Imigração é via para resolver demografia e falta de mão de obra

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A primeira de uma série de 12 tertúlias pelos 120 anos da ACCCRO realizou-se no Café Concerto do CCC

Língua e costumes são barreiras culturais e falta uma verdadeira política de imigração

A imigração é a solução imediata para os problemas da demografia e da falta de mão de obra em Portugal, mas há muito para fazer de modo a dar as melhores condições, tanto para acolher e integrar as pessoas, como para facilitar a sua contratação pelas empresas. Estas foram as principais conclusões da primeira de uma série de 12 tertúlias com que a ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste está a assinalar o 120º aniversário.
A falta de mão de obra é um problema transversal aos três setores de atividade, salientou Luís Gomes, presidente da ACCCRO, na abertura da sessão. No entanto, esta questão não se esgota no emprego. “Estamos a falar de pessoas e é necessário fazer um trabalho de integração, para que possam viver na região, ter filhos e a sua vida social”, afirmou, dando, assim, o mote, para o debate de ideias.
Conceição Henriques, vereadora do Município das Caldas da Rainha que faz parte do quadro do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), lembrou que a migração sempre representou, ao longo da história da humanidade, fator de desenvolvimento das nações. “As populações saem em busca de uma vida melhor, mas hoje também em busca de experiências diferentes”, sustentou.
Portugal, que no seu historial foi um país emissor, desde os descobrimentos à diáspora, é hoje um país recetor “de pessoas que contribuem para a construção de um país em crise demográfica e que precisa de mão de obra”, apontou.
Mas não é uma questão de fácil gestão e que promove desequilíbrios. “África está a dar formação a uma boa parte da sua população e sabem que vai sair, como a nossa população jovem está a diferenciar-se e a sua saída causa prejuízo”, argumentou.
Esta mudança de paradigma em Portugal não vem sem problemas. A começar pelas questões regulamentares, porque Portugal ainda não tem, “mas deveria ter”. “É necessário criar canais legais de migração, que permitam às pessoas virem para Portugal com um contrato de trabalho e com garantias de que são bem integradas”, afirmou a vereadora, acrescentando que é fundamental envolver no processo as embaixadas, nomeadamente na questão da atribuição de vistos de trabalho.
Vistos que são outro dos problemas do foro legal. Conceição Henriques disse que a maioria dos migrantes chegam a Portugal com um visto de turismo “e dificilmente conseguem legalizar-se”. Isto leva de volta à falta de uma política de migração no país, que abre a porta a redes de angariadores de mão de obra ilegal.
Além disso, esta questão leva a problemas graves no dimensionamento dos serviços de saúde, educação e finanças, mas também ao nível da habitação.
Se é preciso criar as condições ideais para que as empresas possam acolher imigrantes nos seus quadros, torna-se igualmente necessário criá-las para que possam ser bem acolhidas na comunidades em que se integram.
Daniel Pinto, diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, defendeu que “a educação poderá ser uma das chaves para abrir caminhos para tolerância e crescermos em conjunto”.
Da mesma escola participou no evento Nathan Marcelo, angolano de 27 anos que frequenta o Curso de Gestão de Turismo. Vindo de uma região do país onde a fome é um problema crescente, tem feito uma série de ações de formação com o objetivo de “crescer e desenvolver as nossas comunidades”. Escolheu a EHTO porque ganhou interesse pelo turismo internacional e um amigo lhe indicou a escola e elogiou o acolhimento que teve. “O sorriso é a forma universal de acolhimento e foi o que encontrei na escola”, disse.
Foi isso que encontraram também os empresários Anna Filyuk, Betty Coulange, Yannick Le Berre e Yaroslava Pernay, que vieram para as Caldas, uns em turismo, outros para trabalhar, e acabaram por criar os seus negócios.
Das suas experiências, apontam como dificuldades a barreira linguística, mas também cultural. Anna Filyuk, responsável pelo projeto Babuska, referiu que “não basta dar trabalho aos pais. Trata-se de famílias e não basta ensinar a falar, é preciso ensinar os hábitos, as “rasteiras” da língua portuguesa”, apontou, acrescentando que é necessária uma escola de integração cultural. É dentro desta temática que surge o kit de acolhimento ao imigrante, do qual Patrícia Oliveira falou no evento.
O que estes empresários não duvidam é da mais-valia que os migrantes trazem às empresas. “São pessoas com outra cultura, outra mentalidade de trabalho e vontade de aprender”, nota Betty Coulange. ■