Especialistas defenderam uma avaliação multicritério dos dois centros urbanos com aptidão na região
“Só há duas localizações aceitáveis à luz do planeamento regional: Torres Vedras ou Caldas da Rainha. Localizar um hospital regional numa aldeia é qualquer coisa de insólito”, afirmou Sérgio Barroso, coordenador-geral do parecer técnico-científico sobre as metodologias a adotar na definição da localização do novo Centro Hospitalar do Oeste, no passado dia 4 de maio no CCC. Na sessão, que contou com a participação dos consultores e co-autores Carlos Gonçalves e Jorge Gonçalves, o responsável realçou que a não consideração do modelo territorial e do sistema urbano do PROT-OVT na tomada de decisão, “é não só uma violação grosseira das suas normas, como contraria a política nacional de ordenamento do território”.
De acordo com Sérgio Barroso, a tomada de decisão da localização do novo CHO deve ser suportada por uma avaliação multicritério, atendendo à acessibilidade dos utentes potenciais e dos recursos humanos a deslocalizar, os custos da acessibilidade, as externalidades ambientais e as condições de mobilidade. Também a alavancagem económica e o desenvolvimento regional deverá ser tido em conta, bem como as condições para os trabalhadores deslocados e famílias e que seja atrativo para fixar novos profissionais qualificados.
“Mais do que uma localização, trata-se da restruturação da rede hospitalar com impactos múltiplos na acessibilidade percepcionada, na economia e no funcionamento das cidades”, referiu Sérgio Barroso. Com o pequeno auditório do CCC lotado houve, entre os presentes, quem defendesse a construção de dois hospitais na região Oeste, um nas Caldas e outro em Torres Vedras. Esta posição, apoiada pelo ex-administrador hospitalar, José Serralheiro e o ex-autarca, Fernando Costa, foi rebatida pelo médico e deputado municipal (VM), António Curado, que salientou que ao ter dois hospitais geridos da mesma forma o Oeste continuará a ter o problema de falta de oferta de especialidades, profissionais de saúde e de uma unidade de cuidados intensivos. “Queremos um hospital para 300 mil habitantes, com diferentes níveis de cuidados assistenciais das várias especialidades e um maior número de camas”, disse, defendendo uma solução “equilibrada e justa”.
A necessidade de pensar um hospital para as próximas gerações e a articulação público-privada, questões levantadas pelo diretor da Gazeta das Caldas, José Luís de Almeida Silva, foram reconhecidas pelos especialistas, como importantes para integrarem o estudo.
Metodologia para um estudo
A boa localização do Hospital do Oeste obriga a que se respondam a três perguntas: qual a rede hospitalar que se quer para o Oeste, qual deve ser a metodologia na tomada de decisão da localização do hospital e, por último, qual deve ser a sua localização. E, se a primeira e terceira perguntas têm respostas sectoriais e de governação, o parecer agora apresentado assenta na resposta à segunda pergunta. “Só por mero acaso um mau modelo de decisão dá uma boa decisão, dá uma boa localização”, disse Sérgio Cardoso, referindo-se ao estudo mandado elaborar pela OesteCIM, e que assenta apenas nos critérios de distância e tempo.
Carlos Gonçalves, da Universidade de Aveiro, que colaborou na realização do parecer, explicou que este foi feito para ajudar a compreender melhor a globalidade do processo de decisão e a estruturar o problema. Aponta para a macro localização, ao perceber quais são os centros urbanos que têm aptidão para acolher este tipo de equipamento, para depois descer à micro localização, com as alternativas para implantar um equipamento desta natureza. Jorge Gonçalves, do Instituto Superior Técnico, completou: “é um parecer que aconselha a uma metodologia a ser feita num estudo”.
Também presente no evento, o vice-presidente da Câmara de Rio Maior, Lopes Candoso, destacou o facto do seu concelho ter sido incluído na área de influência deste hospital, no parecer, lembrando que, apesar de estar na área de influência do Hospital de Santarém, estão mais próximos das Caldas e é a este hospital que a população recorre muitas das vezes. As forças políticas também já manifestaram o seu apoio à proposta da localização Caldas – Óbidos, fazendo aprovar uma moção na Assembleia Municipal. O autarca de Óbidos, Filipe Daniel, realçou a importância de um estudo multicritério, ao invés do existente, assente no tempo e distância e lembrou que os autarcas “não têm de se entender”, mas sim a tutela tomar uma decisão. O homólogo caldense defendeu um hospital que sirva todo o Oeste e construído a pensar no futuro.































