A mudança da Praça da Fruta para outro local é algo que muito preocupa os comerciantes dos estabelecimentos que rodeiam o tabuleiro calcetado, que agora será intervencionado. Alguns temem até o encerramento das lojas e queixam-se que será grave retirar os poucos lugares de estacionamento que há nas imediações. Para tentar evitar maiores prejuízos pedem que o mercado diário se possa realizar o mais próximo possível do seu lugar original, enquanto decorre a intervenção.
Por seu lado, quem vende quer boas condições para continuar a exercer o seu trabalho, afigurando-se o parque de estacionamento junto à OesteCIM como a melhor solução.

“Nunca será benéfica a saída da praça, inclusivamente alguns de nós estamos a ponderar fechar… logo se vê durante o decorrer das obras”. Palavras de Rogério Ribeiro, proprietário do estabelecimento José Ribeiro e Filhos, Lda, situado mesmo na Praça da República. Para este empresário do ramo da retrosaria, a intervenção neste local “é necessária já há muito tempo, mas o problema é enquanto decorrem as obras…” que, em seu entender, deverão ser o mais rápido possível.
“De qualquer modo isto já está muito parado, muito fraco e com mau aspecto”, disse.
Entre as opções para os locais alternativos da realização da Praça “talvez o menos mau seja ao pé do Chafariz das Cinco Bicas porque essa escolha faria com que as pessoas continuassem a circular por este local”.
Para Rogério Ribeiro as obras “já deviam ter sido feitas”, e já que não foram, então que a praça “fique o mais próximo possível”. Este empresário ainda chamou a atenção para o facto da intervenção programada retirar o pouco estacionamento que ainda resta. “Já não há lugares para pôr os carros e se tirarem o resto dos poucos lugares, o problema ainda se agravará mais”, rematou.
Já para Paulo Cordeiro, proprietário do Café Bocage, o período das obras “vai ser muito prejudicial, até porque apontam para uma estimativa de no mínimo de seis meses”. Este comerciante diz que tem conhecimento de outras cidades onde decorreram processos similares que “foram muito prejudiciais”. Por isso, teme que nas Caldas, até as obras estarem concluídas, “as pessoas criem outros hábitos e comecem a frequentar outros sítios”.
Para este empresário, a intervenção trará mais condições para a praça, mas “importa saber o que vão fazer”.
Outra questão que o preocupa é a falta de estacionamento pois ouvi dizer “que o que existe também será retirado e é óbvio que é essencial que haja aqui locais para estacionar os carros”.
Paulo Cordeiro congratula-se com a existência do parque de estacionamento do CCC, mas para quem quer utilizar todos os dias “acaba por pesar muito no orçamento ao fim do mês”. O empresário acha que o parque pré-existente ao centro cultural “faz muita falta”. O empresário possui outro estabelecimento no Eleclerc, que tem um parque de estacionamento e as pessoas “vão lá almoçar porque estacionam por perto”.
Na sua opinião, esta reestruturação “não é uma coisa de fundo e parece-me algo que parece ser mais do mesmo”, disse o empresário da restauração, acrescentando ainda que se a cidade “tem tanto orgulho no facto de possuir um mercado diário ao ar livre, então este merecia maior valorização”. Paulo Cordeiro defende que na praça deveria existir melhor mobiliário e bancas, dando assim alguma uniformidade aos equipamentos de venda.
Vendedeiras querem melhores condições no tabuleiro
Sandra Ribeiro vende produtos hortícolas todos os dias na Praça da Fruta. Tem clientes fixos e considera que se houver informação “as pessoas vão para onde estão os vendedores”. Não concorda com a transição para o Chafariz das Cinco Bicas porque nesse espaço “os vendedores não cabem todos”. A comerciante utiliza normalmente 12 metros para venda.
Outra das propostas após a intervenção é a retirada do estacionamento. “Só que nós precisamos de apoio e devia haver alguém a controlar”, disse. Concorda com a existência de um horário próprio para as cargas e descargas, “mas teria que haver alguém a fiscalizar por causa dos prevaricadores”.
A vendedeira tem produção própria e está convencida que depois das obras “a praça ficará muito melhor e há muito que já precisava”. Sandra Ribeiro salientou a necessidade de mais torneiras, de pontos de electricidade e de casas de banho. A comerciante concorda que as obras decorram sobretudo no Inverno.
Fernanda Mendes é revendedora e não está muito preocupada com o local alternativo, mas sim sobre “quais serão as condições que nos vão impor quando regressarmos”.
A comerciante tem algum receio das exigências e refere-se, por exemplo, ao facto de serem uma praça com mercadorias pesadas e não um shopping para se passear. “Os clientes que se aviam para uma semana juntam com muita facilidade mais de 10 quilos, logo o estacionamento é algo essencial e não deverá ser retirado”, afirmou.
Esta vendedeira está também preocupada com o facto de retirarem o estacionamento na Rua de Camões como já ouviu dizer. É que pelo menos ao sábado aqueles lugares serviam para os clientes que iam à praça poderem estacionar. “Se tiram esses lugares não tarda nada ficamos aqui como um centro de exposições”, disse Fernanda Mendes, que usa seis metros para a sua venda.
A vendedeira considera que o local alternativo para a Praça é junto à sede da OesteCim (parque de estacionamento dos Bombeiros) “onde temos mais espaço e condições e não é tão longe do centro da cidade como parece. O Mercado do Peixe funcionou lá bem”. Crê que o comércio da Praça da República se vai ressentir com a saída dos vendedores do mercado até porque “já se ressentiram bastante com a saída do mercado abastecedor”.
ACCCRO quer que os vendedores permaneçam perto da praça
Para a ACCCRO o projecto de regeneração urbana continua a ter poucos lugares de estacionamento na Praça da República e nas ruas circundantes.
De acordo com o presidente desta associação, João Frade, a Praça da Fruta, com a actividade dos seus vendedores, é um dos poucos espaços âncora que restam no centro da cidade. “É esta praça que atrai pessoas, vida e animação a toda aquela zona e ao comércio que a rodeia”, diz, pelo que toda a intervenção neste espaço deve ser alvo de um elevado cuidado, preparação e estudo das possíveis consequências que cada opção acarreta.
Na sua opinião, a retirada “cega” da grande maioria dos espaços de estacionamento, a criação de barreiras, ou a imposição de dificuldades a quem quer ali vender ou comprar, poderá significar o “fim deste espaço e, consequentemente, a destruição da actividade económica no centro da cidade, bem como a perda do seu último ex-líbris”.
João Frade defende ainda que durante o período em que a Praça da República se encontrar em obras os seus vendedores devem ser colocados o mais próximo possível, permitindo a continuidade dos hábitos de consumo desta zona. É também importante que seja estabelecido um calendário rigoroso das obras, de forma a que estas sejam “céleres e que tenham em conta épocas de especial importância para a actividade comercial, como é exemplo o Natal”.
No que respeita ao parqueamento, a ACCCRO defende a existência de parquímetros a funcionar, possibilitando assim a necessária rotatividade de automóveis. Contudo, considera também fundamental que sejam dadas garantias de alternativas gratuitas de estacionamento aos moradores do centro da cidade.
“Se se quer um centro de cidade atractivo para que as pessoas o voltem a habitar e os proprietários invistam na sua conservação, têm de ser acauteladas condições para que as pessoas possam fazer um uso normal dos seus automóveis”, sustenta João Frade.
O responsável chama ainda a atenção para a necessidade de criar aos fins-de-semana uma bolsa de carga e descarga e estacionamento para autocarros de turismo, junto da Praça da Fruta, de preferência atrás do Chafariz das 5 Bicas.