro vislumbre das margens do Rio Trancão, ou Campo da Graça? Uma enorme mancha colorida formada por incontáveis pontinhos como nunca havia visto nada igual. E, como viria a verificar mais tarde, através de uma fotografia com uma perspetiva aérea, aquele não era o quadro completo. Depois, a azáfama para descobrir o setor para o qual cada grupo se deveria dirigir, entre cânticos de cada país, a maioria religiosos, mas também alguns profanos. O setor A – o do palco – não pôde sorrir a todos, que se espalharam também pelos B, C e D, do outro lado do rio, onde a Vigília, a Missa de Envio e as outras atividades, como concertos, foram visionados a partir de ecrãs, espalhados pelos diversos subsetores. Fiquei no C16, onde, cerca das 19 horas, lá consegui encontrar um pedaço de terra para “abancar,” mas não fui das últimas a chegar!
Era a algazarra, como o leitor pode imaginar, porém, assim que as primeiras palavras saíram da boca do Papa Francisco, o silêncio total, a concentração absoluta, lágrimas caindo de alguns olhos, inclusive os meus. Todos a absorver ao máximo o Conhecimento, a Vida e a Luz jorrados por aquela Fonte inesgotável do Amor e da Verdade de Cristo, enquanto duas penas brancas, espaçadas no tempo, caíram e, no seu voo leve e sereno, pousaram no colo de algum peregrino.
“Viva el Papa! Viva el Papa”, bradaram em uníssono os milhares, milhões de jovens, no final da Vigília. Arrepio-me enquanto escrevo e revejo o momento e a efusividade dos jovens. Pude testemunhar o quanto a Igreja está viva, o quão valoroso é o seu Sal e como a terra ainda sabe escutar. “O melhor de vocês é serem criativos: vocês são criativos, poetas!”, salientou o Papa, crente no poder transformador da juventude, na mensagem em vista da JMJ, em março de 2022.
Em suma, apesar do calor, da peregrinação (que, diga-se, não foi assim tão grande e, aliás, soube até muito bem) e das parcas condições no terreno (equipado, no entanto, com fileiras a perder de vista de lavabos, torneiras de água potável, carrinhas de venda de comida, demasiado cara – sete euros um pão com chouriço), da Jornada saí, sobretudo, profundamente renovada e fortalecida na fé, na esperança e no sentimento de comunhão, por oposição ao de solidão não raro experienciado no dia-a-dia. “Pergunto: vós, que estais aqui, que viestes para vos encontrar, para encontrar a mensagem de Cristo, encontrar o sentido bom na vida… Isto, ides guardá-lo para vós ou levá-lo-eis aos outros? Que pensais fazer? Não ouço! É para o levar aos outros, porque a alegria é missionária. Repitamos isto todos juntos: a alegria é missionária!”, incitou o Sumo Sacerdote, fazendo lembrar as palavras daquele a quem deve o nome: “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa Paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. (…) Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado”. ■