Bombeiros de Óbidos assinalaram 95 anos com celebrações em A-dos-Negros

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As comemorações têm sido descentralizadas pelo concelho

A associação, que ruma em contraciclo, tendo quase duplicado o número de bombeiros quando há falta de voluntários, enfrenta agora desafios de gestão inerentes ao aumento dos custos dos combustíveis

Centenas de populares juntaram-se no largo da Igreja de Santa Maria Madelena, em A-dos-Negros, para assistir às cerimónias de mais um aniversário dos Bombeiros de Óbidos. Houve desfile, apeado e motorizado, a promoção de vários bombeiros e a atribuição de medalhas pelos anos de serviço, bem como a distinção do bombeiro do ano e a atribuição de louvores.
A cerimónia ficou ainda marcada pela atribuição do crachá de ouro a António Fernando Ventura da Silva, falecido recentemente devido a um fulminante enfarte agudo do miocárdio. O chefe Ventura, de A-dos-Negros, foi lembrado pelo seu “altruísmo, dedicação, empenho e exemplo” no Corpo de Bombeiros, com um minuto de silêncio e aplaudido de pé.

Na cerimónia, que decorreu no salão da localidade, José Machado, presidente da Assembleia Geral da associação humanitária, lembrou os importantes desafios da gestão da associação, no atual contexto, para vencer as dificuldades acrescidas, ocorridas devido à pandemia e a consequências da guerra na Ucrânia, designadamente na subida dos preços dos combustíveis. “A sustentabilidade dos Bombeiros de Óbidos é um grande desafio em que a direção da associação está empenhadíssima, procurando progressivamente otimizar a gestão”, disse, acrescentando que são essenciais os apoios financeiros do Estado, do município, das freguesias, de empresas e de cidadãos. Também os novos estatutos da associação contam agora com o conselho consultivo, que deverá dar contributos.
O trabalho que tem sido feito nos últimos três anos, e que é continuidade dos comandos anteriores, foi lembrado pelo atual comandante, Marco Martins. O bombeiro, prestes a celebrar 30 anos de carreira, destacou o aumento significativo do efetivo, que passou de cerca 80 para perto de 130 bombeiros e o facto de serem um corpo de bombeiros inclusivo, com voluntários oriundos do Brasil, Angola e Cabo Verde e bombeiros com alguma dificuldade de coordenação motora. “Não fechamos a porta a quem quer que seja, todas as pessoas que queiram contribuir vamos dar-lhes oportunidades de, com as suas limitações, puderem fazer parte da fileira dos bombeiros”, referiu. O aumento de elementos permitiu-lhes também alcançar o “marco histórico” de corpo de bombeiros tipo 1, ficando ao nível de corporações como as Caldas ou Leiria.
Também Mário Minez, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Óbidos (AHBVO) lembrou o trabalho feito nos últimos cinco anos, destacando que o “maior feito” foi a remodelação e restruturação administrativa e financeira, que permitiu que tenham terminado 2021 com um resultado positivo superior a 50 mil euros. Para Mário Minez o desafio agora será o de “dar manutenção a este corpo de bombeiros, de modo a dar-lhes maturidade e melhorar a qualidade e profissionalismo”.
A preocupação com a disponibilidade de recursos humanos foi partilhada pelo comandante distrital, Carlos Guerra, que deixou uma palavra de incentivo aos que ingressaram nas fileiras da corporação obidense. O responsável realçou ainda o esforço da autarquia no apoio para garantir a entrada em funcionamento de uma segunda equipa de intervenção permanente.
Também presente na cerimónia, o presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel, referiu-se aos bombeiros voluntários como uma “estrutura básica indispensável” na sociedade portuguesa. “O país não se pode dar ao luxo de os ignorar nem os governantes se podem demitir da responsabilidade que lhes cabe, de garantir às centenas de associações que suportam os corpos de bombeiros, em todo o país, as condições mínimas de bom funcionamento e operacionalidade”, concluiu.

Missão na Ucrânia em destaque
António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, defendeu a identidade do bombeiro, destacando que estes são, e serão, a estrutura fundamental de qualquer sistema. O responsável deixou ainda um agradecimento especial ao comandante Marco Martins, reconhecendo que, sem ele, provavelmente o sucesso obtido pela representação dos bombeiros portugueses na missão à Ucrânia não teria abrangido o nível de profissionalismo que atingiu. Como forma de agradecimento, o secretariado executivo da Liga decidiu atribuir-lhe uma medalha de serviços distintos pelo trabalho que fez e pelo entusiasmo que transmitiu a todos.
Já antes tinham sido atribuídos louvores à equipa de bombeiros que participou, pela primeira vez, numa missão internacional de ajuda humanitária na Ucrânia, de cerca de duas semanas. Os soldados da Paz prestaram apoio logístico na entrega dos bens na Polónia e também das ambulâncias doadas por várias corporações de bombeiros portuguesas.
Também presente na cerimónia, Maksym Bohun, representante da associação SOS Army, agradeceu a ajuda que tem sido prestada ao povo ucraniano e aos voluntários que estão na linha da frente, com a entrega de 12 ambulâncias. Algumas delas já foram destruídas com os bombardeamentos, mas “o trabalho feito já permitiu salvar 100 vidas”, comunicaram-lhe “os médicos militares que trabalham na linha da frente”, disse, especificando que cada ambulância que foi entregue, salva, por dia, duas pessoas. ■