Ferreira da Silva dá nome a restaurante pedagógico da EHTO

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Os participantes do almoço
Os participantes do almoço de homenagem ao artista plástico que escolheu as Caldas para desenvolver a sua obra - Natacha Narciso
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A Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO) atribuiu o nome do ceramista Ferreira da Silva ao seu restaurante pedagógico, a 8 de Março, data em que se assinala o segundo ano da morte do artista. A iniciativa teve lugar com um almoço especial com a ementa inspirada na sua obra e que juntou convidados, como o filho do artista, autarcas locais, responsáveis das escolas e da formação, assim como alguns amigos do homenageado.

“A cerâmica é uma arte 100% pantagruélica!”. Foi esta a frase proferida por Ferreira da Silva numa entrevista dada ao escritor Luiz Pacheco, antes de o conhecer mais de perto e que trabalhava então no Jornal das Letras e Artes, isto em 1965. Foi também a inscrição escolhida para colocar na placa do restaurante pedagógico da EHTO, e que foi descerrada pelo director, Daniel Pinto, pelo filho do artista Rui Ferreira da Silva e pelo presidente da Câmara, Tinta Ferreira.

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“Este é um almoço muito significativo para a escola dado que Ferreira da Silva é um artista que deixou uma marca forte na cidade e a partir de agora fica associado à EHTO”, disse Daniel Pinto. O director contextualizou a ligação do artista plástico à Escola de Hotelaria dado que há três anos desenvolveu-se um projecto pedagógico que envolveu a visita às obras públicas que Ferreira da Silva possui nas Caldas, além do autor ter vindo à EHTO partilhar a sua vida e obra com os estudantes. Dentro desta iniciativa realizou-se um ciclo de jantares temáticos com o tema das artes e da cultura, tendo a obra de Ferreira servido de inspiração para a refeição.
O director da EHTO deixou ainda o desejo da escola poder integrar a Rota Bordaliana, dando assim a conhecer aos visitantes que percorrem as suas obras públicas “que há um restaurante pedagógico que também homenageia essa figura maior da criação artística que foi Ferreira da Silva”, rematou.
Quem também pediu a palavra foi o aluno finalista de Restauração e Bebidas, Rodrigo Ricarte, que contextualizou este evento explicando aos presentes que os alunos tinham uma boina, para recordar o acessório que Ferreira da Silva usava nos idos anos 50, quando trabalhava na Secla. Os alunos que serviram a refeição também pintaram os pratos que decoraram as mesas em sua homenagem.

Um momento tocante

“Este é um momento tocante dado que se evoca Ferreira da Silva e a sua obra”, disse o historiador João Serra, saudando o almoço que classificou como “pantagruélico”. Tendo conhecido bem Ferreira da Silva e Luiz Pacheco e a entrevista que o primeiro deu ao segundo, o investigador dúvida que Ferreira da Silva tenha dito exactamente tal expressão “mas tenho a certeza que foi interpretado assim”. A entrevista dada em 1965 – relacionava-se um comilão alguém que devora comida e tem especial prazer nisso -, algo que não se aplicava a nenhum deles.
A interpretação tem que ser metafórica, disse o convidado, referindo que a cerâmica é “uma arte devoradora, que consome as outras”. A obra de Ferreira da Silva era na época “brutal” de certa forma e fez com que em 1965 justificasse a vinda de Luiz Pacheco às Caldas da Rainha “à procura desse artista de excessos que, a partir da cerâmica parecia conseguir fazer tudo”.
A obra de Ferreira da Silva desenvolve-se em várias fases, mas nas Caldas é a partir de 1985 que as suas obras em espaço público pontuam toda a cidade.

Um artista “fora da caixa”

Rui Ferreira da Silva, o filho do artista plástico homenageado, afirmou que se sentia feliz e satisfeito por a vida e obra do seu pai servir de mote a várias iniciativas nas Caldas. Rui Ferreira da Silva trabalha há vários anos no Ministério da Cultura e fez questão de referir que do seu trabalho faz parte a sistematização das profissões do património.
Na sua opinião a cultura e o património têm hoje conceitos alargados tendo inclusivamente já chegado à gastronomia. “É importante ter em conta que o que comemos e como somos atendidos é algo que nos identifica como povo”, disse Rui Ferreira da Silva, acrescentando que neste momento em que o país está na moda, é importante tirarmos partido disso. O convidado acrescentou ainda que o seu pai costumava falar da cerâmica “como uma arte pantagruélica” e Rui Ferreira da Silva sempre teve a sensação de que ele se referia “a um acto de improvisação, de juntar vários ingredientes tal como um cozinheiro”. Crê inclusivamente que o seu pai era um artista “fora da caixa”.
Presente no almoço esteve o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, para quem Ferreira da Silva “deixou uma marca indelével nas Caldas da Rainha em espaços públicos e privados”. Sublinhou que a autarquia tem procurado promover a Rota de Ferreira da Silva, com o intuito de “dar conhecer melhor as Caldas e as suas obras”.
Ao repto de Daniel Pinto de integrar o restaurante escolar na rota espera “que seja possível desde que os visitantes queiram conhecer que há um restaurante Ferreira da Silva, onde podem fazer marcação com reserva e onde podem degustar refeições de grande qualidade”, afirmou. Tinta Ferreira deu ainda a conhecer que o município vai continuar a valorizar a memória do artista.
O edil caldense agradeceu a refeição cuja ementa foi similar ao jantar de homenagem, feita em 2015. Desta vez a ementa integrou uma Sopa de marisco de Lagoa, seguida por Peixe do Rio frito com Açorda de Tomate. O prato de carne foi Pato desfiado com Laranja e Legumes do Oeste, tendo a sobremesa sido um surpreendente Pastel de Requeijão.
Presentes na refeição estiveram Giuseppe Olmeti, coordenador europeu das Cidades de Cerâmica, Célia Fernandes, vereadora da Câmara de Mafra, indigitada para presidir à Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas (a constituir formalmente no próximo dia 17 de Abril), e Alexandra Pereira, a coordenadora das escolas do Turismo de Portugal, entre outros convidados.

[caption id="attachment_114608" align="alignnone" width="850"]O filho do artista, Rui Ferreira da Silva, O filho do artista, Rui Ferreira da Silva, junto à placa que dá o nome do pai ao restaurante pedagógico – Natacha Narciso[/caption]

Arte pública de Ferreira da Silva deu origem a acção de formação

Nos dias 23 e 24 de Março realizou-se uma acção de formação sobre a Arte Pública de Ferreira da Silva, promovida pelo Centro Oeste de Formação para Professores (CFAE). A actividade foi frequentada por professores, estudantes, técnicos e admiradores da obra artística do mestre em espaço público.
No primeiro dia realizaram-se visitas às obras que o artista fez e que pertencem à colecção do Cencal, sob coordenação de João Serra e de José Luís de Almeida Silva, docentes da ESAD e também técnico do CENCAL, o segundo. Ao fim do dia realizou-se uma mesa-redonda sobre a obra cerâmica de Ferreira da Silva com aqueles investigadores, amigos do autor.
No dia seguinte, João Serra falou sobre a bibliografia sobre Ferreira da Silva e foi feita uma visita guiada, coordenada por Isabel Xavier, aos Jardins de Água.
Os participantes assistiram também a documentários feitos por uma ex-aluna da ESAD e outro do cineasta caldense Miguel Costa. Do painel de convidados ainda constaram António Cardoso, João Maria Ferreira e Nicolau Borges.
António Cardoso contou várias histórias sobre o período da Secla, tendo feito referência à excentricidade e à inconformidade que Ferreira da Silva tinha em cumprir regras e horários. No entanto, reconheceu que o autor foi uma presença artística importante para a fábrica caldense.
O professor João Serra mencionou o testemunho de Ian Hird, um escocês que chegou a desenvolver trabalho no Curral, que se mostrou muito admirado com o trabalho desenvolvido por Ferreira da Silva e o seu processo criativo, muito experimentalista. Referiu também que o estágio de Ferreira da Silva em Paris (1967-1968) não foi feliz para o artista, que no entanto ficou deslumbrado ao contactar com a obra de Picasso.
Durante o curso foram mostradas imagens inéditas de autoria de amigos do artista como foram apresentadas algumas maquetas da autoria de Ferreira da Silva, com propostas de escultura para diferentes zona da cidade das Caldas. Para breve está prevista mais uma edição de testemunhos sobre Ferreira da Silva e a sua obra.
A Rota Ferreira da Silva, onde se incluem as obras de arte pública do artista na cidade será também o mote da caminhada, organizada pela Gazeta das Caldas e pela Farmácia Rosa, que terá lugar a 13 de Maio. A iniciativa, apoiada pela autarquia, insere-se nas Festas da Cidade.

[caption id="attachment_114607" align="alignnone" width="850"]Ferreira da Silva - Formação A acção de formação sobre Ferreira da Silva decorreu em vários espaços da cidade como o Cencal – Natacha Narciso[/caption]

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