Há uma equipa das Caldas que em 2017 surpreendeu tudo e todos ao vencer a classe UTV/Buggy do Campeonato Nacional de Trial 4×4, uma competição de todo-o-terreno que consiste em ultrapassar obstáculos de extrema dificuldade. Um grupo de amigos começou por encarar esta modalidade como um divertimento até ter percebido, ao chegar às últimas provas, que podia ascender ao pódio. E acabaram mesmo por ganhar. Da Team Duque TT fazem parte Daniel Duque (piloto) e Helder Leal (navegador), que ainda não regressaram às pistas em 2018 pois não têm os apoios necessários.
Tinham o carro mais pequeno e menos potente (apenas com 55 cavalos) de todo o campeonato, facto que não os impediu de ganharem na sua classe. A determinação e a capacidade técnica de ultrapassar obstáculos foram mais fortes e fez com que um grupo de amigos caldenses – na sua maioria ligados ao sector automóvel – tivesse subido ao pódio da classe UTV/Buggy.
Ao volante do Polaris RZR 800S, os dois caldenses Daniel Duque (piloto) e Helder Leal (navegador) sagraram-se campeões. Mas este ano, com o carro a precisar de uma grande intervenção mecânica e sem patrocinadores, ainda não regressaram às pistas.
Daniel tem 42 anos e Helder 36. Foi na Gandra (Paredes), com a vitória na prova final, que venceram o campeonato, deixando para trás 35 equipas. Completaram 23 voltas à pista, mais uma do que Domingos Diniz (Team Revi-clap 1), o rival directo naquela derradeira prova.
“Tivemos muita sorte..!”, contou à Gazeta das Caldas, o navegador Helder Leal, sem esquecer de sublinhar o facto de Daniel Duque já ter sido piloto na categoria de UTV/Buggy.
Helder Leal é mecânico automóvel e Daniel Duque é empresário da construção civil. Os restantes quatro elementos caldenses da equipa estão ligados ao ramo automóvel. São eles Ricardo Coito, Jorge Ferreira, João Querido e Rudolfo Daniel.
Tudo começou no ano passado e “era só para nos divertirmos”, contou o navegador, explicando que ninguém recebe nada e todos contribuem com o que podem: um empresta o reboque, o outro contribui com peças para o carro. “Fomos ficando cada vez mais entusiasmados e motivados com a possibilidade de ganhar”, contou Helder Leal que durante as provas tem a missão de indicar ao piloto como é o tipo de obstáculo que têm que transpor e de sair do carro sempre que é necessário para analisar como ultrapassar a dificuldade do percurso. “Nas últimas provas já tínhamos esperança e começámos a levar o campeonato mais a sério. Percebemos que podíamos fazer História!”, contou o navegador, dando a conhecer como foi difícil a prestação da Team Duque TT, sem orçamentos e sem apoios de qualquer entidade.
O Polaris RZR 800S também foi o único veículo que não teve que ir uma única vez às boxes receber assistência. “O carro e o tempo foram bem geridos”, afirmou o caldense, explicando que estas provas exigem regularidade.
Helder Leal acrescenta que também lhe dá muito gozo levar longe o nome da sua terra natal, dado que as provas tiveram lugar em Bragança, Chaves, Valongo, Paredes, Ourém e Mação.
FALTAM OS APOIOS
O campeonato deste ano já se iniciou e a equipa de caldenses não está a concorrer. “Não fomos pois o carro no final do campeonato ficou muito maltratado…”, explicou o navegador. Sem orçamento e sem apoios “era arriscado”.
E quanto é que pode custar um carro de trial? “É muito variável e pode custar a partir dos 8000 euros, mas pode ir até aos 70 mil euros”, contou o caldense, acrescentando o quão importante é ter um bom motor, boa suspensão e tracção (que inclui os pneus). Nunca se pode esquecer a segurança (as duplas têm fatos, luvas e capacetes) e o carro tem que ter tudo afinado, sem esquecer os stops e as luzes de presença. Os veículos da categoria onde correm os caldenses têm matrícula e podem circular na estrada.
Mas é claro que um bom piloto e um bom navegador é que são decisivos pois “não interessa ter um topo de gama se depois não se tem quem o conduza e o navegue bem”, diz Helder Leal. Ao piloto pede-se que conheça bem o carro e os seus limites.
As provas do campeonato de Trial decorrem ao domingo e, aos sábados, são feitas as verificações do carro e do material. Se não estiver tudo em ordem, ou seja, sem condições mínimas, o carro não pode correr. Ainda assim, as despesas para poder participar em cada prova do campeonato têm custos que podem ascender aos 500 euros.
PRESTÍGIO E RECONHECIMENTO
“Ganhámos prestígio e reconhecimento. Todos juntos conseguimos fazer algo engraçado”, afirmou o navegador, explicando que as equipas naquelas duas horas são levadas ao limite, até à exaustão. “É uma prova de resistência”, afirmou o caldense, explicando que na classe onde correm as provas têm duas horas, em circuito fechado. A pista é composta por uma série de obstáculos de grau de dificuldade elevada, que têm que ser transpostos com mestria. Mais do que a velocidade, é determinante a perícia do piloto e a forma como o navegador lhe dá instruções para prosseguir a prova.
Helder Leal que não esconde a vontade de voltar às pistas se conseguirem quem os apoie. Conta que há equipas que até são apoiadas pelas respectivas autarquias, como é o caso de Bragança.
Com patrocínios será possível correr algumas provas, mas os caldenses este ano já não vão poder repetir a proeza de ser campeões, uma vez que o regulamento só o permite a quem cumpra todas as provas.
Helder Leal gostava que um dia houvesse uma prova de Trial nas Caldas. Teria que se escolher uma zona acidentada, que poderia ser Sta. Catarina, Alvorninha, ou Carvalhal. “Uma prova destas requer espaço e condições, não só para a pista, como para as acessibilidades, para o público e para a assistência”, disse o navegador, apreciador de várias modalidade do desporto automóvel. “Faria das tripas coração para correr nessa prova!”, confessa Helder Leal, acrescentando que uma prova destas iria atrair milhares de pessoas às Caldas.