
Na quarta-feira, 7 de outubro, Kata Koleszár e Guillaume Ozon davam as últimas pinceladas nas paredes da nova pediatria do hospital das Caldas da Rainha. Das suas mãos saíam agora borboletas, pássaros e abelhas, que completavam os desenhos que fizeram durante as três últimas semanas com o objetivo de humanizar o serviço que recebe crianças e jovens até aos 18 anos.
Pouco tempo depois os dois artistas apareceriam, ainda com as roupas cheias de tinta, na pequena inauguração do espaço e não escondiam a satisfação, que aliás era comum à equipa do serviço de Pediatria, responsáveis do CHO e da autarquia, bem como dos patrocinadores. “Estou muito feliz com as pinturas, foi um sonho que nasceu no início da obra da nova Urgência e que pareceu-nos bastante difícil de conseguir, especialmente devido à pandemia”, referiu a diretora do serviço de Pediatria, Luísa Preto, destacando que estes desenhos “amenizam um local onde ninguém quer estar, mas que as circunstâncias assim o forçam”.
O trabalho foi realizado em três semanas por dois pintores da Fundação Anouk. Kara e Guillaume desenharam e pintaram frutas, mas também bonecos a interagir com os equipamentos colocados nas várias salas e outros que ensinam, de forma divertida, como tomar banho, lavar os dentes e as mãos. Na sala de entrada do serviço, está a história da fundação da cidade.
As pinturas vão de encontro à aposta na humanização dos serviços deste hospital
O seu trabalho funcionou em simultâneo com o os profissionais de saúde, pois as tintas utilizadas são especiais. Sem cheiro, de secagem rápida e longa durabilidade, mesmo quando em contato frequente com os produtos de limpeza, as tintas originárias da Holanda e fornecidas pela empresa espanhola AkzoNobel, são as utilizadas pelos artistas da fundação Anouk há vários anos. Alejandro Villar, representante da empresa, lembra que já colaboram nestes projetos há 14 anos, com intervenções por toda a Europa.
A presidente do Conselho de Administração do CHO, Elsa Baião, destacou o “ambiente muito acolhedor” proporcionado pelas pinturas, que vai de encontro à perspetiva de humanização dos serviços, em que este centro hospitalar tem investido nos últimos tempos. A importância da humanização do espaço foi corroborada pela enfermeira-chefe do serviço de pediatria, Liliana Lindinho, que acompanhou diariamente os trabalhos. “É muito mais cativante para a criança, e até mesmo para a família que a acompanha, ver estes espaços agradáveis”, disse, lembrando que se trata de uma continuidade do trabalho já feito, há uma década, no internamento de pediatria, e uma mais valia para aquele serviço.
De acordo com o enfermeiro Nuno Pedro, há mesmo estudos que mostram que este tipo de enquadramento diminui a ansiedade dos mais pequenos e dos pais. “Há crianças que olham para os desenhos e ficam mais relaxadas, com menos medo”.
Também presente na cerimónia, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, reconheceu a valorização do espaço, que permite criar outras condições de conforto e acolhimento, para os utentes e trabalhadores.

Esta intervenção artística na nova Urgência Pediátrica teve um custo na ordem os 20 mil euros, garantido pelos apoios do Grupo de Golfe da Praia D’el Rey (Associação de Caridade dos Membros e Amigos), AkzoNobel, Fundação Anouk, Câmara das Caldas, Liga dos Amigos do Centro Hospitalar das Caldas, CHO e própria comunidade. O montante ainda existente será aplicado na colocação de placas protetoras ao longo de todas as paredes, de modo a reforçá-las, protegendo-as, por exemplo, dos embates das macas. Entre os próximos objetivos do serviço, que conta neste momento com 14 médicos e 27 enfermeiros, será obter a acreditação modelo ACSA pela DGS, “no sentido de cimentar o serviço de referência, em termos local e regional, que já somos”, concretiza o enfermeiro Nuno Pedro.
Quem é a Fundação Anouk?
Sediada em Genebra (Suiça), foi criada em 2008 e desde então já concretizou perto de 200 projectos em instituições de 16 países da Europa, atingindo mais de 4,5 milhões de beneficiários.
- O nome Anouk é uma homenagem que os responsáveis decidiram fazer a uma menina, deficiente mental, filha de um dos patrocinadores que lhes garante as oficinas
- Trata-se de uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é humanizar os hospitais
- A equipa de artistas de pintura terapêutica trabalha em estreita colaboração com os profissionais das instituições onde colaboram
- O seu trabalho é desenvolvido em hospitais, lares, orfanatos, centros psiquiátricos e para e refugiados