“Em cada dia se descobre uma nova Praga, com novas cores,

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Gazeta das Caldas
JessicaSilvaRepChecaJéssica Lucas da Silva
21 anos
Caldas da Rainha
Praga -Républica Checa
Estudante de Arquitectura
Percurso escolar: EBI Santo Onofre (1º e 2º ciclo de escolaridade); Escola Secundária Raul Proença (3º ciclo de escolaridade e ensino secundário); Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa (Mestrado Integrado em Arquitectura)

 

 

 Do que mais gosta do país onde vive?

A República Checa é um país localizado no Centro da Europa, tendo sido esse um dos principais motivos que me conduziu até Praga. Estando aqui por razões académicas, gozo de algum tempo para viajar e conhecer países da Europa por um custo baixo e de forma relativamente rápida. Para além de todos os lugares possíveis de conhecer além-fronteiras checas, existe igualmente uma panóplia de lugares convidativos em território nacional. Esses lugares são uma escapatória à capital Praga e que me cativam, pelo tanto que as distingue desta cidade.

Praga dispõe de uma riqueza arquitetónica imensa. É impossível passar indiferente aos edifícios tão detalhados. Enquanto estudante de arquitectura, esse é todo um “quadro” que me fascina e que me faz parar e observar os volumes, curvas e materiais dos seus edifícios. Todo o contexto arquitectónico e paisagístico seduzem-me a cada estação, porque em cada dia se descobre uma nova Praga, com novas cores, que tornam esta cidade num “conto de fadas”. Para completar esta “paisagem encantada” existe uma imensidão de parques e jardins que me consentem uma escapatória aos movimentos cosmopolitas e um retiro à Praga turística.

Um dos aspetos que mais aprecio, em termos funcionais da cidade, são os transportes extremamente pontuais e eficientes. Gosto da minha faculdade. Do edifício, pela sua arquitetura e por todo o equipamento necessário de que dispõem os estudantes, por meio a sentirem-se motivados a desempenhar os seus projetos e trabalhos.

Praga é movimento, digo-o pelo dinamismo que lhe é próprio, porque sendo uma cidade altamente turística, está sempre algo a acontecer.

 O que menos aprecia?

Não há mar. Não há praia. Só existe o rio Vtlava. Não se ouvem ondas. Não há passeios à beira mar. A costa portuguesa é invejável. E invejável é a gastronomia portuguesa, os sabores do nosso país, da minha casa. Praga terá os seus, há de haver quem goste, eu não aprecio, há pouco peixe, vegetais e fruta e o que há é caro, sendo que o preço não é justificável pela qualidade. Não é fácil encontrar bom café e se o encontro é caro.

Não gosto que a moeda seja diferente, simplesmente porque não estava e não estou acostumada. Não gosto que a cerveja seja mais barata que a água, não porque não goste de cerveja, ou porque goste mais de água, mas porque a cerveja não mata a sede.

Tem sido difícil simpatizar com as pessoas. Não porque não tente, mas porque os checos são um povo frio e, no momento em que necessito de uma informação ou ajuda por parte de algum tipo de serviço, instituição pública, ou não, é difícil obtê-la, muito por culpa dos poucos falantes da língua inglesa.

De que é que tem mais saudades de Portugal?

Tenho, resumidamente, saudades do que não gosto na República Checa. Tenho saudades do mar, das praias, de caminhar pela areia. Tenho saudades da comida, de comida que não necessita de molhos ou caldos para ter sabor e ser boa. Tenho saudades das gentes de Portugal, dos sorrisos e dos bons dias. Quando se está noutro país, muito do que é fácil passa a ser difícil, como ir a um serviço de saúde ou como, quando num supermercado, não encontramos algum produto. Sinto falta de perceber o que vejo escrito nas ruas e de poder comprar uma revista ou um jornal, sem o problema de que, não o vou entender. Tenho saudades da minha família e dos meus amigos. Em contexto Erasmus fazem-se muitas amizades, mas as “de sempre” são “para sempre”.

 A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?

A minha vida por aqui sempre teve dias contados. Sempre soube que vinha para finalizar mais um ano de arquitectura na faculdade.

 

“O maior choque cultural com que me deparei foi o modo de estar e a frieza das pessoas”

Vim para a República Checa no contexto do programa Erasmus. Neste programa, e especificamente na minha faculdade, disponibilizamos de uma série de opções de estudo noutros países da Europa. Elegi Praga. Como disse, atraiu-me a localização do país e a arquitetura minuciosa, algumas vezes confrontada com uma arquitectura moderna ou até mesmo contemporânea. Vivo numa residência para estudantes da universidade técnica. A localização não será a melhor, no entanto, pelo preço e pelas pessoas que se conhecem, não há razões para lamúrias.

O clima checo é instável e, devido às alterações climáticas, até os residentes locais têm sido surpreendidos pelas temperaturas um pouco durante todo o ano. No inverno costumava nevar, mas eu mal vi a neve. Por esta altura, primavera, não esperava tanto calor.

“Coroa checa” é a moeda utilizada. A “gorjeta” é algo cultural. É comum aparecer no talão o valor de gorjeta (em geral, de 10% sobre o total) e caso não esteja descriminado, esperam que seja o cliente a deixar algo de “boa vontade”.

O maior choque cultural com que me deparei foi o modo de estar e ser das pessoas, pela sua frieza. O facto de Praga ser um lugar tão procurado pelos turistas poderia permitir aos residentes maior familiaridade com outras culturas.

O meu “modo de vida” por aqui tem sido conhecer pessoas de cada cantinho do mundo, e poder conhecer um pouco mais do mundo, tem sido a experiência da minha vida. O estudo também faz parte do meu quotidiano, o trabalho, a arquitectura. Tenho a sorte de estar numa área em que o viajar, o visitar e o conhecer são parte essencial à aprendizagem, sendo o que vejo e ouço dos outros a maior contribuição ao nível do enriquecimento e crescimento pessoal.

Jéssica Lucas da Silva