
Protocolo com Águas do Tejo Atlântico fornece 570 m3 diários de água tratada pela ETAR do Casalinho
O campo de golfe West Cliffs, no concelho de Óbidos, começou no passado dia 28 de agosto a ser regado com água reciclada, proveniente da Fábrica de Água do Casalinho. O protocolo assinado no mesmo dia entre a Priority Goal, empresa que gere o campo, e a Águas do Tejo Atlântico vai permitir regar os cerca de 22 hectares de relvado com 570 m3 por dia de água tratada na ETAR.
Joaquim Goes, da Prioritary Goal mostrou-se satisfeito por mais este passo dado no sentido da sustentabilidade ambiental do campo de golfe West Cliffs, um campo já premiado pela Foundation for Sustainable Golf. “É um campo de nova geração, com preocupações de sustentabilidade”, disse. O campo tem uma área de 22 hectares de superfície relvada, cerca de 25% menos do que a média destes campos, que ronda os 30 hectares. A vegetação circundante é autóctone, também a pensar numa menor necessidade de rega, e o clube é alimentado por energia solar fotovoltaica. “Fazemos um trabalho diário de monitorização climática e qualidade do ar para decidir se é necessária rega ou não”, acrescentou Joaquim Goes. A estas medidas, junta-se agora uma rega responsável com água+, denominação atribuída pela Águas do Tejo Atlântico à água reciclada nas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).
O representante da empresa que gere o West Cliffs assinalou esta parceria entre os setores público e privado “para defender o planeta” e sublinhou que estas políticas de sustentabilidade em nada retiram qualidade e competitividade ao seu campo de golfe.
“Este é o segundo campo fora do Algarve com maior número de voltas, 32 mil este ano, apenas atrás do campo da Praia D’El Rey [também gerido pela Priority Goal], com 40 mil”. “Os jogadores já valorizam os campos que têm estas preocupações”, acrescentou.
O empresário não deixou, no entanto, de apontar a longa demora no processo, que levou sete anos a concretizar desde a apresentação do projeto até concretizadas todas as autorizações.
Este foi um ponto que Nuno Brôco, presidente da Águas do Tejo Atlântico, também focou. “O processo de licenciamento foi iniciado em 2020, houve um caminho realizado com APA e ERSAR e este é um momento de satisfação, mas também de reflexão, porque a dinâmica das alterações climáticas exige que atuemos mais rápido”, afirmou.
A ETAR do Casalinho, localizada a cerca de 7 km dos campos de golfe, foi uma das pioneiras do país a garantir uma total descontaminação das águas residuais urbanas. “Foi uma infraestrutura e um modelo de gestão construídos há 20 anos pela urgência na proteção da lagoa”, lembrou Nuno Brôco. Um projeto então liderado pela Águas do Oeste e a Câmara de Óbidos “projetada e concretizada em 6 meses, um prazo que hoje a todos nos faz inveja”, acrescentou.
A ETAR, ou Fábrica de Água, como a Águas do Tejo Atlântico prefere chamar, tem uma capacidade de tratamento de 911 m3 por dia e consegue 100% das lamas e 100% do fósforo. Desses, 570 m3 serão encaminhados por dia para o lago do campo de golfe, do qual segue, depois, para o sistema de rega.
Hugo Pereira, vice-presidente da Águas do Tejo Atlântico, disse que a empresa, que tem uma área de cobertura de 23 municípios da Grande Lisboa e Oeste, trata por ano 200 milhões de m3 de águas resíduas urbanas, “o equivalente a 40 barragens do Arnóia”, comparou. As vantagens deste caudal é que menos irregular e não tem sazonalidade. No entanto, ainda apenas 2% a 3% desta água tem um reaproveitamento, algo que a empresa quer mudar. “A qualidade com que tratamos a água tem obrigação de lhe dar uma segunda utilização”, afirmou, acrescentando que, atualmente, 60% desta água+ acaba por desaguar no mar ou em rios fortemente salinizados. “É uma água que tem potencial enorme para valorizar o território e a economia”, rematou.
É nisso que a empresa e a Câmara de Óbidos estão também a trabalhar em parceria. Filipe Daniel, que se mostrou agradado por ver este programa pioneiro em Portugal arrancar no concelho que dirige, adiantou que estão já a ser estudadas outras aplicações para a água reciclada. “Vão seguir-se outros projetos em proximidade com a Águas do Tejo Atlântico”, adiantou.
O autarca reforçou o compromisso do município obidense com a sustentabilidade, manifestando vontade de estudar o desenvolvimento de um composto orgânico que possa servir de fertilizante agrícola com dois tipos de resíduos problemáticos, as lamas das ETAR e os biorresíduos.
A própria Águas do Tejo Atlântico tem definido como objetivo fazer a água+ chegar a seis campos dos 12 campos de golfe do território que abrange, mas também a regadio agrícola. ■