Ex-trabalhadores da Secla juntaram-se em mais um jantar de convívio

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Untitled-22Pelo quarto ano consecutivo alguns dos ex-trabalhadores da Secla juntaram-se num jantar convívio, que teve lugar a 14 de Junho no restaurante Lisboa.
De ano para ano tem vindo a aumentar o número de participantes. A primeira vez que Maria do Carmo Ribeiro organizou este encontro, em 2011 (três anos depois da empresa de cerâmica ter fechado as suas portas), foi apenas para as suas antigas colegas da secção de pintura e estiveram 37 pessoas. Em 2012 juntaram-se 70, em 2013 foram 68 e este ano esse número subiu para os 75 participantes.
“Na secção da pintura, onde eu trabalhava, tínhamos um bom relacionamento, e sempre que nos juntávamos no café pensávamos em fazer um jantar ou almoço. Eu acabei por decidir organizar esse encontro”, recordou a organizadora.
Os jantares servem também para partilhar memórias dos tempos que passaram na fábrica de cerâmica, apesar de existir ainda um sentimento de mágoa pela forma como a empresa fechou. “Foi pena tudo ter terminado assim. Muita gente ficou sem trabalho”, lamentou. “Tínhamos óptimas instalações, desde consultório médico a uma cantina que funcionava muito bem”, recorda com saudade.
A Secla foi fundada em 1947 e chegou a ser uma das maiores produtoras mundiais de louça utilitária e decorativa em faiança, produzindo mais de 16 milhões de peças por ano. Pela fábrica caldense passaram artistas como Herculano Elias, Ferreira da Silva, Hansi Stäel, Alice Jorge, Júlio Pomar e José Santa-Bárbara, entre outros.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

Untitled-23“O meu primeiro e último emprego”
“Iniciei nas embalagens, estive na escolha e depois fui para a pintura. Era cromadora de primeira. Foi o meu primeiro e último emprego. Tenho muito boas memórias. Fui para lá com 20 anos, mas foi difícil de entrar. Só consegui através de um senhor da secção de pessoal, amigo da minha família. Eu saí antes da Secla ter fechado, mas queria muito que ela tivesse continuado a funcionar. Só tenho boas recordações dos colegas e do trabalho. Ao longo dos anos fui adquirindo muito das peças emblemáticas da fábrica, como a terrina Império, os galos e as zebras, entre outras”. Maria do Carmo Ribeiro trabalhou na Secla 33 anos

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Untitled-24“Fui para a Secla com 15 anos”
“Fui para a Secla com 15 anos e saí de lá com 48. Nasci em Rio Maior e vim morar para as Caldas quando entrei na Secla. Só conseguir ir trabalhar para esta fábrica porque havia uma senhora que era conhecida do meu irmão. Só se conseguia entrar na Secla assim. Comecei na secção de acabamentos, onde fui chefe de secção, e acabei no controlo de qualidade. Foi na Secla que conheci o meu marido, que também lá esteve durante 27 anos. Eu fui das primeiras pessoas a sair da fábrica que não tinha ainda os 55 anos. Eles estavam a negociar a saída com pessoas a partir dessa idade, mas eu já estava num estado de saturação e quis sair. Eu estava no controlo de qualidade. Havia uma engenheira que conseguiu a certificação da Secla e que fez um bom trabalho. Só que para manter essa certificação tinha que haver controlo em todas as áreas e ela estava a entrar em áreas que não convinha. Depois arranjaram maneira de a ‘encostar’ e veio outra engenheira, o que fez com ela saísse. Foi nessa altura que começaram a haver muitas queixas de clientes por causa da qualidade e eu quis sair. Elvira Filipe trabalhou na Secla 33 anos

Untitled-25“A Secla não acompanhou a concorrência”
“Entrei na Secla quando tinha 18 anos. Era ainda um menino. Estava a fazer uns biscates para o Notário e levava o correio para a estação da CP, onde passava o comboio do correio. No caminho encontrei um amigo a quem perguntei se havia algum trabalho na Secla. Ele perguntou-me se sabia falar inglês e acabei por entrar logo no sector da exportação. Embora nunca me tenha preocupado com os cargos que ocupava, em determinada altura disseram-me que eu era o director comercial da Secla. Mas eu nunca me senti isso, não tinha perfil. Andava pelas feiras pela Europa e na América. Depois dos Estados Unidos e da Inglaterra, a Secla começou a entrar nos mercados franceses e holandeses. Saí alguns anos antes do seu encerramento. A Secla começou por não acompanhar a concorrência. Houve uns mal entendidos dos administradores que vieram e nunca sentiram os sacrifícios que os funcionários fizeram na década de 60 e 70. Passou a ser tudo ‘à grande e à francesa’, como se costuma dizer. Até que acabou assim… As melhores memórias que tenho é o são convívio que existia na altura. Todos os fins-de-semana as pessoas reuniam-se numa merenda. Até que apareceu uma administração que era menos aberta ao convívio com os funcionários. Carlos Manuel trabalhou na Secla 21 anos

Untitled-26“Estes jantares são bons para contar histórias antigas”
“Nasci em Torres Vedras mas vim para as Caldas com os meus pais quando ainda era criança. Tinha 16 anos quando fui para a Secla, mas antes disso tinha trabalhado um ano e meio na Caiado. Depois de lá ter entrado através de pessoas conhecidas, consegui que mais familiares meus também fossem trabalhar para a Secla durante algum tempo. Comecei na secção de embalagem e depois mudei para a escolha de vidro, onde continuei como chefe de secção até sair. Vim-me embora quando a primeira fábrica fechou e achei que não valia a pena continuar porque havia muita gente. Foi mais um lugar para mais alguém. Estes jantares são bons para contarmos as histórias antigas. Tenho boas memórias. Trabalhei muito e não estou arrependida de nada do que fiz. Tenho é pena daquilo ter fechado porque dava trabalho a muita gente. Houve muitas pessoas que ficaram com depressões, esgotamentos e com stress, porque não conseguem arranjar trabalho”. Maria Vitória Custódio trabalhou na Secla 39 anos

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