Trabalhar a criatividade nas escolas ou ensinar os jovens a programar são projectos que estão a ser implementados em Óbidos e que foram dados a conhecer a um grupo de 20 especialistas da área social da Estónia, Islândia, Itália e Portugal.
Esta apresentação incluíu-se na visita de estudo a Portugal, que decorreu entre 11 e 17 de Março, no âmbito do projecto de cooperação internacional que procura respostas que levem à diminuição de jovens em situação NEET, ou seja, que não trabalham, nem estudam nem frequentam qualquer tipo de formação.
Em inícios de Fevereiro já houve uma visita a Tartu, na Estónia, que foi acompanhada pela Gazeta das Caldas a convite da CAI – Conversas Internacional, uma associação de intervenção social, cujos projectos também incidem nas Caldas da Rainha e Óbidos.
Aumentar a inovação num território rural como o de Óbidos é o objectivo de projectos como o De Code, na área da programação, ou o My Machine, que dá ênfase à criatividade dos mais novos na concepção de máquinas que depois são concretizadas por alunos do ensino superior. Esses “bons exemplos” foram partilhados com o grupo, que visitou o complexo dos Arcos e depois o Parque Tecnológico de Óbidos.
O diretor do parque tecnológico, Miguel Silvestre, contou que o objectivo é “ter talentos a trabalhar na região”. Para isso estão a apostar nas áreas tecnológicas e a trabalhar em conjunto com as escolas para que os mais novos ganhem-lhe o gosto e possam vir a especializar-se no futuro. Pretendem que os jovens, depois de concluírem a sua formação universitária, possam regressar a Óbidos para ali trabalhar e criar as suas empresas.
Miguel Silvestre acredita que dentro de uma década a região Oeste possa ser comparada a Lisboa ao nível de atractividade. “As jovens famílias aqui poderão encontrar maior qualidade de vida, mais calma e boas escolas”, disse, acrescentando que, no fundo, o que pretendem promover é uma “atmosfera urbana de trabalho numa área rural”.
No entanto, para isso acontecer há que resolver problemas básicos como a inexistência de transportes públicos a passar pelo Parque Tecnológico, que dista apenas dois quilómetros das Caldas e de Óbidos, e a falta de casas para arrendar.
Miguel Silvestre reconheceu que a escola actualmente não é atractiva para alguns alunos, “que querem ver algo feito ao longo do dia”, preferindo formações mais práticas. Esses jovens têm participado nos cursos de programação, alguns promovidos em parceria com o IEFP, e “cerca de metade consegue entrar em empresas, outros ficam fora do sistema”, disse.
O almoço decorreu no polo caldense da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, onde puderam ver os jovens em contexto de trabalho e depois houve uma visita guiada pela vila de Óbidos.
No final do encontro, a coordenadora do projecto, Stiina Kütt, mostrou-se satisfeita com os projectos apresentados onde puderam ver “exemplos muito positivos de como combinar a educação formal e não formal num ambiente criativo e inovador”.
A responsável referiu que também no seu país, a Estónia, há exemplos semelhantes de tentativa de fixação de talentos em pequenas localidades e mostrou-se surpreendida por terem construído um parque tecnológico no meio da natureza. “Foi um passo muito inteligente o de primeiro construir aquele ambiente e depois começar a atrair vida para junto do parque”, disse, acrescentando que está ansiosa por saber como será o futuro da região nos próximos anos.
Esta foi a primeira vez que Stiina Kütt esteve em Portugal. A estónia destaca, por contraste ao seu país, o colorido e a multiculturalidade que por cá encontrou. “Acho que é muito importante conhecer realidades diferentes, como a comunidade africana, onde vimos como vivem, o que eles comem e a música que ouvem”, disse, referindo-se a experiencias que tinha presenciado na capital.
Em Lisboa, o grupo participou em encontros sobre a Garantia Jovem, empregabilidade e incentivos para a juventude e visitou diversas instituições, sobretudo na periferia, que trabalham com populações vulneráveis. Também ficaram a conhecer o trabalho que está a ser feito com a população migrante e refugiados e conheceram a escola de circo Chapitô, que tem por objectivo principal a integração de jovens em situação de risco e vulnerabilidade social através das artes.