Iniciativa do Museu Nacional Resistência e Liberdade em parceria com Peniche360 recriou fuga de há 65 anos
Foi a 3 de janeiro de 1960 que fugiu, da Cadeia do Forte de Peniche, um grupo de 10 presos políticos, entre os quais Álvaro Cunhal, o líder histórico do Partido Comunista Português. 65 anos depois, o feito que abalou o Governo do Estado Novo liderado por António Oliveira Salazar foi recriado pelo Museu Nacional Resistência e Liberdade, com a colaboração da empresa local Peniche360. Tratou-se da primeira recriação histórica promovida pela direção deste museu nacional que está precisamente instalado na Fortaleza de Peniche, cuja diretora, a museóloga Aida Rechena, foi recentemente reconduzida no cargo pelo Ministério da Cultura até 2027. Recorde-se que esta fuga foi organizada ao pormenor pelo PCP, tendo contado com a colaboração de um guarda, que também acompanhou os fugitivos e saltou os muros da fortaleza, mesmo defronte do então Posto da GNR de Peniche e com a complacência da população que vivia na redondeza, que “nada” viu. No exterior aguardavam os automóveis que conduziram os resistentes comunistas para a liberdade e prosseguirem a luta que acabou com o 25 de abril de 1974. Os jovens figurantes do Peniche360 recriaram os passos que os fugitivos fizeram, desde o terceiro piso, onde se encontrava a Ala de Alta Segurança e estavam encarcerados aqueles que eram considerados mais perigosos pelo regime e que interessava isolar da restante população prisional.
Para Aida Rechena, esta recriação simbólica e mais simples que outras que foram feitas no passado, foi um teste que teve um resultado positivo. “Foi uma primeira experiência para ver se resultava com a parceria do Peniche 360 e de um coletivo de alpinistas, e se o público aderia: vimos que sim porque era para ser para 20 pessoas e estiveram presentes 80!”, disse à Gazeta. Para a diretora, “são datas que nós temos sempre que lembrar porque a nossa missão é precisamente evitar que as novas gerações esqueçam ou dar-lhes a conhecer que as pessoas que lutaram pela liberdade foram pessoas como nós, mas que sacrificaram as suas vidas ou grande parte delas para que Portugal fosse um país livre e que os portugueses deixassem de estar amordaçados e reprimidos por um regime repressivo”.
São recriações históricas que vão continuar, mas agora é tempo para avaliação, de forma a melhorar e afinar esta representação, juntamente com a próxima, a fuga do também dirigente comunista António Dias Lourenço, ocorrida há 70 anos. Este feito é o tema principal da exposição permanente, que está patente ao público até 25 de março. ‘O Segredo de Dias Lourenço’ aborda a fuga da cela disciplinar no Fortim Redondo do monumento nacional penichense. Preso por duas vezes num total de 6.200 dias, e em ambas torturado, adotou “um ligeiro sorriso constante” para que os torturadores não lhe vissem o sofrimento.
Este Museu Nacional em Peniche recebeu em 2024, após a reabertura a 27 de abril, um total de 118.500 visitantes.