Estudantes angolanos com emprego garantido no seu país

0
708
250 estudantes angolanos
Os 250 estudantes angolanos presentes no encontro têm muitos empregos à sua espera em Angola
- publicidade -

Os 250 estudantes angolanos que se reuniram o fim-de-semana passado, 24 e 25 de Outubro, no Inatel da Foz do Arelho têm uma característica que os diferencia dos seus colegas portugueses – não terão falta de emprego ao regressarem ao seu país.
São as próprias autoridades de Angola quem incentiva os jovens a regressarem porque necessitam de quadros angolanos para ocuparem os lugares cimeiros da nação.

O desafio para voltarem foi feito pelo embaixador angolano, Marcos Barrica, durante o encontro da Associação de Estudantes Angolanos em Portugal (AEAP). “São estes jovens que irão constituir as futuras elites do nosso país e vão erguer a nova Angola, sabendo interpretar os anseios da população”, sublinhou o embaixador.
Marcos Barrica salientou ainda que a missão destes jovens em Portugal é transitória. “Vieram para se formar e vão voltar ao país para levar todo o capital adquirido na formação para o desenvolvimento de Angola”, disse.
Segundo Edvaldo Fonseca, presidente da AEAP, os principais objectivos deste encontro eram o intercâmbio entre estudantes e a troca de experiências com os actuais quadros angolanos para os informar sobre a realidade daquele país.
No encontro, que decorreu no âmbito das comemorações dos 35 anos da independência de Angola, participaram também representantes do governo angolano e outras entidades convidadas.
Sérgio Rescova, deputado da Assembleia Nacional de Angola, recordou o processo de independência e a guerra civil que se seguiu, sublinhando que com a paz se iniciou um percurso de reconstrução. “Em muitos aspectos estamos a construir e não apenas a reconstruir”, afirmou, acrescentando que são precisos não apenas licenciados, mas também quadros intermédios.
Na sua intervenção, Mário de Andrade, reitor da Universidade Lusíada de Angola, chamou a atenção para o facto deste país já ter sido olhado pela comunidade internacional como um Estado falhado e agora ser “um grande actor no sistema mundial”. O reitor referiu que actualmente “o mundo inteiro corre para Angola” e as grandes multinacionais estão lá todas.
Como estas precisam de quadros, Mário de Andrade defende que os angolanos devem aproveitar para ocupar esses lugares. “Num mundo globalizado, há muitos estrangeiros que querem ir trabalhar para Angola. Muitos que antes escondiam o seu lado angolano, agora fazem questão de o aproveitar”, comentou.
No entanto, o reitor da Lusíada salientou que em Angola há muitos angolanos a estudar no ensino superior, muitos dos quais como trabalhadores-estudantes, e são uma séria competição aos que estão fora do país. “Os que estão cá fora devem acelerar o passo e voltar”, brincou.
O reitor não teve reservas em utilizar a frase de Salazar “Para Angola já e em força!”, de modo a incentivar o regresso dos jovens ali presentes.

- publicidade -

A DIFICULDADE ESTÁ EM ESCOLHER O MELHOR EMPREGO

A julgar pelos depoimentos de alguns dos angolanos ouvidos pela Gazeta das Caldas, nem sequer seria preciso lançar este repto.
José Veiga, 27 anos, está a terminar o mestrado de Mercados Financeiros, depois de uma licenciatura em Gestão, e quer voltar logo que possa, até porque tem várias ofertas de emprego. “Só depois de estar lá é que poderei decidir qual aceitar”, disse.
O angolano sabe que no seu país de origem há mais oportunidades para um licenciado do que em Portugal, mas também quer contribuir para o crescimento de Angola.
Este também é o caso de Dinamene Maquel, de 29 anos, que está a fazer um mestrado em Gestão de Recursos Humanos, na Escola Superior de Educação de Coimbra, onde se formou no curso de Turismo.
“Já tenho alguns trabalhos em vista, mas ainda estou a ponderar tudo. Neste momento o meu objectivo é terminar o mestrado”, contou.
Dinamene Maquel nunca pensou em ficar em Portugal e agora muito menos. “Por causa do estado da vossa economia e porque tenho noção que aqui é mais difícil de progredir na carreira”, afirmou.
A angolana está em Portugal há 12 anos e estudou nas escolas portuguesas desde o ensino preparatório. Veio ainda nova porque o seu pai, que tirou o curso de Medicina em Coimbra, voltou a Portugal nessa altura para a especialização. Os dois irmãos de Dinamene Maquel já terminaram o curso e regressaram a Angola para trabalhar.
A jovem estudante está receptiva à possibilidade de trabalhar fora de Luanda, o que lhe dá ainda mais hipóteses de arranjar um emprego. “Eu quero é trabalhar, seja onde for”, disse.
Esse foi também o desafio lançado pelo deputado Sérgio Rescova, que quer que os angolanos considerem trabalhar noutras províncias e não apenas em Luanda.
Outro estudante, Osvaldo Furtado, tem 32 anos, e está a frequentar a licenciatura de Marketing e Publicidade na Universidade Lusófona, em Lisboa.
Há 14 anos em Portugal, para onde veio concluir o ensino secundário, Osvaldo Furtado quer também voltar para Angola e ajudar o seu país.
O estudante lembrou que durante estes anos sentiu muitas dificuldades financeiras, tal como aconteceu com muitos colegas seus. “Muitos tiveram que trabalhar para se sustentar e às vezes acabam por deixar os estudos para trás”, comentou.
Um dos que já começou a trabalhar em Portugal é Bruno Andrade, a residir há dois anos nas Caldas da Rainha. O técnico de formação do Gabinae é um dos membros fundadores da Associação Social e Cultural dos Africanos da Zona Oeste.
Com 28 anos, está a terminar o mestrado de Estratégia Empresarial pela Universidade do Algarve, depois de uma licenciatura em Gestão na Universidade de Aveiro.
Apesar de já estar integrado profissionalmente em Portugal quer voltar. “Mantenho presente a missão que me trouxe cá em 1999, que era formar-me, para depois regressar”, explicou.
Falta de emprego também não terá. “A maior dificuldade será escolher o melhor ”, adiantou.
Segundo Bruno Andrade, os angolanos não irão esquecer a paisagem magnífica da Lagoa de Óbidos que apreciaram durante este encontro e também o convívio que os levou a “invadir” os espaços nocturnos da Foz do Arelho.

- publicidade -