Crise agudiza os problemas de saúde mental

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A partilha de conhecimento técnico e experiências clínicas na área da saúde mental e a necessidade de uma comunicação eficaz entre os profissionais desta área juntou cerca de 40 pessoas nas Caldas da Rainha. Estes especialistas colaboram nas equipas de saúde mental comunitária que têm permitido uma maior rentabilidade no serviço prestado aos doentes dos seis concelhos do Oeste Norte. Ainda assim, e de acordo com a responsável pelo serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON), Paula Carvalho, os tempos de crise originam um aumento dos problemas de saúde mental.

“Desde 2009 até final do ano passado conseguimos aumentar em mil o número de pessoas observadas, com o mesmo numero de médicos”
, conta a directora do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHON. Para alcançar estes objectivos tiveram um papel fundamental a constituição, em Janeiro de 2011, das equipas de saúde mental comunitária, que envolvem médicos, enfermeiros e psicólogos dos seis concelhos do Oeste Norte.
Ainda assim, existe uma lista de espera grande para o serviço de Psiquiatria. Paula Carvalho é a única médica a tempo inteiro e conta com mais duas colegas em contrato de prestação de serviços, e as consultas funcionam nas Caldas, Peniche e Alcobaça. “O número de pedidos cresce e a nossa capacidade de resposta não”, conta a responsável, acrescentando que a crise que o país atravessa também leva a que os “problemas de saúde mental se agudizem”.

Participaram no workshop perto de 40 pessoas, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais
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Paula Carvalho considera que o trabalho das equipas comunitárias tem permitido rentabilizar o trabalho dos médicos e garante que é uma modalidade que querem continuar, ainda que seja insuficiente para dar resposta a todas as solicitações. Uma carência “grave” no serviço, acrescenta, é a falta de um pedopsiquiatra, pois há vez mais pedidos para consultas de crianças.
A portaria que criava o departamento de Psiquiatria no CHON, de Maio de 2011, previa que fossem criadas as condições de recursos humanos e de recursos físicos para isso, mas até ao momento ainda não foi implementado. No entanto, a responsável continua a acreditar que venha a ser dado algum incremento no serviço, pois saúde mental continua a ser uma das prioridades do Plano Nacional de Saúde e, neste momento, “já é uma evidência no país que o impacto económico das patologias do foro mental é enorme”. A psiquiatra alerta que se não for feito um trabalho sério ao nível da prevenção, o impacto económico ainda será maior, pois as patologias irão apanhar uma franja de pessoas que devia de estar a trabalhar e deixa de o fazer.
Também presente no workshop, Álvaro Carvalho, director do Programa Nacional para a Saúde Mental, destacou o bom exemplo das Caldas da Rainha.
“O serviço de saúde mental das Caldas da Rainha é aquele que eu considero como o que tem um percurso mais conseguido, porque contrariamente ao que é comum a casa aqui foi construída desde a raiz”, explicou. O médico psiquiatra destaca a articulação do serviço de Psiquiatria com a Segurança Social, escolas, centros de saúde e toda a rede social, enquanto que normalmente estas equipas são criadas apenas ao nível do hospital.
O bom exemplo das Caldas poderá permitir extrapolações, “mostra que é possível ter uma óptima inserção comunitária”, defende Álvaro Carvalho.
A discussão em torno da saúde comunitária levou, no passado dia 22 de Março, médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e músicos à antiga lavandaria do Hospital Termal para um workshop. Depois de um primeiro encontro sobre identidade, os profissionais reuniram-se para debater como é que as várias instituições se podem harmonizar de forma a fazer qualquer coisa de comum. “Muitas vezes, saem portarias e protocolos mas depois as coisas não funcionam”, explica Paula Carvalho, destacando que é necessária uma comunicação efectiva para fazer as coisas acontecerem.
A responsável lembra que o seu conceito de saúde mental é “muito alargado”, pois vai desde o bem–estar à doença, daí a importância destas acções que permitam aos profissionais conversar sobre estas temáticas e construir projectos de intervenção partilhados por todos.
O workshop, que decorreu no passado dia 30 de Março, teve por tema “A Comunicação”, insere-se num conjunto de encontros promovidos pelo Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON).

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

“Sede da Psiquiatria deve continuar nas Caldas”

“Se o objectivo [do governo] é que haja uma rede local de serviços mentais para haver uma melhor cobertura desta área é perfeitamente plausível que seja nas Caldas, com uma espécie de delegação em Torres”. Esta a opinião do director do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro Carvalho que garante ainda não ter nenhuma informação a respeito da reorganização hospitalar.
O responsável considera que, do ponto de vista lógico, e estando Torres Vedras mais perto de Lisboa “fará mais sentido que a sede da Psiquiatria continue a ser nas Caldas, que está mais longe de Lisboa”.
Álvaro Carvalho explicou ainda que existe uma unidade de Psiquiatria na cidade de Torres, muito próxima do hospital, que é financiada pelo Hospital Júlio de Matos e que funciona cinco dias por semana. “Não há uma ausência de investimento, é uma questão de articulação”, afirma.

F.F.

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