Hospital e hotel serão aquecidos por geotermia

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O grupo de participantes que foi conhecer os furos das águas termais, existentes na Mata Rainha D. Leonor

Jornadas do Património nas Caldas incidiram sobre a importância das águas termais que, devido à temperatura que atingem, podem ser usadas para projetos de aquecimento e de climatização.

A partir do próximo ano, será feito o aproveitamento geotérmico para o aquecimento e climatização do hospital termal. Quem o assegura é José Martins de Carvalho, especialista em geotermia e que acompanha as águas caldenses desde 2011. É também o diretor técnico da concessão termal das Caldas e que guiou a visita à Mata, “Caminhos das Águas” que decorreu a 24 de setembro e fez parte da programação das Jornadas Internacionais do Património, subordinadas ao tema “Património Sustentável”.
Ao todo, um grupo 25 pessoas quis conhecer melhor os furos de água termal das Caldas, localizadas naquele espaço verde. “É preciso garantir que a água mineral natural tem que ter as suas caraterísticas constantes e também tem que ser bateriologicamente pura”, afirmou o geólogo.
O guia desta visita especial recordou que a água termal é proveniente da chuva, que se infiltrou nas rochas calcárias da Serra de Aire e Candeeiros. Esta água, que atinge profundidades de 1.800 metros, contacta com rochas arenosas do Jurássico Superior e com rochas argilosas do Triássico Superior e a Jurássico Inferior. Antes de chegar à superfície, estas águas têm de percorrer muitos quilómetros, num percurso que demora milhares de anos. O trajeto, profundo e subterrâneo, permite que esta água “atinja temperaturas próximas dos 70 graus”, disse Martins de Carvalho acrescentando que esta água é um verdadeiro milagre da natureza, pois tem características específicas, consagrada na lei e a Câmara das Caldas da Rainha como concessionária” tem a obrigação de a o dever de proteger, desenvolver e captar”.
Ao longo da visita, o guia foi explicando que a água termal das Caldas “emerge naturalmente e é captada em furos”. “Chega à superfície a temperaturas de cerca de 35º graus e com caudais de descarga natural de 10 litros de água por segundo”, disse Martins de Carvalho, que ainda acrescentou que esta capacidade pode ser triplicada.
Na sua opinião, a sustentabilidade das termas das Caldas “está assegurada” e o especialista entende, ainda, que se poderá tirar mais partido da mesma.
Segundo o diretor técnico da concessão, a Direção-Geral de Energia e Geologia aprovou recentemente a execução de um projeto de climatização do hotel, que se vai instalar nos Pavilhões do Parque e também no balneário terma.
“Creio que dentro de três a quatro anos será possível instalar este projeto de aproveitamento”, afirmou o geógrafo. Será possível tirar proveito do calor que existe no subsolo, mas é preciso usar-se bombas de calor geotérmicas. É, pois, possível a produção de energia a partir do vapor de água de origem geotérmica. Ou seja, em breve, haverá na cidade termal edifícios aquecidos com o calor da terra.
Durante aquela visita, José Martins de Carvalho explicou que a Mata e o Parque são “um importante tampão na proteção às captações de água”. Na Mata, por exemplo, não se pode cortar árvores “sem que haja pareceres prévios de autorização”.

Provar águas no Hospital
Depois da visita aos furos de águas, os participantes dirigiram-se ao Hospital Termal para visitar a Piscina da Rainha, um local simbólico onde há anos já não é possível fazer tratamentos.
Além do convite para conhecer os tratamentos termais recentemente reativados, o diretor clínico do Hospital Termal, António Santos Silva, convidou os participantes a fazer uma especial prova de águas.
Era preciso distinguir a água da rede e da água mineral natural. Para realizar a prova era preciso ter em atenção o cheiro, se visualmente havia diferença no líquido incolor e, por último, comparar o sabor.
O diretor clínico chamou ainda a atenção para o facto de terem sido usados copos graduados, recordando que esta é uma água-medicamento e, como tal, não pode ser tomada em grandes quantidades. A água mineral das Caldas foi rapidamente identificada, pois como possui entre outros elementos como os carbonatos, o cloreto de sódio e elementos sulfuretados. Estes últimos tornam o cheiro e até o sabor rapidamente diferenciável da água da rede que não tem cheiro, nem nada no sabor que a distinga.
Recorde-se que a água termal das Caldas, devido a todas estas características, continua a ser recomendada para o tratamento das doenças do aparelho respiratório, reumáticas e também músculo- esqueléticas.
Após a visita ao Hospital Termal, o Céu de Vidro ainda recebeu uma conversa dedicada ao tema “Água, Património Sustentável”.
A partilha foi moderada por José Martins de Carvalho, e contou com Miguel Silva (coordenador executivo do aspiring Geoparque Oeste), Samuel Rama (ESAD.CR) e da vereadora da Cultura, Conceição Henriques.
A água foi analisada como recurso hídrico e também sob o ponto de vista cultural, filosófico e até poético pois a autarca caldense até declamou um poema de António Gedeão dedicado a este líquido tão precioso e que já escasseia em vários locais do mundo.
Ainda de regresso à água termal caldense foi referido que é preciso dar a conhecer ao público em geral “esta água mineral natural que é na verdade um dos principais pilares do termalismo”, referiu o geólogo, sempre muito preocupado em sublinhar que esta é uma água medicamento e que tem que se assegurar “que chega cá abaixo ao hospital nas melhores condições”. Para Miguel Silva, do Geoparque, os aspetos culturais são igualmente “fundamentais para atrair mais gente às termas das Caldas da Rainha”.
“Temos uma água jurássica, com características próprias e que estão envoltas num misticismo ancestral”, referiu o responsável. Conceição Henriques sublinhou que o tema da água “é fascinante para muita gente e que é também algo que é muito Instagramável”. Segundo a vereadora, serão programadas mais visitas em volta das águas, assim como outras relativas ao mundo das plantas.