Marta Ribeiro é enfermeira no serviço de Neonatologia e informa que, tanto nos blocos de parto como no internamento pós-parto, a adesão à greve tem sido muito próxima dos 100% em todos os turnos. Marta Ribeiro é também uma das responsáveis pela dinamização desta vigília, onde se juntam ao longo da noite quase uma centena de enfermeiros. “À semelhança do que tem sido feito por todo o país, decidimos que a zona Oeste devia aderir à iniciativa, até para dar mais visibilidade à nossa luta porque há muitos enfermeiros que estão em greve mas estão a trabalhar para assegurar os serviços mínimos”, explica a profissional.
Isto quer dizer que a greve pode passar despercebida aos utentes que se dirigem às urgências, por exemplo, porque há sempre enfermeiros em número suficiente para prestar os cuidados essenciais. Por outro lado, ressentiram-se as pessoas que tinham consultas ou cirurgias marcadas há meses e que foram entretanto adiadas por causa da greve. “Sabemos que é chato, mas se não lutarmos por nós, quem é que vai lutar? As pessoas não podem olhar só para o seu umbigo”, defende Nuno Pedro, enfermeiro há 19 anos e especialista há seis.
Este profissional de saúde tirou um mestrado e fez duas pós-graduações, gastou milhares de euros em formação específica, mas recebe o mesmo ordenado base (1200 euros) que um aluno acabado de licenciar-se em enfermagem. Tem mais responsabilidades (coordena jovens licenciados), mas não é recompensado monetariamente por tudo isto. Casos semelhantes aos de Nuno é o que não falta pelo país porque, diz, “o Estado habituou-se a ter os enfermeiros especialistas a trabalhar de borla para si”.
A introdução da categoria de especialista na carreia de enfermeiro é a principal bandeira desta greve, que luta também pela progressão de carreira nesta classe (desde 2009 que não abrem concursos para os enfermeiros subirem de escalão) e pelas 35 horas de trabalho extensíveis a todos os profissionais de enfermagem. Esta última reivindicação não se aplica aos enfermeiros do CHO, pois não há nenhum que trabalhe 40 horas semanais.
“No entanto mostramo-nos totalmente solidários com os nossos colegas, esta é uma luta conjunta”, afirma Nuno Pedro, salientando que os enfermeiros esperam que a sua carreira possa vir a ser negociada com o Governo, tal como já o estão a ser as de outras profissões. “Independentemente de ser este ou aquele sindicato a apresentar propostas, aquilo que queremos é contraproposta do Ministério da Saúde”, acrescenta o enfermeiro.
Andreia Baptista está com a filha bebé ao colo enquanto nos conta que é enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstetrícia. Antes da greve já tinha aderido ao EESMO’s, movimento nacional que uniu os enfermeiros desta especialidade que estavam a prestar cuidados especializados sem serem remunerados como especialistas. Desde então, os EESMO’s têm prestado apenas cuidados de saúde gerais. “Isto reflecte-se numa maior carga de trabalho das nossas colegas [reconhecidas como especialistas] e dos próprios médicos, mas existe um sentimento de união de esforços para conseguirmos vencer esta luta”, afirma Andreia Baptista.
Durante duas horas, cerca de 80 enfermeiros estiveram em vigília em frente ao Hospital das Caldas. Levaram velas e balões brancos, vestiram-se de preto e exibiram vários cartazes. Fizeram também uma corrente humana da entrada do Hospital até ao Chafariz das 5 Bicas e juntos gritaram em voz alta “Basta”.
A única força partidária presente na vigília foi o Bloco de Esquerda, que se mostrou solidário com os enfermeiros e reconheceu-lhes o direito de melhores condições de progressão de carreira.