Funcionamento do CHO e da sua administração à beira da ruptura

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Gazeta das Caldas
O hospital das Caldas é, ele próprio, uma emergência. Financeira e organizacional.
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Uma administração disfuncional, uma administradora contestada, falta de médicos, falta de dinheiro e a sensação de que o centro hospitalar foi abandonado pela tutela, minam a confiança e a motivação dos seus profissionais de saúde. A promessa da passagem para EPE (Entidade Pública Empresarial) tarda em concretizar-se e já faltou mais para que alguns elementos do Conselho de Administração batam com a porta.

O acumular de problemas nos três hospitais que compõem o CHO (Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras), muitos dos quais poderiam ser resolvidos com a sua passagem de Sector Público Administrativo (SPA) para Entidade Pública Empresarial (EPE), tem vindo a corroer a confiança dos profissionais de saúde e a motivação do próprio Conselho de Administração, que está numa espécie de gestão corrente porque sabe que será substituído.
Mas pior do que a “gestão corrente” é a disfuncionalidade do próprio órgão de gestão, cujos administradores vivem em permanente tensão, ansiando uns pelo dia em que forem exonerados e aproveitando outros para tentar impor-se e brilhar antes que a substituição aconteça.
Sem estratégia e sem futuro, o Conselho de Administração vai procurando apagar fogos e manter os serviços a funcionar, sendo que grande parte da sua energia é gasta a fazer concursos com empresas de trabalho temporário para poder suprir a falta de médicos e outros profissionais de saúde.
Num total de 1463 trabalhadores que o CHO emprega, há 468 que são profissionais externos, muitos deles ali colocados através de contratos a termo por empresas de trabalho temporário. E desses 468 profissionais, há 253 que são médicos, os quais têm disponibilidades semanais ou mensais muito variáveis, até porque alguns pertencem ao quadro de outros hospitais e vêm fazer umas horas às Caldas, Peniche ou Torres Vedras.
Ter um terço dos seus recursos humanos fora do quadro do pessoal e numa situação profissional precária é um pesadelo para qualquer gestor público. Sem um quadro de pessoal estável e em número suficiente para responder a todos os serviços, não há administração que consiga fazer muito mais do que andar, de forma reactiva, a gerir o presente.
Há, no entanto, pecadilhos que podiam ser evitados. E um deles foi a teia burocrática que levou ao afastamento de uma obstetra que bem falta faz ao hospital das Caldas. A especialista Rosa Afonso esteve seis meses a trabalhar à borla porque a administradora do CHO não autorizou pagar-lhe enquanto não regularizasse uns documentos. Resultado: a médica que assegurava muitas horas na urgência de Obstetrícia bateu com a porta e não voltou mais ao hospital das Caldas.
Depois disso foram várias as vezes em que a urgência de Obstetrícia esteve fechada e as grávidas eram encaminhadas para Santarém ou Lisboa.
Gazeta das Caldas perguntou ao CHO como tenciona resolver a carência de especialistas, sobretudo no período do Natal e Ano Novo, tendo a administração respondido que vai aumentar os honorários dos médicos até ao valor-hora permitido pelo secretário de Estado da Saúde e que tenciona fazer um contrato com uma nova empresa prestadora de serviços a fim de aumentar a oferta. Por outro lado, os especialistas do quadro verão alguns condicionalismos à marcação de férias neste período do ano.
Um dos problemas das empresas deste tipo é que quando entram em insolvência – o que já tem acontecido – deixam de pagar aos profissionais de saúde pelas horas que estes trabalharam no hospital das Caldas (e nos de Peniche e de Torres Vedras). Perante isto a administração do CHO nada pode fazer porque já pagou à empresa, mas os médicos – obviamente – acabam por se ir embora.
CONTENTORES DEGRADADOS

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A farmácia do hospital das Caldas funciona “provisoriamente” desde há vários anos em contentores alugados pelo CHO. Mas estes estão visivelmente degradados, ao ponto de, nas raras vezes em que tem chovido, haver infiltrações que deterioram os medicamentos.
Questionada pelo nosso jornal, a administração do CHO explicou que “os contentores em causa são de aluguer, pelo que a responsabilidade da correcção de anomalias nos mesmos é da empresa”. E acrescentou: “estão a ser estudadas as diversas soluções possíveis e o respectivo impacto económico para a instituição com carácter de urgência”.
Enquanto isto está a ser construída uma copa nas instalações do Conselho de Administração do hospital de Torres Vedras. Gazeta das Caldas apurou que o investimento em causa é de 5000 euros o qual, não sendo elevado, causou perplexidade nos funcionários devido às carências do hospital e à não prioridade destas obras.
O CHO respondeu que “esta obra surge na sequência da necessidade de criação de um espaço de apoio logístico ao funcionamento do Conselho de Administração, até ao momento inexistente, para cumprimento das regras de Higiene e Segurança no Trabalho”.
A administradora Ana Harfouche tem vindo a utilizar com frequência as instalações de Torres Vedras em detrimento das Caldas (sede do CHO), tendo, inclusivamente, manifestado interesse em deslocar para aquela cidade os serviços financeiros caldenses.

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