O externato Ramalho Ortigão, propriedade do Patriarcado de Lisboa, irá transformar-se num lar de apoio a pessoas pobres com deficiência profunda e residência para as freiras que delas tomam contam, da congregação Irmãs do Cottolengo do Padre Alegre, Servidoras de Jesus.
O executivo caldense aprovou por maioria, na reunião de Câmara de 29 de Março, esta alteração deu possibilidade de uso do edifício, com os votos favoráveis do PSD e CDS-PP. Os vereadores socialistas votaram contra, por entenderem que desta forma o antigo externato não poderá voltar a ser um estabelecimento escolar.

A congregação Irmãs do Cottolengo do Padre Alegre, Servidoras de Jesus, de origem espanhola, e que está em Portugal desde 1989, vai instalar-se nas Caldas da Rainha, ocupando o antigo Externato Ramalho Ortigão, propriedade do Patriarcado de Lisboa.
O edifício irá receber obras para se adaptar à residência das freiras e também para poder apoiar mulheres pobres com deficiência.
A madre superior da congregação, Maria Irene Beneyto, disse à Gazeta das Caldas que não sabe quando tal ocorrerá pois antes terão que ser feitas as obras de remodelação. Também não sabe ainda se deixarão definitivamente as instalações de Lisboa, ou se irão dividir-se pelos dois espaços.
Na Casa da Divina Providência, em Lisboa, vivem quatro irmãs que prestam cuidados a 15 mulheres pobres, portadoras de deficiência. “O objectivo é que nas Caldas possamos aumentar um pouco mais o número de pessoas a ajudar”, disse a religiosa, que já visitou o espaço e gostou das instalações.
A possibilidade de alteração do uso do edifício que já foi externato, colégio e Escola Superior de Biotecnologia nas Caldas da Rainha, foi votada na sessão de Câmara de 29 de Março. A maioria social democrata e CDS-PP votaram a favor, enquanto que o PS votou contra.
De acordo com a deliberação da Câmara, a maioria concorda com esta alteração desde que cumprido o manifestado pelo Patriarcado e depois de ter a posição favorável da Segurança Social e do Ministério da Saúde.
O Patriarcado de Lisboa já tinha apresentado esta proposta em 2014, que foi recusada pelo executivo por “não considerar adequada a alteração de uso do edifício”, justificando com a necessidade de tipificação do uso pretendido e do seu enquadramento legal. O proprietário do edifício contestou esta decisão e, dado que a informação técnica o permite, agora a maioria decidiu “ponderar a alteração do uso”.
O vereador do CDS-PP, Rui Gonçalves, reconhece que preferia que o edifício continuasse a ter um uso relacionado com o ensino, mas que o proprietário entende que não o pode dar, pelo que esta solução é melhor do que continuar sem ser utilizado e a degradar-se. Para além disso, o vereador centrista, realça que os serviços jurídicos entendem que “não existe impedimento legal” para a alteração de uso.
Novo uso vai “transfigurar” o edifício
Já os vereadores do PS, Rui Correia e Jorge Sobral, manifestaram-se contra o desaparecimento do Externato Ramalho Ortigão, como edifício ligado ao ensino. Consideram que a decisão tomada por maioria da Câmara, “contribuiu definitivamente para que aquele conjunto edificado nunca mais possa participar numa melhor e diversificada educação no nosso concelho”. Na declaração de voto, os vereadores referem que o externato serviu centenas de jovens caldenses e da região, que têm a sua juventude profundamente ligada àquela escola e que ainda hoje os antigos alunos se juntam para relembrar amigos e a importância que aquela teve nas suas vidas.
Rui Correia e Jorge Sobral reconhecem como meritória a função que o edifício irá ter, mas entendem que esta “não explica esta transformação abrupta, que tanto diz aos caldenses” e dizem que existem outros espaços que podem ser aproveitados para a concretização deste projecto.
Alertam ainda para o facto de terem de ser feitas obras para albergar o lar de apoio a doentes com deficiência profunda, que acabarão por “transfigurar completamente” o edifício.
Também João Jales, antigo aluno e um dos dinamizadores do grupo de Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão, gostaria de ver aquele edifício ligado a um estabelecimento de ensino. “Foi um pólo da Universidade Católica, que nos deixou satisfeitos. Veríamos com satisfação que isso continuasse a acontecer, que estivesse cheio de gente nova e que servisse o mesmo propósito”, disse.
João Jales consultou alguns antigos alunos, até para saber se a associação deveria tomar alguma posição sobre o assunto, e “a opinião generalizada foi de que não, que aquilo é da Igreja, que está a dar-lhe a utilização que entende”. O antigo aluno não esconde que vê com alguma “tristeza pessoal” que o edifício deixe de ter a utilização que sempre lhe conheceram.