Numa semana em que o termalismo esteve em destaque nas Caldas da Rainha, o Hospital Distrital das Caldas também foi motivo de conversa. Quem puxou o assunto foi o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, que na abertura do X Congresso de Hidrologia Médica aproveitou a presença do secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado.
“Venho pedir que rapidamente sejam feitos os investimentos necessários em equipamentos, obras e recursos humanos, de forma a que o Hospital das Caldas deixe de ser um motivo de preocupação”, disse Tinta Ferreira, acrescentando que “não podemos correr o risco que lhe aconteça o mesmo que aconteceu com o Hospital Termal: encerrar”.
Manuel Delgado não incluiu no seu discurso qualquer referência ao Centro Hospitalar do Oeste, mas disse em declarações aos jornalistas que a passagem desta unidade de SPA (Sector Público Administrativo) para EPE (Entidade Pública Empresarial) estava para muito breve e acontecerá “no máximo em duas semanas”.
“Esta decisão política está tomada há muito tempo, a espera deve-se apenas a questões administrativas, pois é vontade do governo criar condições que facilitem a gestão do CHO, libertando-o de uma série de constrangimentos, principalmente ao nível da contratação de recursos humanos [em que se incluem os precários]”, explicou o secretário de Estado da Saúde.
A alteração de estatuto jurídico estava já prevista para Fevereiro deste ano.
Gazeta das Caldas tem questionado desde há três semanas o Ministério das Finanças sobre por que motivo não se alterou ainda o estatuto jurídico do CHO, mas nunca obteve resposta.
COMPARTICIPAÇÃO DOS TRATAMENTOS TERMAIS
A questão da comparticipação dos tratamentos termais no Serviço Nacional de Saúde também veio à baila no congresso. Manuel Delgado não se comprometeu, mas afirmou que há espaço para equacionar a reposição das comparticipações. “Só que esse acréscimo de despesa para o SNS tem que ser muito bem estudado tendo em conta o custo-oportunidade desse gasto face à comparticipação de medicamentos para doenças mais graves e para as quais os medicamentos são decisivos para salvar vidas ou dar qualidade de vida a doentes crónicos”, acrescentou.
O secretário de Estado realçou que desde 2016 existe um grupo de trabalho dentro do ministério encarregue de identificar os instrumentos necessários à dinamização da actividade termal e definir formas de comparticipação específica para os tratamentos com água.
O governante reconheceu que “a água medicinal é um dom da natureza e que aproveitá-lo significa demonstrar em primeiro lugar a sua qualidade, vincando o valor acrescentado que representa para a qualidade de vida de muitos doentes”, nomeadamente nas áreas das doenças respiratórias, gastroenterológicas, reumáticas, dermatológicas e nervosas, “funcionando como complemento com vantagens óbvias aos tratamentos farmacológicos”.
Pedro Cantista, presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica e Climatologia, salientou que dos muitos congressos que organizou foram poucos os que contaram com a presença de uma figura do Ministério da Saúde. Elogiando a vinda de Manuel Delgado, disse que “espera-se uma viragem e renovação no que respeita ao termalismo em Portugal”.
Termalismo é essencial para prevenir doenças
Durante uma semana Caldas da Rainha foi capital mundial do termalismo e para isso muito contribuiu a organização do X Congresso da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica, entre os dias 18 e 20 de Maio.
Foram abordados vários tópicos, como o actual panorama do termalismo em Portugal, relacionou-se o impacto dos tratamentos termais no tratamento de doenças renais e respiratórias, desmistificou-se a ideia que as estâncias termais são apenas frequentadas pela população sénior (o termalismo infantil está em crescimento) e mencionaram-se as propriedades das águas medicinais e o modo como são extraídas. Foi ainda feita referência à história do termalismo caldense e dado o exemplo do funcionamento de outras termas nacionais.
Mas um dos temas que mereceu maior destaque foi o papel fundamental que as termas podem ter na prevenção de doenças e na promoção da saúde. Carlos Jorge Rodrigues explicou que “o conceito de saúde já não é apenas a ausência de doença pois cada vez mais se dá importância ao completo bem estar físico, mental e social”.
O médico alertou para a importância das estâncias termais incluírem programas de actividade física, nutrição e educação para a saúde de forma a contribuírem para a diminuição de factores de risco como a hipertensão, o colesterol, o excesso de peso e obesidade, o tabagismo, o sedentarismo e o inadequado consumo de frutas e vegetais.
“Se queremos uma população saudável temos que evitar as doenças, uma vez que para alguns casos não há forma de tratá-las. Uma estratégia é implementar o conceito termalismo do bem-estar, que promove a saúde, independentemente do utente ter alguma doença ou não”, acrescentou. M.B.R.