Comércio tradicional queixa-se de menos vendas no Natal

1
692
- publicidade -

O comércio tradicional não passa pelos melhores dias, aliás como todos os portugueses. Gazeta das Caldas efectuou uma pequena ronda e confirmou que de facto as venda de Natal ficaram aquém das expectativas.
Alguns comerciantes contam que em Novembro e Dezembro tiveram dias com as folhas de caixa a zero. A culpa é da crise e não se antevê melhorias para o ano que agora começa. Ainda assim, desde o dia 28 de Dezembro que começou a época de saldos e já várias as lojas das Caldas que anunciam descontos nos seus produtos até aos 60%. A campanha estende-se até ao final do mês de Fevereiro.

“Há 34 anos que tenho a loja e não me lembro de um Natal e de um ano sequer parecido”. São palavras de Adelina Silva, proprietária do pronto a vestir Grande Gala, situada numa das ruas mais movimentadas da cidade. “Houve grandes descidas nas vendas”, prossegue a comerciante acrescentando que “há casas que vendem mais do que outras, claro, dependendo também da mercadoria”.
Na sua, conta, houve uma descida acentuada. O problema mais grave, na sua opinião, foram os cortes dos subsídios na função pública pois esta era a altura em que muita gente aproveitava para adquirir peças mais caras e agora “já não o pode fazer”, comentou a responsável.
Desde o início de Dezembro que esta loja já tem promoções. Mas de qualquer forma Adelina Silva não concorda com esta prática. “É escandaloso”, disse a lojista. “Diga-me: quem é que vem comprar peças de roupa para o Natal sabendo que dois dias depois tem descontos altos? Ninguém vem”. Por isso faz 20% de descontos aos seus clientes durante o último mês do ano e há algumas peças que têm 50% ao longo do mesmo mês.
Para a comerciante, enquanto se apostar neste tipo de comercialização “vamos ter sempre o comércio com grandes dificuldades”. E há ainda outro factor: as pessoas “quanto mais descontos têm mais querem, e não olham tanto à qualidade”.
Segundo a comerciante, os meses desde Outubro têm sido “péssimos em termos de vendas, o que também não pode ser bom para os nossos governantes pois também não recebem os impostos dos 30 a 50% que deixámos de vender”, rematou.

Enfrentar a crise e “ter fé em Deus e andar para frente”

- publicidade -

Também Giselda Colaço, a responsável pela loja Gi- Moda Brasil, não ficou satisfeita com as vendas desta última época natalícia. Mudou-se há seis meses para a Rua Heróis da Grande Guerra, antes estava no centro comercial da Rua das Montras e constatou que teve “menos 30 a 40% de vendas”, mesmo tendo mudado o seu estabelecimento de pronto a vestir e calçado para uma rua muito mais movimentada. A responsável também já tem promoções, entre 30 e 50% de descontos e acha que é preciso, para enfrentar a crise e “ter fé em Deus e andar para frente”.
Salomé Vieira, responsável pela perfumaria Diva (ex-Charme) conta que este foi o seu primeiro Natal nas Caldas. A cadeia possui ainda lojas em Fátima, Tomar e Batalha e “tivemos as mesmas médias, isto é, descemos as vendas em todas as lojas em relação ao ano anterior”.
Nas Caldas inclusivamente “tivemos que fazer descontos de 30% em todos os produtos por causa da nossa concorrência, caso contrário, não vendíamos nada”, disse a responsável pela  loja. Por agora “temos 10% de desconto e nalguns produtos 20% até ao final do ano, com excepção de algumas marcas”.

“As pessoas aguardam as promoções para fazer as suas compras”

“As vendas de Natal foram muito mais fracas do que no ano anterior”, disse Amélia Gouveia uma das proprietárias das lojas For Men e Mirene. “As vendas   decorreram  apenas nos três ou quatro dias antes do dia de Natal”, contou a comerciante em relação às suas lojas, onde conta, que tiveram venda semelhante. Aliás tirando esses dias, “parecia um mês normal”.
Talvez a loja de lingerie de homem tenha tido um pouco mais de vendas pois segundo a empresária “noto que cada vez mais os homens se preocupam em procurar ter coisas diferentes”.
A responsável disse ainda que nota que as pessoas preferem aguardar pelas promoções para fazer as suas compras. “Noto isso cada vez mais”, disse.
Desde o dia 28 de Dezembro, com a época dos saldos, que as duas lojas têm descontos de 20, de 30 e até 50% nos seus produtos.
“De há 10 anos para cá que esta terra tem vindo a adormecer”, disse a empresária que considera que a própria localidade “está desmazelada” e que a própria autarquia “nada tem feito em relação ao comércio”.
A lojista acha que nas Caldas da Rainha  “a indústria acabou, o  turismo não passa bons dias, a única coisa que lhe valia era o comércio”. Amélia Gouveia recorda que vinham pessoas de fora comprar nas lojas caldenses e até vinham de Lisboa. “A cidade tem-se vindo a perder, menos qualidade, muito suja com falta de estacionamento e de acessibilidades ao centro”. Considera pois que o comércio se tem degradado, com o encerramento de lojas e até de marcas, “o que não é nada bom para os restantes”, disse. Amélia e a irmã que possuem as lojas Mirene há mais de 30 anos e a For Men há 15.

“Está tudo a queixar-se”

Luís Ramiro, da Loja Ramiro diz que também vendeu menos que no Natal anterior, “que por sua vez foi mais fraco que o de 2010”. Após o Natal, na sexta-feira seguinte, 28 de Dezembro, “estamos a fazer descontos de 25% mas é em todo o artigo”, disse o empresário do pronto a vestir de homem. Mas, na sua opinião, tudo se deve à conjuntura de crise “não é só aqui. Está tudo a queixar-se. É só ver o problema é o mesmo nas baixas de Lisboa e do Porto”, rematou.
Helena Loureiro, proprietária de “O cantinho da Lena”, restaurante na Praça 5 de Outubro, contou que o Natal “foi  mais fraco e mais parado que no ano anterior”. Disse que terá vendido menos 20% nas refeições e também nos bolos tradicionais que faz para fora, nesta época do  ano. Sentiu pois que lhe foram pedidos menos bolos, filhoses, rabanadas e pudins.
Nesta área “devo ter feito cerca de metade do ano anterior”, disse. Ainda assim mantém a esperança pois “tenho clientes fixos e vou tentar ultrapassar a crise e manter a porta aberta”, rematou.
Joaquim Cordeiro, proprietário da loja Cordeiros, pronto a vestir de homem, contou que neste Natal, a queda foi muito grande: “passou mais de 50% nas vendas”.
Um dos maiores problemas é o facto de “ter dificuldade em arranjar produto nacional de qualidade que é o que habitualmente compro para os meus clientes”. Joaquim Cordeiro desde sempre apostou em produtos de qualidade e por isso prefere “não ir buscar mercadoria que não sei a origem ou a qualidade”.
Logo a sua loja ficou com menos sortido, “apesar de continuar a sentir a procura dos meus clientes pelos produtos que habitualmente vendia”. Só que várias fábricas de malhas (e também de camisaria) faliram ou estão a  falir, além de que, pelo menos duas, não lhes entregaram a mercadoria a tempo. “É assim a história deste Natal…”, desabafa o comerciante.
Agora a loja tem várias promoções desde os 15, 20 e 40% “só que, por exemplo, hoje tive um único cliente”, contou. Durante os meses de Novembro e Dezembro “tive vários dias com a folha de caixa a zero”, disse Joaquim Cordeiro. Acrescentou que os seus clientes, de classe média-alta, estão a “ressentir-se dos cortes que levaram e então hesitam. Apesar de terem algum poder de compra nota que se retraem”, disse.
As perspectivas para 2013 não são as melhores para este comerciante que está a ponderar qual o melhor caminho a seguir. Primeiro porque os  principiais fornecedores faliram,  logo sem mercadoria de qualidade “não vejo o que irei fazer”. Pensou em remodelar mas também ainda não sabe se será possível obter o apoio bancário para a renovação da sua loja. Joaquim Cordeiro está  há 20 anos na sua loja Cordeiros, na Rua Coronel Andrada Mendoça.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

- publicidade -

1 COMENTÁRIO

  1. Estou actualmente em Inglaterra e ja aqui passei varios natais e a crise tem passado ao lado.As ruas por varias cidades por onde andei e os estabelecimentos estao cheios de pessoas a comprar e com montes de sacos na mao…Curiosamente a libra esta muito mais cara que o euro e mesmo assim continuam a exportar.O aumento dos combustiveis foram congelados para este ano. Por um conjunto de circunstancias que nao vou aqui explanar tenho de acreditar que Inglaterra nao faz parte da UE.