Numa viagem de 631 anos, Aljubarrota recuou a 1385 e recriou a batalha contra Castela. De 12 a 15 de Agosto, na vila alcobacense, foi possível reviver as emoções da História, ficar a conhecer armas e acampamentos medievais, escrever com uma pena, ou degustar os sabores da Idade Média. O evento serve também para homenagear os heróis portugueses nessa batalha: Nuno Álvares Pereira, a Padeira de Aljubarrota e D. João I.
A fome e a peste negra assolam a Europa e D. Fernando, que morreu dois anos antes, assinou o tratado de Salvaterra de Magos, que definia que a coroa portuguesa passaria para descendentes de Castela.
Com a morte do rei, e sem descendência gerada, D. Leonor assumiu a regência. Os populares uniram-se contra a perda da soberania e D. João de Portugal e o Mestre D’Avis perfilavam-se como alternativas para manter a independência.
Com uma das mais famosas encenações políticas da História, o Mestre de Avis sobe ao poder, sendo aclamado como regedor e defensor do reino.
Em 1984 Nuno Álvares Pereira vence a batalha dos Atoleiros, ganhando fama como estratega. No mesmo ano, Castela impõe o cerco a Lisboa, que acabou por cair devido à peste negra.
No Minho e nas Beiras travaram-se então batalhas, sempre ganhas por portugueses. Castela responde em força. Estimam-se que 32 mil soldados passaram a fronteira pelas Beiras, cortando por Coimbra a caminho de Lisboa. Foram interceptados em S. Jorge (Aljubarrota).
Os portugueses, comandados por Nuno Álvares Pereira, escolheram o local para a batalha e prepararam o terreno. A sua posição é ladeada por dois rios, impossibilitando o ataque pelas alas (ao que se sabe, apenas uma das alas a cavalo (a direita) conseguiu atacar, mas já numa fase tardia).
Antes da batalha os irmãos Álvares Pereira, Nuno (por Portugal) e Diogo (por Castela) procuram evitar a guerra, mas não há como o fazer.
Os castelhanos atacam com a sua vanguarda (constituída na maioria por franceses) a cavalo, mas o terreno havia sido armadilhado, obrigando os de Castela a desmontar e a combater a pé. Entretanto os arqueiros ingleses com os seus arcos longos e a “ala dos namorados” não dão tréguas e fazem voar milhares de setas pelo ar.
A bandeira castelhana é derrubada e começa a fuga dos soldados, que seriam perseguidos e assassinados.
Morreram cerca de mil portugueses e 4000 castelhanos em Aljubarrota. Nos dias seguintes mais 5000 castelhanos em fuga terão sido mortos pela população.
A batalha teria enormes consequências políticas. Em Castela, durante dois anos assinalou-se o luto oficial. Cerca de 200 anos depois, com o domínio Filipino em Portugal, a adoração ao Santo Condestável (Nuno Álvares Pereira) seria proibida, obrigando a população a venerá-lo “sob a capa” do Santo Amaro.
Em Portugal, a primeira e mais imediata consequência, foi a manutenção da independência, numa época em que tudo estava encaminhado para a subserviência a Castela.
Mas Aljubarrota teve também o condão de lançar os portugueses na rota dos Descobrimentos. Isto porque a identidade portuguesa saiu consolidada e porque esta vitória permitiu a ascensão de uma nova nobreza.
Além disso, a relação com Inglaterra ficou estreitada, de tal forma que em 1386 se assinou o Tratado de Windsor (um pacto de apoio mútuo que renovava o acordado em 1373), e que é, hoje, a mais antiga aliança diplomática em vigor.
UMA RECRIAÇÃO MUITO BEM CONSEGUIDA
Viajando para a actualidade, além da recriação da batalha e do consequente cortejo da vitória pelas ruas da vila (com a deposição das coroas de flores junto aos monumentos de Nuno Álvares Pereira e da Padeira), o evento Aljubarrota Medieval transforma toda a vila.
As ruínas da casa da antiga padeira servem de palco a um acampamento medieval onde é possível conhecer as vestimentas e as armas usadas naquela época. Há objectos (óculos medievais) e técnicas antigas (para amontoar lenha, construir com caniços, amolar ou escrever com pena). Há artesanato, do mais medieval ao mais recente e, pelas ruas, milhares de pessoas passeiam e fotografam as atracções.
Valter Jorge veio de Alcanena para ajudar numa taberna. “Não conhecia o evento, mas é diferente e engraçado”, disse, acrescentando que, mesmo com o bom tempo, “a vila é pequena, por isso não imaginava que viesse tanta gente”.
De Salamanca veio Toñi Nieto, que está a passar férias na Nazaré. “Fomos à Batalha e aconselharam-nos a vir aqui”, começou por contar, elogiando o evento: “está muito bonito, muito bem recreado e de uma forma simpática”.
Toñi não hesita em afirmar que “este tipo de eventos são muito importantes sobretudo para quem é de fora e para as crianças, que assim tomam contacto com a história de uma forma interactiva, mais estimulante que nos livros”.