Há um interesse crescente pelas espécies autóctones para os jardins

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As espécies autóctones estão na moda e trazem vantagens sustentáveis, pois requerem pouca água e menor manutenção

As espécies autóctones estão na moda e trazem vantagens a quem as prefere plantar nos seus jardins. É o que afirma João Gomes, o proprietário da empresa Sementes de Portugal, sediada nos Silos, nas Caldas da Rainha. A firma é especializada em sementes de flora silvestre, isto é, espécies que se adequam ao clima mediterrânico e, como tal, não necessitam de muita manutenção nem de muita rega, pois “fazem parte da flora que nos rodeia estão um pouco por todo lado”.

Segundo o responsável daquela empresa, que se instalou nas Caldas há quatro anos, “há um interesse crescente dos clientes em ter jardins mais naturais que atraiam mais insetos e mais pássaros”, referiu o especialista, que há alguns anos decidiu trocar o mundo financeiro pelo da botânica.

A arruda, as murtas, o sabugueiro, a esteva e as giestas são espécies que ganham maior visibilidade entre quem prefere jardins mais naturais. Mas há também quem prefira as herbáceas – como a papoila ou os malmequeres.

“Portugal está a acompanhar o que se está a fazer noutros países europeus como Espanha, Itália, França ou Alemanha, que é obter ganhos pela utilização de espécies autóctones mais sustentáveis e menos exigentes na manutenção”, disse João Gomes, acrescentando que as autóctones, ao contrário das espécies que se encontram à venda na maioria dos gardens centers – que são exóticas ou de interior -, “não necessitam de grandes quantidades de água nem de fertilização”. Por se adaptarem bem aos climas onde vivem, estas espécies vivem bem com cuidados mínimos.

RELVA SUBSTITUÍDA POR PRADOS. João Gomes dá mais um exemplo prático: os tradicionais relvados (muito dependentes de sistemas de rega e de consumos elevados de fertilizantes, herbicidas e inseticidas) estão a ser substituídos por prados floridos (herbáceas e flores autóctones) “que têm um aspeto natural e ainda incluem flores silvestres”.

Estes prados têm relva verde todo o ano e é um pouco mais alta que a convencional, pois não é aparada com a mesma frequência. No verão, estes prados floridos têm que ser roçados. As espécies autóctones, além de também terem interesse ornamental, “estão adaptadas aos solos e suportam períodos longos sem chuva”, referiu o empresário, que recorda como é imperioso reduzir os custos com água e da manutenção relacionada com os espaços verdes.

AUTÓCTONES E LEGUMES NAS VARANDAS. As plantas aromáticas e medicinais são apenas uma parte da enorme diversidade de espécies que compõem a flora autóctone e silvestre nacional. São cerca de 4000 espécies e que apresentam potencial para serem utilizadas não só no jardim, mas também na horta ou nas varandas.

“Com o confinamento, muita gente voltou a semear em canteiros e floreiras”, disse João Gomes explicando que a borragem, as maravilhas de jardim, papoilas e os malmequeres podem ser plantadas s em floreiras que tenham alguma profundidade.

Também espécies como a murta, o alecrim, o rosmaninho, o funcho ou a erva-gateira também podem ser criadas nas varandas dos apartamentos.

DAS CASAS DOS AVÓS. Nas áreas urbanas, João Gomes nota ainda que entre quem quer apostar em semear, há uma procura por “recordar e querer ter as espécies que existiam na casa dos avós”. São os casos, por exemplo, do cardo leiteiro, da erva de S. João ou ainda o verbasco. Algumas destas espécies que hoje são plantadas nas varandas das cidades possuem também propriedades medicinais com alguns benefícios para a saúde e, por isso, procuradas por quem as quer plantar.

“Há também quem aposte em ter pequenas hortas possíveis nas varandas”, disse o especialista acrescentando que hoje há atualmente agricultores urbanos que já conseguem produzir nas suas varandas algumas espécies como alfaces, rabanetes, curgetes e também tomates. E nas suas floreiras também não faltam as ervas aromáticas como a salsa, os coentros ou a hortelã.

João Gomes referiu também que muitas pessoas estão a apostar num modo de produção doméstica, em tempos em que a atualidade exige que todos tomem medidas que apostem na sustentabilidade, na proteção do ambiente e na poupança dos recursos.