Fábrica faz parte da história da cerâmica local e há jovens que querem conhecer melhor a sua trajetória
A Secla foi uma das maiores e mais criativas indústrias cerâmicas portuguesa da segunda metade do século XX. E a Associação Design, Ofícios e Cultura (ADOC) quis conversar sobre esta histórica fábrica caldense, tendo promovido uma tertúlia na sua sede, nos Silos, a 18 de março.
Esta foi a primeira “Conversa de Barro”, que contou com a participação de três convidadas que passaram por aquela unidade industrial: Graça Nazaré, Maria João Melo e Marta Galvão Lucas.
A plateia esteve composta, sobretudo, de jovens autores, interessados em conhecer um pouco mais sobre esta indústria que laborou nas Caldas entre 1947 e 2008 e que se dedicava sobretudo à exportação para EUA e vários países europeus.
Três décadas de Secla
Graça Nazaré deu a conhecer que entrou na fábrica em 1978. “Éramos um grupo de 30 aprendizes, tendo ficado 12 no departamento da pintura”, partilhou a convidada, que laborou naquela fábrica ao longo de 30 anos e orgulha-se de ter trabalhado nesta fábrica histórica até ao último dia, vivido durante o mês de junho de 2008.
“A partir de uma certa altura tínhamos de respeitar os minutos que levava pintar cada peça”, disse a pintora, que ainda hoje mantém ligação a esta arte.
Por seu lado, Maria João Melo integrou a fábrica em finais dos anos de 1980, quando pediu ajuda para desenvolver um projeto cerâmico na fábrica pois pretendia candidatar-se a um Concurso de Design. Levava uns “plotts” executados pela impressora “high-tech” da época, de um projeto concebido através de uma ferramenta disponibilizada num curso que então frequentava no Cencal. Foi recebida pelo administrador Pessoa de Carvalho, que lhe deu a conhecer o gabinete de modelação onde o seu projeto cerâmico foi terminado.
“Passados alguns meses, perguntaram-me se estaria disponível para desenvolver tampas para umas jarras que tinham feito a mais”, contou Maria João Melo, passou a trabalhar no gabinete de Design da Secla, quando esta já tinha como diretor geral, Corrêa de Sá, nos anos de 1990.
“Fazia-se um pouco de tudo: desenvolvia peças, decorações, recebia clientes e até desenhava a capa do relatório de contas”, contou a designer, acrescentando que naquela época, estava também encarregue de desenhar os stands com que a Secla marcava presença nas diversas feiras internacionais.
Marta Galvão Lucas, filha de um dos responsáveis pela Secla, entrou na empresa em 2005 e começou por se interessar em estudar as peças que estavam nas caves do edifício, que lhe captaram a atenção.
“Eram sobretudo as obras do Estúdio Secla, pintadas à mão”, disse a escultora, referindo que a fábrica tinha um espaço museológico, onde guardava as peças mais importantes.
“Quando entrei, fui à procura dos moldes das peças mais antigas, pois pretendia desenvolver a coleção de Secla Vintage, primeiro ligada à couve, depois dedicada aos motivos geométricos”, referiu a escultora, que levou algumas destas peças para mostrar ao público presente na sessão.
“Foi feita uma seleção de peças históricas que tinham como objetivo divulgar a Secla e a sua história”, contou a convidada, que hoje tem a sua própria marca, ligada à história da cerâmica local.
Graça Nazaré também trouxe uma peça icónica da Secla, uma lavadeira que a própria pintou com cores vivas e que muito interessou alguns dos presentes desta tertúlia.
No último fim de semana de março, a ADOC vai realizar um workshop de cestaria. As “Conversas de Barro” regressam à sede da associação, nos Silos, em maio.