As memórias de Maximino Martins em livro

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A apresentação pública da segunda edição de “Memórias” decorreu em Óbidos, durante o Folio.
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Repleta de episódios da sua vida e também da sua terra, a obra é um legado para a família, mas também para os estudos etnográficos da região.

Nasceu a 2 de março de 1943 e foi batizado na Capela de Santo André, no Arelho, com apenas 17 dias, não porque tivesse algum problema de saúde, mas porque naquela pequena localidade decorreu uma missão orientada por um padre holandês, que celebrou a cerimónia. A II Guerra Mundial ainda haveria de durar mais dois anos, mas já se fazia sentir a falta de alguns bens de primeira necessidade, como o pão e o açúcar, lembra Maximino Martins nas suas “Memórias”, cuja segunda edição, revista, foi apresentada em Óbidos, a 10 de outubro, durante o Folio.
Protegido pela mãe da dureza do trabalho do campo, ainda ajudou o pai e os tios nas tarefas agrícolas, mas concluiu a 4ª classe e prosseguiu estudos no seminário, tendo sido um dos primeiros a “sair da terra para ir estudar”. Dos tempos de infância, lembra a pesca à sertela, com o pai, que era feita sobretudo durante o inverno, que por vezes era muito rigoroso.
“Quando a chuva impossibilitava que as pessoas fossem para o campo trabalhar, por vezes durante semanas, eram as enguias que apanhavam e depois vendiam, que lhes garantia passar esse período”, recordou Maximino Martins. Ele próprio, em miúdo, chegou a ir a pé, do Arelho até Óbidos, vender as enguias que o pai apanhava durante esses dias de invernia às senhoras que residiam na vila.
A Lagoa ocupa, de resto, grande parte das páginas do livro. Memórias que vão desde a construção de uma bateira, à abertura da sua ligação ao mar, as salinas, a apanha do limo para fertilizar os terrenos circundantes, até à pesca à fisga e a apanha do mexilhão e caranguejos.
Com cerca de 12 anos Maximino foi para o Seminário da Ordem Missionária do Verbo Divino, em Fátima, onde permaneceu um ano, até que seguiu estudos no Seminário Diocesano de Santarém, por mais dois anos e meio, Viria a sair por “não ter uma verdadeira vocação para Padre”, reconhece.
Ainda foi estudar para a Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha e aos 18 anos começou a trabalhar na Tesouraria da Fazenda Pública de Óbidos e “também a deitar o olho àquela que haveria mais tarde de ser minha mulher e mãe dos meus filhos – a Mariazinha, como era conhecida por toda a gente na terra …”, recorda na obra de perto de 350 páginas, que conta também com diversas fotografias da sua juventude, muitas delas tiradas durante o serviço militar em Moçambique, das artes da pesca e instrumentos ligados ao trabalho agrícola.

Exemplo de cidadania
Uma promoção levou Maximino para Alpiarça, onde foi gerir a Tesouraria da Fazenda Pública local, em 1987, regressando a Óbidos três anos mais tarde e manteve-se à frente da Tesouraria de Óbidos até ao ano de 1997. Já aposentado, e depois do falecimento da sua companheira de uma vida, passou a ajudar mais assiduamente na paróquia e o amigo padre José Luís convidou-o a tornar-se diácono, desafio que aceitou, tendo sido ordenado em 2004. Paralelamente, continua membro da Associação de Defesa do Património de Óbidos e colaborou, desde o início da sua fundação, com a Associação Mar d’Água. Em 2008 foi homenageado, pelo município de Óbidos, com a medalha de mérito.
Perante uma sala cheia de amigos, Maximino Martins referiu-se à sua obra como um “repositório de memórias” e sugeriu para que todos sigam o seu exemplo. “É importante fazê-lo para que os vossos filhos e netos conheçam as vossas histórias”, sublinhou.
João Carlos Costa, que apresentou a obra (e também a apoiou em conjunto com o município), partilhou o privilégio de privar há várias décadas com quem considera ser “um exemplo perfeito” em várias dimensões. A dedicação aos outros e a defesa de causas, entre elas da Lagoa de Óbidos, foram também realçadas pelo comunicador.
Também presentes, os amigos António Marques e o padre Marco Leotta, destacaram a sua generosidade, ao passo que o presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel, realçou o seu exemplo de cidadania. “Pessoas como o Maximino são ímpares na nossa sociedade”, manifestou.
O livro “Memórias” encontra-se à venda na Gazeta das Caldas, por 12 euros. Todo o valor angariado com esta venda será para a realização de uma terceira edição e os livros sobrantes das vendas serão, depois, oferecidos à biblioteca de Óbidos.

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