Idosos que vivem sozinhos nas Caldas podem contar com rede de apoio ao telefone e também à janela

0
552
Há seniores nas Caldas da Rainha que vivem completamente isolados nas suas habitações | DR

A pandemia, causada pelo novo coronavírus, acentuou o isolamento em que vivem muitos idosos em Portugal. Muitos estão longe dos seus familiares e com o agravamento da situação por causa da Covid-19 “o voluntariado pode ser uma boa ferramenta no combate ao isolamento”, disse Gabriela Galeão, coordenadora técnica do projeto CLDS 4 G das Caldas da Rainha da Misericórdia local. A técnica responsável acrescentou que, neste momento, há programas específicos para apoiar a população sénior que vive em situações sociais mais frágeis. Estas iniciativas estão prontas para receber voluntários como também é preciso que haja quem ajude “a identificar mais idosos que precisem de apoio”.
Atualmente há pelo menos 11 seniores identificados que vão ser apoiados num programa, que arrancará em breve, e que já conta com seis voluntários de várias idades que já receberam formação específica.
O projeto apenas abrange a cidade das Caldas da Rainha e por isso nesta fase só serão apoiados os idosos que vivem no território das duas uniões da freguesias urbanas. São homens e mulheres com idades acima dos 77 anos e que vivem sozinhos.
Segundo a responsável, são pessoas que já “viviam em situação de solidão e de isolamento, antes da pandemia”. Durante o confinamento obrigatório, a Câmara Municipal das Caldas fez chegar bens essenciais e ainda assegurou idas à farmácia, aos seniores que precisaram.
O município identificou que lhes faltava apoio psicológico e, como tal, aliou-se à Misericórdia que estabeleceu uma linha de apoio psicossocial a esta população.
“Acompanhámos 18 idosos que nos contactavam com bastante regularidade”, contou a coordenadora, explicando que há muita gente que precisava de conversar naquela altura e como tal fazendo longos telefonemas para os técnicos de apoio.
Os apoios “Bom dia” e “Mais Perto” começaram em 2015 e terminaram em 2018. “Como não queríamos deixar os idosos sem apoio, a iniciativa passou a ser coordenada pela autarquia”, contou a técnica explicando que agora o projeto está desde Abril de novo com a Misericórdia caldense.
A iniciativa “Bom dia” prevê apenas apoio através do telefone. O “Mais Perto” envolve visitas presenciais que agora não são possíveis mas que “vão ser adaptadas e feitas com visitas aos utentes à varanda ou à janela”. A entidade caldense está à procura de parceiros – até das áreas tecnológicas – pois a maioria dos idosos não possui equipamentos que permitam fazer, por exemplo, videochamadas.
“Estamos a preparar tudo para poder apoiar esta população sobretudo se a situação em relação à pandemia se agravar”, salientou Gabriela Galeão acrescentando que o voluntariado é por isso “uma ferramenta fundamental”.
Um voluntário tem que ter mais de 18 anos, disponibilizar o seu telefone para fazer as chamadas aos idosos. Terá formação específica e que passar no processo de avaliação que é feito pela Misericórdia local. No projeto anterior os voluntários faziam contactos breves com o objetivo de assegurar que os idosos estavam bem.
“Agora decidimos que os contactos devem ter entre 15 minutos e meia hora com periodicidade de acordo com a disponibilidade do voluntário”, especificou a coordenadora.
O momento do contacto é sempre feito pelo voluntário e há regras a cumprir.
Os idosos identificados e que fazem parte destes projetos são informados que não devem contactar os voluntários pois, se estiverem nalguma situação em que necessitem de auxílio, deverão entrar em contacto com os técnicos da Santa Casa da Misericórdia local onde há técnicos com formação específica para os atender e poder avaliar a situação.

Testemunhos


“Há coisas que não deveriam acontecer…”

 

 

 

Carlos Coutinho
Voluntário

“Mexeu comigo quando, em dezembro último, ouvi na televisão uma notícia de um idoso que tinha morrido há vários dias e ninguém tinha dado por nada. Apenas porque vivia sozinho e sem apoio familiar passou muito tempo até que os vizinhos viram que havia algo não estava bem, por causa do cheiro.
Foi algo que me chocou verdadeiramente e que não deveria ter acontecido. Como tal, sugeri que sob a coordenação de uma instituição de carácter social, pudéssemos constituir uma rede de apoio para aqueles que estão completamente isolados, longe da família ou que já não têm ninguém. A sugestão foi aceite pela Misericórdia das Caldas e foi possível começar a desenvolver este projeto de apoio. Há programas que apoiam os mais velhos recorrendo ao telefone e há outro programa que implica visitas presenciais. Quem quer ser voluntário recebe formação especifica sobre comunicação telefónica e sobre qual é a forma correta de abordar o idoso, sem que haja intromissão na vida de ambos. Sou voluntário desde 2016 e, no último projeto, prestei apoio a três idosos que ficavam sempre muito felizes cada vez que recebiam as nossas chamadas!

Os telefonemas são essenciais para aos assegurar que estão bem

Fazer-lhes alguma companhia é algo muito gratificante.
Antes a durabilidade das chamadas era curta mas agora já sei que serão mais demorados. Há muita gente que precisa de conversar um pouco pois o seu quotidiano é viver só, sem companhia. Muitos gostavam que as chamadas fossem mais longas.
Nas suas partilhas contam as suas histórias partilham muitas memórias e contam como era a vida e o quotidiano de quando eram mais novos. Alguns contam que também gostavam de ajudar o próximo. Hoje são estes seniores que vivem na cidade das Caldas que ficaram sozinhos nas suas vidas.
Amanhã pode ser cada um de nós”.


“Prefiro visitar os idosos de forma presencial”

 

 

 

Rita Oliveira
Voluntária

“Há muito que me inscrevi para participar em projetos de voluntariado e já tinha dado o nome em entidades como a Câmara Municipal.
Não sou particularmente fã do telefone, prefiro sempre fazer visitas presenciais. Antes da pandemia era possível ir a casa dos idosos, conversar um pouco com eles e até cheguei a fazer caminhadas cm alguns dos utentes. As visitas presenciais são sempre feitas por duplas de voluntários. No ano passado gostei muito de estar presente na vida de dois seniores . é uma experiência que recomendo. As visitas eram feitas de 15 em 15 dias e são muito gratificantes”.


“Ao telefone consigo resolver tudo!”

 

 

 

Maria Margarida Menezes
Voluntária

“Tem sido uma experiência muito gratificante. É bom poder fazer a diferença na vida das pessoas. Faço voluntariado ao telefone e costumo dizer que utilizando este meio para comunicar, consigo resolver tudo! para mim é muito fácil criar empatia com pessoas de várias idades e como tal gosto de poder ajudar. Não custa poder fazer companhia a quem precisa. Há pessoas que, como vivem sozinhas, estão ansiosas de ter alguém com quem conversar. É bom poder partilhar as histórias da sua vida e falar sobre o que as preocupa. É algo que faço com gosto e, assim que o programa recomeçar, vou retomar as chamadas telefónicas”.