Cumprem-se hoje 62 anos da mudança do RI5 dos pavilhões do parque para o novo quartel

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img018 copyRecuemos até 1953, precisamente ao dia de hoje, 14 de Agosto. Nesta data, os militares do Regimento de Infantaria nº 5 mudaram de instalações, deixando o antigo quartel, instalado nos Pavilhões do Parque, para se fixarem naquela que é, actualmente, a Escola de Sargentos do Exército. “Foi uma cerimónia memorável”, recorda-nos João Figueiredo, 83 anos, ex-militar do RI5.

A inauguração do novo edifício aconteceu cerca de dois meses antes, no dia 5 de Junho, e trouxe até às Caldas da Rainha nomes de relevo, como o Presidente da República, Craveiro Lopes, e os ministros das Obras Públicas e Exército, José Frederico Ulrich e Adolfo Abranches Pinto, respectivamente. A Gazeta das Caldas fez a reportagem da cerimónia, descrevendo o circuito da visita dos membros do governo pelo quartel. Saíram da Casa da Guarda, o ponto de partida, passaram pelas enfermarias, oficinas de sapateiro e alfaiate, cavalariças, refeitórios e cozinhas, terminando no Pavilhão do Comando, edifício onde se encontravam os gabinetes do 1º e 2º comandante, a sala de transmissões e observação e ainda uma biblioteca. “Um vasto salão, ricamente luxuoso”, conta a Gazeta, referindo-se à biblioteca.
Para João Figueiredo, tudo era um luxo. Pelo menos quando comparava as novas instalações com as dos Pavilhões do Parque, que ainda mais, tinham sido adaptadas a posteriori à função de quartel e não construídas propositadamente com esse objectivo.
Apesar da mudança se ter realizado a 14 de Agosto, João Figueiredo já estava instalado no novo quartel há algum tempo, desde Maio. “Fui o responsável por transferir o material da arrecadação dos Pavilhões do Parque para o novo quartel, armas e equipamentos. Como ainda não tinha lá tropa, eu ficava a dormir no quartel, para guardar o material”, recorda o ex-militar, que voltava aos Pavilhões do Parque pela manhã, antes das 8h00, hora da formatura.
Relembra o dia 14 de Agosto como “um dia memorável para a cidade” e, embora já se tenham passado 62 anos, não se esqueceu dos detalhes. “Os soldados formaram-se às nove da manhã, com os equipamentos às costas, e o comandante Eugénio de Magalhães Figueiredo seguia à frente, a cavalo. Saímos pelas portas de armas, viemos pela Rua de Camões abaixo e passamos pela antiga Praça do Peixe”. Nas varandas, garante, viam-se as janelas abertas com colchas penduradas e as pessoas, essas, acenavam calorosamente aos militares.
A Gazeta das Caldas registou o acontecimento como uma “cerimónia simples, mas brilhante, a da transferência do R.I.5 para o novo aquartelamento”. O desfile, acompanhado pelo som do terno de clarins do regimento, terminou com a chegada ao novo quartel, uma obra do engenheiro Tavares Mendes a que os militares deram as honras com o içar da bandeira nacional.
João Figueiredo ainda era novo nestas andanças, pois assentara praça apenas um ano antes, em 1952. Tinha 20 anos e lembra-se de ter chorado “porque a comida, um pão de centeio de muitos dias, acompanhado de feijão, sabia-me tão mal que nem consegui comer”. A rotina das refeições, contudo, mudou radicalmente no novo quartel, não só porque os pratos eram confeccionados a vapor e em condições de higiene que não existiam nos Pavilhões do Parque, mas também porque o pão e o feijão foram substituídos por bacalhau e carne guisada. “A alimentação sofreu uma diferença da noite para o dia e os pratos de alumínio, amachucados das brincadeiras que tínhamos uns com os outros, passaram a ser de loiça, e logo da Vista Alegre!”, conta João Figueiredo com um sorriso nos olhos. Nas mãos, segura um pequeno livro, amarelado pelo tempo, que conta a história do regimento, onde também constam desenhos das plantas do novo quartel. Quando calha passar por aqueles lados, João Figueiredo confessa reparar na vegetação, “pouco cuidada”, ao contrário do que acontecia no seu tempo.
O R.I.5 surgiu em 1641, como o corpo militar mais antigo de Portugal, nesta data com a designação de Terço de Elvas. Após várias denominações – como Regimento de Infantaria de Elvas – passou a chamar-se de Regimento de Infantaria nº 5 e teve como casa vários quartéis, localizados em Elvas, Porto, Lisboa, Ilha Terceira e, claro está, Caldas da Rainha. Em 1975, o nome R.I.5 extingue-se, passando a Regimento de Infantaria de Caldas da Rainha, até 1981, quando foi adoptada a nominação Escola de Sargentos do Exército, que se mantém até os dias de hoje.