Trata-se da primeira de três fases de um projeto de valorização que ascende a cerca de cinco milhões de euros
Mandado construir pela rainha D. Catarina de Áustria em 1573, depois dos representantes da vila se terem queixado de problemas no abastecimento de água, nomeadamente, a distância da fonte mais próxima, o preço de venda da água e a falta de segurança para as mulheres que iam buscá-la, o aqueduto da Usseira é um dos ex-libris de Óbidos. E, embora se trate, “tanto quanto se sabe”, do único aqueduto mandado edificar por uma rainha em Portugal, tendo em conta que Óbidos integrava as terras doadas às rainhas, e classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1962, há 80 anos que este monumento não recebia qualquer intervenção de manutenção. Está agora a decorrer uma intervenção de desmatação, que pretende voltar a torná-lo visível em toda a sua extensão, reduzir ao máximo a sua degradação através da vegetação e criar as condições para a realização de um levantamento topográfico do mesmo. Esta é a primeira fase do projeto de recuperação e valorização do aqueduto enquanto património histórico material do município. Esta intenção foi apresentada publicamente, em outubro passado, pelo executivo, que, assim, pretende “reabilitar e tornar visitável este património importante, que já no séc. XVI dava grande importância à água”, explica o presidente da Câmara, Filipe Daniel.
O aqueduto possui seis quilómetros de extensão, entre a Usseira e a vila de Óbidos. A desmatação, que está a ser efetuada por uma empresa do concelho, deverá terminar no final do mês, seguindo-se o levantamento topográfico, elaboração do caderno de encargos e execução de um projeto de reabilitação e recuperação, para candidatura a fundos comunitários de reabilitação patrimonial.
O estudo prévio desenvolvido pela NCREP – Consultoria em reabilitação do edificado e património, apresentou uma estimativa de investimento de cinco milhões de euros, divididos em três fases. “Prevemos que será custeada ao abrigo de medidas de financiamento comunitário de recuperação de património e reabilitação urbana”, explica Filipe Daniel, acrescentando que o restante valor será suportado pelo município, “caso não se consiga garantir mais financiamento”.
Primeiro registo em 1573
O registo mais antigo relativamente ao aqueduto continua a ser o “Titulo e Contrato que a Camara da Villa de Obidos fes com a Senhora Rainha Dona Catherina sobre a Varzea que esta junto a ditta Villa”, em 1573. O documento mostra que a rainha assumiu a despesa da construção do aqueduto em troca da cedência da Várzea do Mocharro, por parte da Câmara de Óbidos, passando posteriormente a chamar-se Várzea da Rainha. Outros documentos revelam que a conservação do Aqueduto estava a cargo da Casa das Rainhas, que enviava anualmente 8.000 réis para a Câmara de Óbidos aplicar nos trabalhos necessários. Noutro registo de meados do séc. XIX, surge a história da fundação da ermida de Santa Iria, em que os trabalhadores durante a obra de construção do Aqueduto terão prometido edificar uma capela ao santo, em cujo dia a obra ficasse completamente acabada, e que tal veio a suceder no dia 20 de Outubro (dia de Santa Iria). ■