
Estimular o sonho e a perserverança foi a mensagem comum da abertura do Oeste Jovem, o primeiro programa para a juventude realizado pelos 12 municípios oestinos. Foram apresentados cinco casos de jovens empreendedores que viram os seus sonhos tornarem-se realidade e que partilharam o caminho para lá chegar.
“Curte o que fazes, faz o que curtes”, assim se intitulava o painel de abertura do Oeste Jovem, que se realizou na manhã de 23 de Março no grande auditório do CCC. Os dj’s caldenses Ride, Stereossauro e Holly, a mentora de vários eventos de arte urbana, Lara Seixo Rodrigues, e o músico de Rio Maior, João Neves, contaram os seus percursos profissionais a uma plateia de 600 jovens estudantes do Oeste.
A mensagem comum foi no sentido de os jovens oestinos continuarem a sonhar e a acreditar que vale a pena lutar para concretizar os seus objectivos.
Lara Seixo Rodrigues aos 18 anos queria ser cabeleireira, mas licenciou-se em Arquitectura. Durante dez anos desenhou e construiu muito, ganhando até prémios enquanto arquitecta. Mas num festival de arte urbana nasceu-lhe um gosto que mudou a sua vida. Tanto que em 2014 fundou o projecto Mistaker Maker (uma associação criativa sem fins lucrativos) que desenvolve eventos de arte urbana.
Na prática, investiga tudo sobre um sítio, junta artistas de graffitti e outras formas de expressão, coloca-os em contacto com a população e escolhem intervenções a fazer relacionadas com o sítio em causa. Depois é dedo no cap (o pulverizador por onde sai a tinta) e toca a pintar.
O que não se vê, foi o que a jovem apresentou nas Caldas: todo o trabalho feito durante meses para tornar possível os dois ou três dias de festival de arte urbana.
Mas ao longo dos anos de trabalho de campo, notou que quem seguia e se interessava pelos projectos eram maioritariamente idosos. Surgiu-lhe então uma ideia que viria a colocá-la nas bocas do mundo: criar o Lata65, um workshop de arte urbana para idosos que já se realizou em várias cidades e aldeias do país. De Lisboa à aldeia de Pombeiro da Beira, em Arganil, passando, por exemplo, pelo Fundão, Estarreja e até pelos Açores, o Lata65 ganhou fama e foi notícia pelos sorrisos (e lágrimas de emoção) que roubava. Daí foi um salto para o estrangeiro (Brasil e Espanha).
Neste projecto, após uma parte teórica em que os seniores criam o seu tag (assinatura) e fazem os stencils (moldes), é vê-los sorridentes a grafitar paredes com a coordenação de alguns artistas de rua. A vivacidade e a dinâmica são constantes nas actividades e vê-se os participantes (com uma média de idades de 72 anos e cuja participante mais velha tinha mais de 100) em posições que a idade, supostamente, não permitiria.
“Passam a ser miúdos”, observou. Há até um caso de uma senhora que se tornou graffitter.
A vinda de Lara Seixo Rodrigues às Caldas deixou no ar a possibilidade de existirem projectos de arte urbana nesta cidade.
CALDENSES QUE DÃO CARTAS NA MÚSICA
O caldense dj Ride recordou que o início da sua carreira não foi fácil, até porque o hip-hop não era propriamente bem visto. “Com 15 anos, para comprar o primeiro gira-discos e mesa de mistura, pedi um empréstimo a um empresário caldense às escondidas da minha mãe”, partilhou. Na altura contou também com um apoio financeiro às bandas que ainda hoje a Câmara das Caldas promove em troca de uma actuação.
“Temos uma relação de amor-ódio com as Caldas, porque apesar de ser a cidade mais bonita do mundo, é um meio muito pequeno e não se passa quase nada em termos musicais”. Daí que a dupla se tenha esforçado por conquistar Lisboa e o Porto. Os campeonatos nacionais e mundiais trouxeram o reconhecimento e comprovaram a qualidade.
O dj afirmou que o trabalho e a perserverança possibilitaram que vivesse da música, o seu sonho que era tido por alguns como impossível.
O também caldense dj Stereossauro é parceiro de Ride nos Beatbombers e é um nome que hoje já é conhecido pela maioria dos portugueses. Ao fim de largos anos, a sua arte está a ser reconhecida. Admitiu que “é mais fácil trabalhar por conta de um patrão e ter um ordenado certo, mas quem corre por gosto não cansa”.
Holly é um jovem dj, que por acaso também é irmão de Ride. Ainda está no início, mas o seu nome é já uma referência. Do momento em que começou a produzir para vários nomes do hip-hop nacional, à ida à China para tocar numa passagem de ano, foi um instante numa ascenção que Stereossauro definiu como “quase ímpar”.
Ride é o primeiro a salientar que cada um fez e faz o seu caminho e notou que o irmão nunca usou o seu estúdio, “o que diz muito sobre a personalidade dele”. Mas Holly também admite a óbvia influência no estilo de música que o irmão mais velho lhe deu a conhecer.
Outra história contada aos jovens oestinos foi a do músico de Rio Maior João Neves, que sonhava fazer a sua guitarra eléctrica. Dedicou-se a tal e decidiu adicionar-lhe funções que permitem ao músico controlar todo o ambiente em palco com o instrumento que toca. Num estágio que fez em Itália, percebeu que a tecnologia aplicada podia ser um negócio. Concorreu ao Lisboa Momentum Startup e ganhou.
Depois das histórias, os Beatbombers actuaram para alegria dos jovens, improvisando com o dj Holly sobre o set que deu o campeonato mundial à dupla caldense. Terminaram, claro, com a célebre versão dos Verdes Anos, de Carlos Paredes.
UMA INICIATIVA QUE MERECEU ELOGIOS
Antes deste painel houve a inauguração formal do Oeste Jovem com representantes das 12 autarquias. Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas, como anfitrião e mentor da iniciativa, disse que era um orgulho receber a juventude oestina.
“Finalmente conseguimos que Oeste Jovem fosse a 12 com todos os municípios oestinos, isto é notável”, afirmou o edil, acrescentando que “vão poder aprender uns com os outros e criar uma cultura do Oeste”.
Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer e da OesteCIM, disse que “Portugal deve orgulhar-se do Oeste” .
Lembrou aos jovens que as Câmaras têm “o compromisso de os transportar para as actividades” .
Já João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, salientou que em praticamente um ano de funções ainda não havia estado em nenhum evento de juventude que envolvesse todos os municípios de uma comunidade intermunicipal.
O governante disse que este era “um programa de actividades excepcional” e informou que “o Governo está empenhado na educação não formal, ou seja no associativismo juvenil” e que regressa este ano a possibilidade de fazer voluntariado na vigilância das florestas e a gratituidade da linha de apoio à sexualidade. “Tinha deixado de ser gratuita e as chamadas caíram abruptamente”, contou.
Além disso, aproveitou para dizer que “o Estado promove estágios profissionais” para que quem não tem experiência laboral.
No sábado realizou-se uma colour run, em Alenquer, seguida de um concerto. Na terça-feira, em Óbidos, estava previsto um workshop integrado no projecto Anatomia da Identidade (do actor Pedro Giestas), que foi cancelado por falta de inscrições.