
Bombeira voluntária há 21 anos, foi também a primeira graduada e a assumir cargos de chefia na corporação
O nome de Bruna Simões vai ficar para a história como o da primeira mulher a assumir um cargo de comando na corporação de bombeiros da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha. É um cargo que a orgulha e que quer honrar, não apenas por ser mulher, mas porque acredita que tem todas as competências para desempenhar, esperando contribuir também para que, no futuro, outras lhe sigam o exemplo.
Foi no dia 10 de junho de 2021 que Bruna Simões tomou posse como adjunta de Comando, o degrau mais alto que escalou até hoje na carreira na corporação das Caldas, mas que acaba por ser uma evolução natural de todo o seu percurso.
Nos 21 anos que já leva ao serviço, Bruna Simões foi estabelecendo marcos importantes, mas quando entrou na corporação como cadete, na viragem do milénio, estava longe de imaginar onde chegaria. Progrediu para bombeira de 3ª, e depois para bombeira de 2ª, antes de se tornar a primeira mulher bombeira a obter graduação nos bombeiros caldenses. “Aí já era diferente, era chefe de equipa e já tinha outras responsabilidades”, recorda. Todo o percurso foi feito “passo a passo, com muito trabalho. Quando tinha 25 anos nunca pensei ser graduada, mas sempre tive como objetivo ser melhor amanhã do que sou hoje, não para ser melhor do que alguém, mas por mim mesma”, sublinha.
Essa sede de adquirir mais conhecimento levou-a além do ser bombeira. É técnica de proteção civil e formadora externa da escola de bombeiros. “Sou uma pessoa que gosta muito de formação, de estar atualizada, mas também de transmitir e partilhar o que aprendo com os colegas. É tudo isso que me faz evoluir e daí o comandante ter confiado em mim para esta tarefa”, afirma.
“A questão da igualdade não é por termos que ser iguais, mas sim porque temos que ter as mesmas oportunidades, algo que ainda não está garantido na sociedade”
Bruna Simões
Estar no Comando é “um desafio, um grande orgulho e uma responsabilidade”. “Não é só poder dizer que cheguei aqui, tenho todo o trabalho e a responsabilidade, tenho bem a noção disso”, diz Bruna Simões, que além da função no Comando, tem que gerir o ser dona de casa e ainda a vertente profissional que desempenha na AHBVCR e que também sofreu alterações, estando agora a coordenar o setor de transportes e funcionários do INEM e da central de operações. “É muito trabalho em todos os aspetos, mas está a ser bastante gratificante”.
Já o facto de ser a primeira mulher no Comando da corporação caldense é “um motivo de orgulho, como é óbvio”. Bruna Simões não sentiu qualquer discriminação por ser mulher. “As mulheres bombeiras olham para a frente e percebem que há aqui uma porta aberta, porque somos todos bombeiros, independentemente de ser homem ou mulher, e o que interessa são as competências”.
A Adjunta de Comando sublinha que as mulheres devem chegar a cargos de topo, seja nos bombeiros, ou em qualquer outro tipo de instituições pelas suas capacidades e não porque se defina que devem aí haver mulheres. “A questão da igualdade não é por termos que ser iguais, mas sim porque temos que ter as mesmas oportunidades, algo que ainda não está garantido na nossa sociedade. O Comandante Nelson Cruz veio mostrar isso, que as mulheres bombeiras desta casa podem e devem investir para evoluir nas suas carreiras e formação, porque não estão a trabalhar em vão”, sustenta.
Na tomada de posse de Bruna Simões esteve Teresa Dantas, a primeira mulher bombeira em Portugal e também a primeira a chegar a um posto de comando. “É uma amiga e uma mulher que me inspira. Ainda eu não era nascida já ela era bombeira numa época muito mais difícil, porque muitos homens tentaram fazer com que ela não evoluísse e ela conseguiu-o com muito mérito”.
Chegar ao Comando não é, no entanto, o topo da linha para Bruna Simões. Não é que ambicione ser Comandante da corporação, mas porque busca sempre a evolução. “O nosso percurso nunca está completo e isso não tem a ver com o posto que se ocupa, tem a ver com o trabalho em si, o dar passos todos os dias para ser melhor, é isso que tenho para o meu futuro”.
Nos Bombeiros das Caldas da Rainha há 16 bombeiras voluntárias, num efetivo de 104. No entanto, e curiosamente, dos 24 bombeiros estagiários atualmente a procurar entrar para o efetivo, a maioria (13) são mesmo mulheres. ■