João Matias fez história no Portugal Fashion

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A família esteve presente no desfile do Portugal Fashion
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O beneditense tornou-se no primeiro modelo em cadeira de rodas num dos maiores eventos de moda do país

João Matias tornou-se, recentemente, no primeiro modelo português em cadeira de rodas a desfilar no Portugal Fashion, um dos maiores eventos de moda a nível nacional. “Foi o concretizar de um sonho e de uma caminhada de dez anos no mundo da moda”, disse o beneditense à Gazeta das Caldas. “Enquanto modelo este era o sonho maior, desfilar num dos dois maiores eventos nacionais, ou o Portugal Fashion ou o Moda Lisboa”, frisou o jovem, que desfilou pela marca Marques Almeida depois de ter concorrido a um casting. “Sempre lutei para não ser visto como um modelo especial, mas sim como mais um”, assevera.
A caminhada na moda iniciou-se há cerca de 12 anos. “Sempre fui autónomo”, explica, apesar da doença congénita (Spina Bifida). “Desde pequeno que tive o gosto em vestir-me bem e em utilizar diferentes penteados, tenho uma doença de nascença, mas sempre tive uma boa auto-estima”, recorda o jovem, de 34 anos, que sempre apreciou o mundo da moda.
A oportunidade de desfilar com uma amiga em Sesimbra, num desfile de moda inclusivo, levou ao convite para fazer um book com um fotógrafo profissional. Depois, foi chamado para três agências. No book, com fotos de corpo inteiro, não mostrava a cadeira de rodas, porque não fazia sentido. Chegou à entrevista e até viu o diretor da agência no 1º andar, mas a secretária disse-lhe que este não estava. Mas não desistiu e acabou por entrar numa agência, onde esteve cerca de cinco anos. “Fiz o percurso normal, com muitas pedras pelo caminho”, sublinha. A sua maior inspiração foi o modelo brasileiro Fernando Fernandes (também em cadeira de rodas), que conheceu nesse primeiro desfile e que o motiva a tentar perseguir o sonho. Hoje são amigos.

Um dia para recordar
O desfilar no Portugal Fashion foi, obviamente, um dia para recordar, para este jovem que tem conquistado os sonhos e quebrado as barreiras do preconceito.
Dos bastidores, antes do desfile, João Matias recorda que “sentia o nervosismo que advém da responsibilidade do momento, estava a representar uma marca internacional que está a celebrar o 10º aniversário, pela primeira vez, numa passarelle de renome”.
A família esteve sempre presente e o beneditense nunca os esquece e também não se cansa de lhes agradecer. Nesta data especial fizeram questão de ir juntos, em família. “Teve um simbolismo especial”, diz o jovem que já nem acreditava muito neste sonho de modelo. “Estava mais focado na minha agência do que na minha carreira de modelo”, explicou, notando que o último trabalho tinha sido um videoclipe de Zé Manel, antigo vocalista dos Fingertips. “Este desfile deu um novo alento para tentar mais coisas como modelo”, nota. É que, há já quatro anos João Matias fundou a própria agência, a Bound Management, na qual é diretor e booker. Uma curiosidade é que, desde então, a Benedita, onde o modelo nasceu e reside, é a sede de uma agência de moda e de talentos.
Uma feliz coincidência é que este mesmo desfile marcou também a estreia neste papel nos grandes desfiles. Antes de si, desfilou na passarelle uma modelo da sua agência, que conta atualmente com cerca de 20 agenciados.
Em 2016 foi lançado um documentário sobre João Matias, realizado por Alberto Rocco. “Born to Fly” (em português, nascido para vencer) foi agraciado com menções honrosas nas categorias de Documentário Internacional e Cinematografia no festival internacional de documentários independentes de Hollywood e ganhou duas menções especiais do júri nas categorias de Melhor Documentário Internacional e Melhor Realizador, no festival de cinema independente de Los Angeles. “Gostaria de fazer mais coisas, como um livro autobiográfico, mas gosto de fazer as coisas em conjunto”, refere.
Outra particularidade, é que no 10º ano, escolheu a área de Desporto, que finalizou com 17 valores, tendo sido o primeiro paraplégico português a efetuar e com sucesso um curso de desporto, antes de se formar na área da Comunicação & Multimédia. Ao longo da vida, praticou vários desportos, como surf adaptado, natação, voleibol, equitação, hóquei e foi federado cinco anos em basquetebol em cadeira de rodas. Atualmente faz ginásio “por gosto e para manter fisicamente”.
“Quero fazer o curso de treinador de futebol ou então de hóquei em patins”, garante o beneditense, que é sócio do HC Turquel e acompanha o clube e que também se interessa pela política: nas últimas autárquicas, foi o número 4 da lista do CDS/PP à Câmara de Alcobaça. Na cadeira de rodas tem a “melhor amiga”. E porquê? “Porque é ela que me leva onde alguns dizem que é impossível ir”. ■

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