Dois empresários sul-americanos indiciados por tráfico de seres humanos foram detidos em Leiria no passado dia 13 de Março pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Os dois homens, agentes desportivos, colocaram “um número substancial de jovens futebolistas” de forma “irregular” no GD Os Nazarenos no início da corrente época desportiva, informou o SEF. Estão indiciados pela prática dos crimes de tráfico de seres humanos, auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos.
A operação “Fair Play” começou em finais do ano passado através de investigações do SEF, nas quais foram identificados cerca de 20 jovens futebolistas sul-americanos em situação irregular, que se encontravam alojados em áreas afectas ao clube “em condições indignas, vivendo com extremas dificuldades económicas”, segundo comunicado do SEF.
A investigação permitiu apurar que os futebolistas teriam vindo para Portugal “angariados através de um esquema que envolvia vários intervenientes, e no qual os cidadãos agora detidos desempenhavam um papel crucial”, acrescenta o comunicado.
Aos atletas era prometida a legalização em território nacional e a celebração de contratos profissionais como futebolistas, a troco de elevadas quantias monetárias, sendo que, em muitos casos, a vinda implicou o endividamento das respetivas famílias. Promessas que não foram cumpridas.
O SEF refere ainda que os jovens foram, inicialmente, alojados pelos empresários em apartamentos, mas acabaram por ser “progressivamente abandonados por estes”, tendo sido alojados nas instalações onde foram identificados, “muitas vezes sem alimentação adequada e desprovidos de contrapartidas financeiras pela atividade desportiva desenvolvida”.
Alguns dos jogadores acabaram, entretanto, por abandonar o país e outros aguardam regularização no território nacional “com o apoio do SEF e dentro do quadro legal vigente de proteção a vítimas de tráfico de seres humanos e de acções de auxílio à imigração ilegal”, refere o comunicado.
A acção foi coordenada pelo Ministério Público e englobou buscas domiciliárias às residências dos suspeitos, a viaturas e às instalações do GD Os Nazarenos, que também foi constituído arguido, assim como o presidente do clube, João Zarro, que ficou sujeito a Termo de Identidade e Residência.
CLUBE NEGA ENVOLVIMENTO
A direcção do GD Os Nazarenos reagiu às detenções através de um comunicado emitido a 14 de Março, no qual se demarca do esquema de tráfico de seres humanos, crime que classifica de “hediondo”. Os dirigentes reforçam que nunca o clube prometeu “fosse o que fosse a qualquer atleta estrangeiro”, e que não recebeu dos atletas, dos seus familiares ou representantes, “qualquer quantia monetária ou qualquer outro tipo de vantagem económica”.
O clube informa que nenhum dos seus dirigentes, presidente incluído, foi interrogado no âmbito deste processo, acrescentando esperar que tal venha a acontecer com a maior brevidade possível a fim de “ajudar a esclarecer as autoridades acerca dos factos sob investigação”.
Na missiva que chegou à redacção da Gazeta das Caldas, a direcção do Nazarenos refere que foi o clube que resgatou os atletas depois destes terem sido “literalmente abandonados pelos empresários responsáveis pelas suas vindas para Portugal”, tendo-lhes providenciado alojamento e alimentação.
O clube confirma que os atletas ficaram a viver, de forma temporária, em instalações provisórias no próprio estádio, encontrando-se há cerca de um mês e meio “em apartamentos com todas as comodidades e onde são confeccionadas todas as suas refeições”, acrescenta.
A direcção do Nazarenos realça que foram os próprios atletas que, depois de abandonados pelos empresários, pediram para continuar no clube e que todos “reconhecem o esforço que tem sido feito pela Direcção para que nada lhes falte para poderem desempenhar convenientemente a sua actividade”.
No comunicado, é ainda referido que os atletas estrangeiros que jogaram pelo clube na presente época fizeram-no porque viram as suas inscrições validadas pela Federação Portuguesa de Futebol, através da Associação de Futebol de Leiria, “que arrecadaram as respectivas taxas”.
O clube aguarda o desenrolar do inquérito em curso “para um completo e cabal esclarecimento da verdade” e observa que até à presente data nenhuma acusação lhe foi deduzida, nem contra o seu presidente.
Em Maio de 2018 o clube foi notícia na imprensa desportiva nacional pelo novo projecto desportivo em conjunto com a agência de jogadores brasileira PBF, do empresário Mauriti Cardoso. Esse projecto seria liderado por Edmilson, antigo jogador que se notabilizou ao serviço do FC Porto e do Sporting.
O plantel foi reforçado com vários jovens de origem brasileira para competir na I Divisão Distrital da AF Leiria com objectivo de subida. A sete jornadas do final da prova, o clube é segundo na Série B, a três pontos do Marinhense B e com um ponto de vantagem sobre o Bombarralense. O primeiro classificado das duas séries tem subida assegurada e o melhor segundo também.