O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Oeste Norte, Carlos Sá, quer que os hospitais de Alcobaça, Caldas e Peniche, funcionem em rede.
O administrador acha que não faz sentido que existam especialidades no hospital das Caldas sem que esses profissionais dêem consultas em Alcobaça ou Peniche. Por isso, vão alargar as consultas externas a esses dois hospitais. O mesmo irá acontecer em relação à gestão das camas existentes em todo o CHON.
“A ideia é que exista um organismo único – o CHON – que está dividido por quatro pólos (incluindo o Hospital Termal), no qual as pessoas se vão deslocalizando para um ou para outro local”, explicou.
Quatro meses depois da tomada de posse do Conselho de Administração a que preside, que teve lugar a 16 de Agosto, Carlos Sá dá uma entrevista à Gazeta das Caldas na qual afirmou ter encontrado um centro hospitalar onde cada um dos hospitais continuava a funcionar por si próprio. “Surpreendeu-me a falta de procedimentos implementados e escritos sobre como as coisas deviam de ser feitas”, disse.
Entre as principais medidas previstas para o próximo ano, está a aquisição de um TAC e o alargamento das consultas externas de especialidades existentes nas Caldas para os hospitais de Peniche e Alcobaça.
O presidente do CHON anunciou ainda que até ao final do primeiro semestre de 2011 irão avançar as obras no hospital de Peniche e será entregue o projecto de ampliação da unidade das Caldas.
Sobre o termalismo, Carlos Sá não quis pronunciar-se até que se saiba qual a proposta do grupo de trabalho do ISCTE que deverá ser apresentada em Janeiro. No entanto, adiantou que gostaria de associar o termalismo aos cuidados clínicos. “É uma vertente que não existe em Portugal e só aqui pode ser implementada porque é a única instituição que tem essa possibilidade”, defendeu.
Entrevista: Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt
GAZETA DAS CALDAS: Qual o balanço que faz dos primeiros quatros meses deste Conselho de Administração?
CARLOS SÁ: Encontrei uma realidade complexa, talvez mais ainda do que estava à espera. Mas nada que não se resolva.
O balanço é positivo porque conseguimos durante este período começar a dar mostras de que a instituição pode implementar uma dinâmica maior do que aquela que havia.
Encontrei alguma desmotivação relativamente à instituição em si. Não em relação à prestação dos cuidados de saúde, mas um desacreditar que era possível ter um centro hospitalar. Cada um dos hospitais continuava virado para si próprio.
Eu julgo que conseguimos nestes primeiros meses fazer basicamente duas coisas: avaliar a realidade e começar, a pouco e pouco, a implementar algumas acções e passar a mensagem de que é possível fazer mais e melhor com o que temos.
Penso que as pessoas mantêm a expectativa daquilo que o actual Conselho de Administração conseguirá fazer.
Eu sabia que o desafio era complexo. Em primeiro lugar por causa da situação financeira e em segundo lugar por causa da carência de recursos humanos, nomeadamente ao nível de médicos, que é um problema muito grave que não depende de nós.
Em terceiro lugar, como já disse, o facto do centro hospitalar não estar a funcionar como tal.
G.C.: O que mais o surpreendeu daquilo que veio encontrar no CHON?
C.S.: Várias coisas. Uma é o facto de que, apesar do que referi sobre a desmotivação em relação ao centro hospitalar, os profissionais de saúde terem um empenho diário muito elevado. As pessoas entregam-se diariamente de corpo e alma no tratamento das pessoas.
Em termos de áreas de apoio, surpreendeu-me a falta de procedimentos implementados e escritos sobre como as coisas deviam de ser feitas. As coisas acabavam por acontecer porque as pessoas achavam que eram a melhor maneira, mas nada estava consolidado no sentido de haver procedimentos bem definidos.
Essa falta de procedimentos e clarificação das etapas foi algo que me surpreendeu porque julguei que tudo isso estivesse mais consolidado.
Os departamentos funcionavam, mas quase por intuição. Daí a necessidade de estabelecer normas para as pessoas saberem como devem proceder e com que objectivos.
G.C.: Quais as principais decisões que tomou ao longo destes primeiros meses?
C.S.: Em primeiro lugar o que fizemos foi avaliar aquilo que temos.
A segunda fase, que iremos iniciar mais em força a partir de Janeiro, será a implementação de medidas que têm como objectivos a consolidação do centro hospitalar, a melhoria das condições de trabalho para os profissionais e a melhoria da prestação de cuidados de saúde à população.
Por exemplo, ao nível da Imagiologia o CHON não tem estrutura suficiente para dar resposta às suas necessidades. Por isso vamos avançar com a aquisição de um TAC e melhorar os equipamentos que temos, ao nível das várias especialidades. Queremos também introduzir novos conceitos.
Ao nível da Patologia Clínica também queremos fazer o mesmo, com a consolidação de um laboratório central.
Como entendemos que a criação de um centro hospitalar tem que trazer benefícios para a população, vamos alargar as consultas externas para as áreas de Alcobaça e Peniche.
Não faz sentido que existam especialidades no hospital das Caldas e não haver a disponibilidade dos profissionais fazerem consultas em Alcobaça e Peniche.
A partir de Janeiro vamos alargar a estes hospitais as consultas externas de Gastroenterologia, Psiquiatria, Cardiologia e Ortopedia Infantil, entre outras.
G.C.: Há condições para que isso seja feito?
C.S.: Há. Estamos a dinamizar uma política de deslocalização de médicos e enfermeiros, de modo a que se dêem resposta às necessidades reais de cada hospital.
No caso da Cardiologia, por exemplo, só temos um especialista no hospital das Caldas, que vai dar consultas um dia por semana a Alcobaça e Peniche.
Mas também já deslocalizámos profissionais de saúde de Alcobaça para prestar serviço no hospital das Caldas e vamos fazer isso sempre que houver necessidade.
A ideia é que exista um organismo único, o CHON, que está dividido por quatro pólos (incluindo o Hospital Termal), em que as pessoas, conforme as necessidades, se vão deslocalizando para um ou para outro local.
Obviamente que isso exige uma boa planificação e daí a necessidade de definição de procedimentos e objectivos.
Este é que é o benefício que a criação de um centro hospitalar traz para as populações desta região, proporcionando o acesso aos cuidados de saúde na sua zona de origem.
Vamos fazer o mesmo ao nível da cirurgia de ambulatório, que vai ser descentralizado para Alcobaça. Estamos neste momento na fase final de implementação para que toda a cirurgia de ambulatório de adultos do CHON passe a ser feita em Alcobaça.
No futuro também iremos descentralizar para Peniche outras áreas.
Vamos também fazer a deslocação de doentes de um sítio para o outro, gerindo as vagas numa perspectiva global. Passamos a ter o somatório de todas as camas disponíveis nas três unidades. Assim aumentamos a capacidade instalada.
“Temos orçamentada a aquisição de um TAC”
G.C.: Acha que faz mais sentido continuar com o CHON do que voltar a ter administrações individuais em cada hospital, como algumas pessoas defendem?
C.S.: A minha opinião é essa, mas mais importante do que a minha opinião, é a decisão do ministério que foi tomada em Janeiro de 2009. Não vale a pena estarmos sistematicamente a discutir decisões que foram tomadas porque senão não fazemos nada.
Pessoalmente, acho que trouxe benefícios para a população. Se Alcobaça e Peniche continuassem a existir como até aqui, dificilmente teriam acesso a determinadas especialidades como vão começar a ter. Dificilmente Alcobaça teria uma área forte de cirurgia do ambulatório se não estivesse integrada no centro hospitalar. Ou tinha ambulatório ou cirurgia geral, mas as duas coisas seria muito difícil conseguir porque não tinha capacidade em termos de infra-estruturas.
Eu acho que um centro hospitalar traz benefícios claros para a instituição e ainda mais importante para as populações.
G.C.: Tem a garantia de que há verbas para a aquisição de um TAC?
C.S.: Estamos na fase final da aprovação do orçamento, mas já temos orçamentado para 2011 a aquisição desse equipamento e toda a reestruturação do serviço de Imagiologia.
Nós temos uma verba limite para investimento e decidimos que o TAC era uma das áreas prioritárias, tal como a remodelação de todo o piso cirúrgico que se irá iniciar em Janeiro.
Esta remodelação é uma obra importante, não só pelo valor envolvido (cerca de um 1,5 milhões de euros), mas também pelo impacto que vai ter ao nível do funcionamento do hospital.
Vamos também actuar ao nível das urgências para fazer a sua reorganização de modo a conseguir prestar melhores cuidados de saúde ao nível das estruturas físicas, desde as salas de espera às casas de banho.
Queremos também readaptar toda a área da Oncologia porque é preciso um espaço mais digno e maior para fazer face às necessidades que temos.
Em Alcobaça vamos adaptar o espaço físico existente para a área da cirurgia de ambulatório.
No hospital de Peniche vamos iniciar a primeira fase da obra de adaptação da área dos cuidados continuados. Em 2011 cada hospital irá ter áreas em que vamos actuar.
G.C.: Existem radiologistas suficientes no hospital das Caldas para a utilização do TAC?
C.S.: Neste momento não. Estão em cima da mesa todas as opções disponíveis: o alargamento do mapa de pessoal ou entregar a gestão do serviço a uma entidade externa. Esta última é uma opção que muitos hospitais tomaram, mas não é a nossa prioridade. Se não conseguirmos atrair profissionais para esta área, temos que recorrer à segunda opção.
G.C.: A situação financeira do CHON é o seu principal problema?
C.S.: Não sei se é o problema principal, mas é um problema muito sério que dificulta a tomada de algumas opções estratégicas.
Por parte do ministério foi feito um esforço importante e significativo para nos transferir extraordinariamente uma verba que nos permitiu cumprir compromissos anteriormente assumidos e posicionarmos para o futuro de uma maneira ligeiramente melhor do que quando cá chegámos.
O ministério está ciente da situação financeira actual e da sua complexidade, tendo demonstrado toda a boa vontade no sentido de colaborar connosco para nos ajudar a resolver o problema.
Mas não se resolve em poucos meses um problema que resulta da acumulação de vários anos.
Vamos ter que dar tempo ao tempo. Estamos esperançados que com calma conseguiremos resolver esse problema.
G.C.: Confirma que o passivo é de 30 milhões de euros?
C.S.: Essa é uma verba interna, mas não é relevante dizer o seu valor. Mas é uma verba muito significativa.
Por isso estamos a trabalhar para conseguir reduzir o passivo no mais curto espaço de tempo.
Estamos a trabalhar a tentar aumentar a produção, ou seja, o número de consultas e de cirurgias, melhorando a qualidade do serviço prestado e reduzindo as listas de espera. Isso vai gerar receitas.
Ao nível da despesa já identificámos áreas onde podemos poupar, racionalizando os custos ao nível do centro hospitalar.
C.S.: Há os cortes que foram publicitados por parte do Ministério da Saúde para todos os hospitais, sobretudo ao nível da massa salarial e das limitações de crescimento noutras áreas, particularmente nos produtos farmacêuticos e no fornecimento de serviços externos.
Mas ainda não tenho os valores finais porque estamos em processo de negociação do orçamento com Administração Regional de Saúde.
G.C.: Um dos membros do Conselho de Administração, Alexandre Farinha, apresentou recentemente a sua demissão. Já foi substituído?
C.S.: Estamos a aguardar a resposta do ministério em relação à pessoa que foi indicada.
G.C.: Qual foi a razão do pedido de demissão?
C.S.: Teve apenas a ver com questões do foro pessoal.
G.C.: Porque é que substituiu uma grande parte dos directores de serviço?
C.S.: Não, isso não é verdade. O que houve foi a manutenção da grande maioria dos directores de serviço em funções.
G.C.: Um dos casos foi o do director do serviço de Cirurgia, António Martins.
C.S.: Julgo que terá sido porventura o único a ser substituído. Mas não foi por nada de especial. Seguimos o princípio de que devem ser responsáveis pelos serviços as pessoas que tenham a posição mais elevada na carreira profissional.
G.C.: Foi também por causa disso que a anterior directora do serviço de urgência do hospital de Alcobaça, Florbela Silva, foi substituída?
C.S.: Não. O que nós fizemos foi outra coisa. No CHON passou a haver apenas um director de serviço do centro hospitalar. Deixou de haver um por cada hospital. Obviamente com coordenadores em cada um dos pólos.
G.C.: No caso da médica Florbela Silva, pediu a exoneração do lugar de médica anestesista.
C.S.: O que tem havido é alguns profissionais de saúde que, por razões do foro individual, tomam opções relativamente à sua actividade. Há pessoas que entendem que devem desenvolver a sua actividade no sector privado ou noutros hospitais que lhes permitam ter melhores condições de trabalho ou até financeiras.
Já houve outras pessoas que o fizeram por motivos que têm a ver com a sua vida pessoal.
G.C.: O hospital de Alcobaça ficou apenas com um médico da especialidade.
C.S.: O anestesista foi integrado no serviço do CHON, que tem a tempo inteiro um anestesista em Alcobaça e se necessário for, terá mais. A partir do momento em que se iniciar a cirurgia de ambulatório em Alcobaça, vai ter que haver deslocalização de anestesista para esse hospital.
“Vai haver quase três hospitais novos, com infra-estruturas completamente remodeladas dentro de algum tempo“
G.C.: Acha que é melhor construir um hospital novo nas Caldas ou fazer a ampliação do existente?
C.S.: Eu estou a representar o CHON e a minha opinião pessoal não é relevante. Há uma decisão do Ministério da Saúde relativamente a essa questão, que passa pela remodelação de quase todo o edifício o que, na prática, significa quase um hospital novo. Depois pretende-se também desenvolver um pólo com melhores condições em Alcobaça e a readaptação total do hospital de Peniche.
Vão ser quase três hospitais novos, com infra-estruturas completamente remodeladas dentro de algum tempo.
G.C.: Como gestor hospitalar acha que faz sentido investir em três hospitais, em vez de construir um novo hospital de maiores dimensões?
C.S.: É sempre preciso considerar todas as variáveis e uma delas é o contexto económico-financeiro em que vivemos. Como não tenho conhecimento de todas as variáveis envolvidas, não posso responder directamente à sua pergunta.
Mas se houve uma opção estratégica do ministério é porque foi tomada com base em dados concretos e tendo em conta todas as variáveis.
G.C.: Em que ponto está esse processo?
C.S.: Relativamente à ampliação e remodelação total do hospital das Caldas, há um gabinete de arquitectura que está a trabalhar no projecto e no final do primeiro semestre de 2011 poderemos avaliá-lo.
Em Peniche já foi entregue um projecto e a primeira fase das obras irá iniciar-se durante o primeiro semestre do próximo ano. Será a remodelação completa da actual estrutura física e da própria organização interna do hospital.
A primeira fase tem a ver mais com o piso térreo e a relocalização das consultas e da farmácia.
A ARS está também a desenvolver os esforços necessários para avançar com o projecto de Alcobaça.
G.C.: Relativamente ao grupo de trabalho do ISCTE que está a estudar a questão do termalismo, já tem alguma novidade? Qual é a sua sensibilidade em relação a esta matéria?
C.S.: Se foi criado um grupo de trabalho para fazer um trabalho, devemos deixar que o façam de uma forma autónoma.
Participei em duas reuniões, onde foram pedidas algumas informações adicionais que nós demos.
Não sei qual vai ser a proposta final, que está previsto ser apresentada no final de Janeiro. Depois discutiremos e avaliaremos aquilo que vai ser proposto.
Neste momento estamos a trabalhar no sentido de adaptar do hospital termal vir a poder prestar melhores cuidados de saúde.
G.C.: Quando foi convidado para este cargo sabia que tinha a particularidade de ter o único hospital termal público do país?
C.S.: Sabia. Não tinha era consciência de todo o património que o centro hospitalar tem a seu cargo. Mas isso é uma das componentes mais interessantes do desafio que me propuseram.
Gostaria muito, no futuro, de associar o termalismo aos cuidados clínicos. É uma vertente que não existe em Portugal e só aqui pode ser implementada porque é a única instituição que tem essa possibilidade.
Julgo que pode ser uma diferenciação, em termos do Serviço Nacional de Saúde, muito interessante no futuro para o CHON. Tudo faremos para implementar essa associação, mas teremos que aguardar pela proposta do grupo de trabalho.