Sabia que a primeira estação de radar em Portugal foi construída na Serra de Montejunto e começou a trabalhar em 1955? E que ainda é lá que funciona um dos três radares militares do solo continental, que “varrem” o nosso céu em busca de aeronaves não autorizadas ou objectos voadores não identificados? Gazeta das Caldas aproveitou o dia aberto na base, por ocasião dos 65 anos da Força Aérea, para conhecer esta instalação militar, que hoje apresenta aos seus leitores.
Se alguma vez passou perto da Serra de Montejunto e se perguntou acerca daqueles “cogumelos” plantados no topo da serra, fique a saber que se trata da primeira estação radar militar que foi criada em Portugal. Inaugurada em Julho de 1955, é ainda hoje uma das responsáveis por manter a segurança do espaço aéreo nacional. Mas muito mudou daí para cá.
Talvez valha a pena explicar como funciona um radar. É um aparelho que detecta objectos voadores. Para isso, utiliza energia electromagnética, que é enviada para o céu e que viaja a uma velocidade próxima da velocidade da luz, ou seja, 300 mil quilómetros por segundo. Quando essa energia atinge alguma superfície, é reflectida. Ao ser reflectida volta ao radar, que assim calcula a distância, direcção e altura do objecto.
A discussão sobre a criação de um sistema de defesa aérea em Portugal começou nos inícios dos anos 50 do século passado. Estes sistemas servem para garantir a inviolabilidade do espaço aéreo, para anular ataques, ou tomar medidas que minimizem os danos de ataques já ocorridos.
A escolha dos locais foi estratégica, para impedir ângulos mortos. À do Montejunto, a primeira a ser construída e a entrar em funcionamento, coube a missão de vigiar a área de Lisboa e Setúbal.
Diga-se que a construção de uma estação de radar no topo de uma serra pouco urbanizada obrigou ao alargamento de estradas e à sua pavimentação pois na época o acesso ao Montejunto fazia-se por uns caminhos estreitos e toscos.
Além disso, a Serra de Montejunto é conhecida pelo seu clima frio e ventoso, pelo seu nevoeiro e pelos escassos verões de dois meses. Os ventos fortes terão sido uma das causas para a colocação das redomas (os famosos “cogumelos”). A actual aguenta ventos de 240 quilómetros por hora e permite que os técnicos subam ao cimo do radar e reparar avarias em qualquer altura do ano.
Mais tarde, em 1957, perto da Fábrica de Gelo, construiu-se o quartel, que hoje está ao abandono. Mas durante décadas a presença de centenas de militares da Força Aérea no Montejunto ajudou a dinamizar a actividade económica local do Cadaval e do Bombarral.
Esse mesmo espaço foi incluído em 2008 numa lista de bens militares a alienar por parte do Estado.
Ainda hoje é dali que se vigiam os céus portugueses
Mas voltemos a subir a serra até à estação radar, que em 1960 era a única que tinha capacidade para assegurar os serviços 24 horas por dia, sete dias por semana. Todas as outras laboravam oito horas diárias. Isto devia-se, especialmente, à falta de pessoal com formação para trabalhar na estação radar, uma vez que esta era uma tecnologia de ponta.
À época, o sistema português era considerado um dos melhores da Europa e constituía um importante ponto estratégico, uma vez que Portugal é uma porta de entrada da Europa. No Continente havia estações destas em Montejunto, Serra do Pilar, Serra da Estrela, Serra de Monchique e Espichel. Actualmente bastam três para cumprir a mesma missão: Montejunto, Fóia (Serra de Monchique) e Paços de Ferreira (Serra do Pilar).
Quatro anos depois a estação de Montejunto é considerada estação principal e no ano seguinte torna-se no único centro de controlo, ou seja, recebia as comunicações de todas as outras, controlando a actividade aérea nacional.
Nos anos 70 o sistema manual estava desactualizado e falava-se na necessidade de o modernizar. Quando chegou a hora de escolher onde colocar os radares do sistema automático, Montejunto foi novamente seleccionado.
As instalações antigas foram desactivadas em Julho de 1993 e menos de dois anos depois já o novo radar estava a trabalhar. Mas não se pense que houve um momento em que os céus não estavam a ser controlados. A nova estação da Fóia (Monchique) substituiu momentaneamente a de Montejunto, que agora tem o nome técnico de ER-3.
Hoje é uma das três estações de radar militares que continuamente “varrem” o céu de Portugal continental em busca de objectos voadores não identificados ou de aeronaves não autorizadas.
Vigia a uma distância de 500 quilómetros e tem operacionalidade de 90%, ou seja, só pára 30 dias por ano para manutenção, sendo coberta por outras estações.
No dia aberto organizado pela Força Aérea havia uma exposição de desenhos da base feitos por alunos das escolas do concelho do Cadaval. Além disso, os participantes podiam transmitir o seu nome em código morse e conhecer o sistema de abastecimento de água. Esta é capturada na Abrigada e sobe a serra onde existem dois depósitos para abastecer a base militar e as casas serranas. Em exposição estava também uma antiga consola dos primeiros radares.
A terminar a visita houve uma demonstração da equipa cinotécnica e a passagem de aviões F-16, que fez as delícias dos presentes.
“Adivinhar os perigos e evitá-los”
O brasão da unidade militar que estava no Montejunto é uma raposa vermelha, contornada a prata, em fundo verde. O fundo verde representa os campos da serra e alude à esperança e fé no cumprimento da missão. A raposa simboliza a argúcia, esperteza e observação acutilante e apurada. “Adivinhar os perigos e evitá-los”, é a frase que se lê no brasão e que foi escrita por Luís de Camões, em “Os Lusíadas”.
Outra curiosidade: “Batina” era o nome pelo qual era conhecida a estação de Montejunto. Corresponde ao seu código de chamada, ou seja, o nome pelo qual respondia nas comunicações com outras estações ou aeronaves.