
Atravessa-se a cidade e nota-se que este não é um dia igual aos outros. O ambiente é de feriado ou de fim-de-semana. Há gente nas ruas em jeito de passeio. Não se nota o movimento que caracteriza um dia útil normal. As Finanças, o tribunal, o Centro de Saúde, o Centro de Emprego e a Segurança Social estão abertos. Os correios e os bancos estão fechados. As escolas têm o portão aberto e alguns funcionários lá dentro.
As lojas estão umas abertas e outras fechadas. Tal como nos fins-de-semana.
Na Zona Industrial a maioria das empresas estão fechadas. Algumas laboram. Mas o saldo é o de dia feriado na zona onde há mais indústrias nas Caldas. Aliás, nas suas ruas não se vêem camiões nem carrinhas comerciais nem carros. Estão desertas.
Na Foz do Arelho há pessoas a passear no areal. Alguns pescadores ao longe. Os cafés não estão apinhados, mas o sol insiste em esconder-se atrás de nuvens que ameaçam chuviscos.
Em suma, Caldas da Rainha viveu na última terça-feira um dia híbrido. Se era para ser um dia normal de trabalho, não o foi. Mas também não foi um autêntico feriado. Portanto, mais valia que o município tivesse assumido as festividades carnavalescas que desde há décadas caracterizam este dia e não tivesse pejo em assumir antecipadamente e com a devida antecedência que nas Caldas era feriado. Afinal fizeram-no de forma clara Torres Vedras, Peniche e Nazaré.
Mas no país há mais exemplos: Murtosa, Espinho, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Vale de Cambra, S. João da Madeira, Famalicão, Fafe, Celorico de Basto, Gouveia, Fornos de Algodres, Aguiar da Beira, Vila Nova de Foz Côa, Guarda, Tarouca, Tabuaço, Penedono, Vila do Conde, Gondomar, Alcanena, Silves, Albufeira, Alcoutim, bem como todo o distrito de Beja e as regiões autónomas dos Açores e da Madeira, deram tolerância de ponto. E concelhos como Sintra e Vila Nova de Gaia deram a escolher aos trabalhadores entre o dia de Entrudo ou a segunda-feira de Páscoa.
Caldas da Rainha perdeu mais por não ter o corso na Terça-feira Gorda do que com este meio termo que foi o dia útil envergonhado ou o feriado envergonhado. Perdeu milhares de visitantes, perdeu movimento, perdeu cafés e restaurantes cheios, perdeu a oportunidade de ser mais citada a nível nacional nos jornais e televisão. E não respeitou – e até desmotivou – as centenas de carolas que nas colectividades trabalham para dar o seu contributo para o corso.
A alternativa do corso de sábado à noite é um pálido remendo aquilo que era o verdadeiro Carnaval das Caldas da Rainha. Não se dizia nessas alturas que “O das Caldas é o Maior!”?
A falácia da produtividade
Vários estudos têm posto em causa a ideia de que a eliminação dos feriados contribui para o aumento da competitividade nacional. Se isso pode ser, em parte, verdade no sector industrial, não o será noutras actividades económicas onde se trabalha por objectivos e sem limitação de tempo. A boa organização e a motivação dos trabalhadores podem ser mais decisivos para o aumento da produtividade do que o número de horas formal ou de dias trabalhados.
Acresce que há sectores seriamente prejudicados com o fim dos feriados e das pontes. A hotelaria e a restauração em algumas das regiões do país – agora tão fustigadas com o aumento do IVA – contavam com estes períodos de maior procura para colmatar a sazonalidade em que vivem. Tal como os sectores que lhes vendem bens e serviços.
O Oeste era, a este nível, beneficiário dos períodos do ano em que os feriados permitiam a muitos residentes de Lisboa ficarem uns dias na sua terra e dos visitantes que aproveitavam estes dias para passear e alojar-se na região.