O evento que já se realiza há cerca de 30 anos aumentou em número de visitantes, grupos de recriação histórica e oferta alimentar
A Aljubarrota Medieval esteve de regresso à vila do concelho de Alcobaça com número recorde de visitantes. Até domingo, foram cerca de 40 mil aqueles que rumaram ao evento que recria a Batalha de Aljubarrota e o ambiente social, militar e comercial do século XIV.
Cerca de 20 grupos de recriação histórica ou de combate medieval, de norte a sul de Portugal, e 100 figurantes e atores deram vida à mítica batalha, decorrida a 14 de agosto de 1385, em que Portugal venceu Castela, apesar da desvantagem no que toca ao número de soldados, garantindo, assim, a independência de Portugal e pondo termo à crise dinástica de 1383-85.
“O número de figurantes tem vindo a aumentar nos últimos anos e também temos mais grupos a participar”, explicou Martim Antunes, da Companhia Livre, empresa contratada pelo município de Alcobaça, por concurso público, para organizar o evento, à semelhança das anteriores edições, à exceção de uma. “A Companhia Livre contactou os grupos, e dantes era muito à base dos voluntários, mas agora há cada vez mais grupos contratados e profissionais”, continuou o ator que desempenhou o papel de Antão Vaz, comandante ao serviço de D. Nuno Álvares Pereira, na recriação da Batalha de Aljubarrota, que teve lugar no domingo, dia 13 de agosto.
Os atores também estiveram presentes no recinto do evento, instalado nas ruas do centro, demonstrando os “misteres” da época.
No acampamento militar, homens de armas exibiram o seu material de combate corpo a corpo, como armaduras, manápulas, espadas e outras armas que tais.
Maurício Ramos é do grupo Cavaleiros da Torre, do Barreiro, cujo foco são os combates medievais, que têm lugar em Portugal e no estrangeiro. Fu Contacto Medieval é o nome da modalidade desportiva que promove aqueles torneios, “o mais perto que existe de uma batalha campal medieval”, em que tanto podem participar homens como mulheres e nos quais se usam armas de verdade, mas que “não podem ter zonas afiadas, é tudo rebatido”, e que devem respeitar limites de peso, explicou Maurício, que também produz armas medievais, que vende através da Internet. “Aqui em Portugal não [há mercado], garantidamente, mas no estrangeiro não tenho razões de queixa, principalmente Espanha. Os espanhóis adoram as minhas maces [arma medieval]”, comentou.
À frente da tenda dos soldados, uma cereeira demonstrava como se faziam velas a partir de cera de abelha ou de sebo de animal, o qual ardia mais rapidamente, As tonalidades mais escuras das velas feitas com cera de abelha (de cor amarela, quando novas) decorrem da reutilização da matéria-prima, contou aos curiosos visitantes Olga Figueira, da Companhia Livre.
Manuel Severino, presidente da Junta de Freguesia de Aljubarrota, vestido a rigor, conforme exigido pela participação no cortejo que sucedeu à batalha, demonstrou-se satisfeito com a adesão das pessoas ao evento. “Ontem [sábado, o primeiro dia] foi um sucesso, hoje novamente. Nos dois dias, penso que já recebemos mais de 40 mil visitantes, e ainda faltam outros dois, portanto, devemos ultrapassar os 60 mil”, afirmou. Um número “recorde”, sublinhou, assinalando ainda a forte presença de espanhóis, ingleses e franceses, a par dos portugueses que também vieram de diversos pontos do país.
Trata-se de um evento que visa “mostrar a nossa cultura, as nossas tradições”, salientou o presidente da Câmara de Alcobaça, Hermínio Rodrigues, bem como promover o turismo e a economia local. “É dos maiores eventos que temos no concelho e, mais uma vez, é uma aposta feita e ganha”, afirmou.
A nível da hotelaria, em Aljubarrota, esteve “tudo esgotado”, e em Alcobaça a procura por alojamento também é digna de menção.
A promoção da economia local realizada pelo evento passa também pelo facto das refeições serem vendidas, na sua maioria, pelas coletividades de Aljubarrota, que não pararam de servir, sendo que, este ano, foram também aceites inscrições de restaurantes. E, é claro, não faltaram vendedores ao longo das ruas, com produtos tão variados quanto mel biológico, bolinhos regionais, fatos de época, grinaldas, espadas e varinhas de fada, bijuteria ou tatuagens em henna. Um evento a não perder, nem pelos visitantes, nem pelos feirantes, como Cristina André, alcobacense aposentada do comércio, que já participa no evento, vendendo bijuteria e fatos medievais da sua autoria, há mais de 15 anos.
Dentro de casas e espaços comerciais, estiveram diversos vendedores de velharias, alguns dos quais se deixaram ficar após a participação na VI Feira Internacional de Antiguidades, decorrida entre 28 e 30 de julho, com cerca de 105 participantes.
O evento contou com um orçamento de cerca de 100 mil euros, cinco dos quais da Junta de Aljubarrota e o restante do município. ■