
O que leva um estudante a procurar formação fora do seu país? É apenas a formação académica ou a possibilidade de viver novas experiências pesa nessa decisão? Foi a estas perguntas que Anabela Monteiro, responsável pelo Gabinete de Comunicação da ESAD, tentou responder na sua tese doutoramento que resultou num livro, recentemente publicado e dedicado ao turismo estudantil. No estudo traçam-se as principais características dos jovens do século XXI, verdadeiros promotores de uma globalização intercultural e que se tornam embaixadores dos países que os acolhem enquanto estudantes.

“A mobilidade académica europeia e o turismo educativo e cultural: factores de decisão e motivação”. Assim se designa a obra que resultou da tese de doutoramento de Anabela Monteiro que se propôs conhecer as motivações de quem vem estudar para Portugal e dos estudantes lusos que vão estudar para o estrangeiro.
Para o seu estudo, a autora – formada em Animação Cultural na ESAD e responsável pela Comunicação e Eventos da escola de artes caldense – realizou 880 inquéritos a 463 estudantes portugueses (outgoing) e 417 estudantes estrangeiros (incoming). Todos fizeram Erasmus nos anos lectivos 2009/2010 e 2010/2011.
Anabela Monteiro identificou padrões de comportamentos em três grupos distintos: um primeiro engloba aqueles que têm muito apreço pelas actividades culturais e sociais e por isso estão interessados “na aquisição de conhecimentos ligados ao país de acolhimento”. Este grupo representa os participantes do programa Erasmus que se designam “Socioculturais” dado “que desejam valorizar a experiência de um desafio, complementando-o e enriquecendo-o com a formação pessoal”.
Um segundo colectivo (onde se incluem os alunos estrangeiros que realizam mobilidade académica em Portugal) procura ter novas experiências a nível pessoal. Os seus elementos “buscam a aquisição de conhecimentos académicos, sobretudo na valorização em novas áreas”. Este é um grupo “peculiar” pois une a aquisição de novos conhecimentos académicos à diversão, conjugando-os com eventos sociais e culturais. Estes estudantes procuram obter na instituição de acolhimento as competências que não encontram na instituição de origem e não querem a repetição dos conhecimentos já adquiridos na sua faculdade. Anabela Monteiro chama-lhes os Sinérgicos que buscam a diferença entre o seu país e o de acolhimento. A título de exemplo e em relação à ESAD, a investigadora referiu que muitos estudantes externos procuram o curso de Cerâmica pois “não têm esta formação prática nas suas escolas”.
O terceiro grupo, que integra alunos portugueses que realizam mobilidade académica na Europa, procura o desenvolvimento cultural e académico e aquilo que os possa distinguir no mundo profissional. A autora designa-os por Empreendedores.
A identificação destes três grupos “permite às instituições criarem ofertas atractivas para a captação de alunos de programas de mobilidade”, diz Anabela Monteiro.
Os estrangeiros que vêm para Portugal aproveitam as vantagens que o país de acolhimento faculta a nível de oportunidades profissionais, de diversão, de clima e posição geográfica.
O grupo de Outgoing, dos alunos portugueses, privilegia o contacto com sítios de interesse histórico-cultural que em simultâneo lhes permita a valorização do seu percurso. Um jovem de Erasmus “procura rentabilizar o tempo ao máximo em proveito da construção de uma personalidade que saiba defrontar as exigências do mundo do século XXI” e que lhes permita “fruir de experiências novas que não possuem no país de origem”, frisou a autora.
Os estudantes estrangeiros “pretendem desenvolver as suas habilidades, abrindo novos horizontes e viver um espírito de aventura”. Por sua vez, os estudantes portugueses “apreciam o desenvolvimento pessoal”. Dentro desses grupos ainda se destaca as diferenças entre géneros. O feminino preocupa-se com o desenvolvimento pessoal e o masculino centraliza a experiência no espírito de aventura e na possibilidade de novas experiências.
“Promotores da globalização intercultural”
Segundo a investigadora, os jovens do século XXI “são promotores de uma globalização intercultural”, por isso, as instituições de ensino superior, que recebem alunos em programas de mobilidade académica “deveriam estar atentos às necessidades essenciais de um estudante pós-moderno”.
A autora estabelece também uma ligação entre os programas de mobilidade e o turismo cultural dado que estas viagens também são motivadas pelo património histórico ou artístico e científico oferecido pelo país de acolhimento.
“O turismo cultural e educacional pode ser um agente impulsionador para o desenvolvimento regional e uma boa forma de combater a sazonalidade”, referiu a investigadora, que acha que as instituições de ensino e de turismo se deviam aliar e ser parceiras “para o projecto de uma estratégia de destino turístico para este perfil de turistas”.
Anabela Monteiro sublinhou que estudantes do programa Erasmus contribuem para a economia local através de gastos com acomodação, comida, viagens e lazer. Os estudantes estrangeiros tendem a permanecer em apartamentos compartilhados, dormitórios, famílias e em habitações organizadas pelas universidades e não em acomodações turísticas. No entanto soma-se ainda a alta capacidade de gerar novas visitas pois a maioria recebe visitas de familiares e amigos durante a estadia. “Quase que poderiam ser considerados embaixadores de Portugal, sem custos adicionais para a divulgação do país e instituição”, rematou a autora.